Há cerca de dois anos, motoristas de aplicativo em Juiz de Fora discutem a elaboração de uma plataforma de transporte de passageiros que tenha como ponto de partida as necessidades observadas por eles na lida com as grandes empresas do ramo que hoje atuam no mercado. A principal reivindicação dos condutores é a cobrança de altas taxas, correspondentes a valores de 30% a 40% sobre o preço das corridas.

O modelo juiz-forano, batizado de Up Master, foi inspirado em outra plataforma, que funciona no estado de Rondônia, com uma proposta de tarifa única a ser paga pelos condutores. Os motoristas pagarão uma mensalidade fixa, que, segundo o desejo dos criadores, custaria em torno de R$300. O valor e o lançamento do empreendimento, no entanto, está condicionado às definições sobre a regulamentação da atividade, que ainda é tema de discussão tanto no Executivo, quanto no Legislativo Municipal.

“A ideia é que se o motorista fizer uma corrida de R$20, o valor seja todo dele. Se fizer R$10, R$50, tudo dele. Ele paga apenas uma mensalidade, o que já representa um ganho muito alto para os motoristas. As plataformas descontam cerca de R$2 mil a R$3 mil por mês taxando as corridas. Desse ponto de partida, seria R$1.700 reais, R$2.700 na mão dos motoristas a mais por mês”, descreve João Marcos de Souza, apoiador de motoristas pela Up Master.

As funcionalidades da plataforma são iguais as dos aplicativos existentes para os usuários. As mudanças mais substanciais, conforme explica João Marcos. “O que muda, de maneira mais direta, é que o Up Master é pensado pelos motoristas. Os outros são empresários que investem. Sabemos como é a rodagem, sabemos as necessidades dos condutores, o valor de custo do quilômetro rodado”, explica.

 

FOTO: Arquivo pessoal - Tela do Aplicativo que já está pronto e aguarda definições sobre regulamentação para o lançamento

Com o modelo de tarifa fixa, conforme João Marcos, ocorrem questionamentos sobre o aumento do preço das corridas. Ele detalha, no entanto, que a eliminação da taxa sobre as corridas pode ter o efeito contrário e chegar a reduzir o valor das viagens. “Sem o desconto de 30% a 40% em cada chamada, será possível cobrar menos nas corridas.Hoje, se pega uma viagem  que custa R$40, o motorista fica com R$24 a empresa com R$16. Sem a tarifa, o valor pode baixar para R$30, R$32, o motorista ganha mais e o passageiro gasta menos”, avalia João Marcos.

Segurança como diretriz


A começar pelo cadastro, o sistema é mais rigoroso do que os padrões exigidos atualmente pelas plataformas em operação. João Marcos explica que o motorista para se cadastrar precisa apresentar atestado de bons antecedentes, por exemplo. O passageiro precisa cadastrar uma foto que seja compatível, que será verificada pelos desenvolvedores da tecnologia.


Outros três princípios de segurança são norteadores do trabalho, conforme o gerente da Up Master, Adyr Dias. O primeiro é o uso obrigatório de rádios. Não serão aceitos motoristas cujos carros não tiverem seguro e foi desenvolvido um sistema de rastreamento, pelo qual a plataforma vai acompanhar todos os deslocamentos.

Dessa forma, em caso de algum problema ou situação de risco, o carro poderá ser imediatamente bloqueado. “O trabalho com os rádios permitirá a formação de uma rede de apoio entre os profissionais, que terão um treinamento para o uso correto e adequado da ferramenta. São iniciativas que resguardam o motorista e o passageiro”, garante Adyr.

Outro item que pode colaborar para uma qualidade maior do serviço é a possibilidade de redução das jornadas. Hoje, conforme João Marcos e Adyr, muitos condutores de veículos de aplicativo trabalham de 18 horas a 20 horas por dia. Esse modelo permitirá, de acordo com os dois representantes da Up Master, baixar a quantidade de horas trabalhadas para 8h diárias, com o mesmo ganho. Possibilitando o alcance de metas com maior tranquilidade e que o trabalhador tenha condições de dedicar mais tempo à família, ao descanso e ao lazer.

“Nossa classe costuma ser muito desunida. Ninguém é devidamente reconhecido. Essa é a diferença, trabalhar menos tempo e ter mais qualidade de vida”, projeta Adyr. Nesse sentido, haverá incentivo para que os trabalhadores se tornem microempreendedores individuais (Meis), para que consigam ter algum resguardo.

Após a definição a respeito da regulamentação, há uma outra frente de trabalho dos elaboradores da iniciativa, que visa a apresentar o modelo de negócio às forças de segurança e solicitar uma parceria para que as polícias possam colaborar com os motoristas.

Redução de problemas

Com as soluções pensadas pelos motoristas, há algumas mudanças que podem ser pensadas e problemas que podem ser superados. Como os cancelamentos. “Os condutores vão ver para onde a corrida vai, se tem parada, não vai ter motivo para cancelar. Se por algum motivo aceitou e teve que cancelar, quando chegar no terceiro cancelamento, fica bloqueado por tempo da plataforma”, considera João Marcos.

Para Adyr é possível também modificar a relação com as localidades e atender melhor a população. Ele explica que muitos bairros são evitados, porque são considerados perigosos, ou onde alguns motoristas costumam evitar por problemas de segurança. “Com a rede de motoristas, os rádios e as demais medidas de segurança, será possível atender melhor as pessoas. Esse modelo já funciona em outros locais. Ajudam a mudar o olhar para os bairros. No Norte há anos não são registrados assaltos aos motoristas de aplicativo em função disso.”


Por fim, de acordo com João Marcos, o Up Master terá metas tracionadas, prevê participação nos lucros e apresentação aberta das contas, focando na transparência.

 

 


Arquivo pessoal - Tela do Aplicativo que já está pronto e aguarda definições sobre regulamentação para o lançamento

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