A Cartilha “Expressões racistas: por que evitá-las”, lançada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), completou um ano de lançamento nesta terça-feira (21), data que marca do Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial. A publicação elenca 40 termos, que deveriam ser eliminados do vocabulário dos brasileiros por ofender pessoas negras. Palavras como boçal, crioulo, denegrir e humor-negro, que são empregados com sentido negativo e agridem. A publicação visa a tornar os motivos para abandonar essas palavras didático, a partir da origem e do significado dos vocábulos.

No Brasil, mesmo com a tipificação de crime para atos racistas, as violações continuam ocorrendo. Em Muriaé, uma das ocorrências de destaque do dia foi, justamente, a prisão de um homem por injúria racial.

Todas essas situações provocam efeitos psicológicos profundos na população negra. Para o professor do curso de Psicologia do Centro Universitário Estácio Juiz de Fora, Carlos Eduardo Pereira, é complexo se blindar de efeitos negativos desse tipo de ocorrência. “É muito mais fácil, muito mais simples você perceber quando um amigo faz uma brincadeira e que na verdade ela talvez não tenha uma conotação depreciativa, do que quando uma pessoa estranha faz essa brincadeira. É muito difícil separar. A gente deve aprender a não fazer esse tipo de brincadeira, principalmente nesse momento difícil que a gente está atravessando, de uma tentativa de reconstrução da identidade do negro, uma ressignificação do que isso representa.” O primeiro ponto importante, como salienta o professor, é não brincar dessa forma.

Segundo Carlos Eduardo, os impactos psicológicos começam a ser percebidos na primeira infância, momento da vida em que as crianças começam o processo de socialização. “Com outras crianças na escola e em outros meios, elas vão percebendo que existe uma preferência pelos valores, pelas questões das pessoas de pele branca, e isso vai fazendo com que essas crianças entendam que ter pele negra, a cultura e os valores que são representado pelas pessoas negras em nossa sociedade são como sub valores, ou uma subcultura.”

Desse modo, conforme Carlos Eduardo, as crianças negras começam a aprender que tudo que elas representam têm menos valor. “Então, imagina isso ao longo de todo o desenvolvimento. Crianças, adolescentes e adultos vão desenvolvendo problemas com autoestima, ansiedade e depressão, porque porque existe uma dificuldade de estabelecerem, de fato, uma identidade associada fatores positivos. Realmente essa identidade do negro vai estar associada a fatores negativos que são socialmente construídas”, detalha.
O professor salienta que em função das dificuldades que a população negra vai enfrentar na constituição da própria identidade e da autoestima, ocorre uma maior taxa de transtornos de ansiedade e transtornos depressivos. “O acompanhamento psicológico vai ajudar em duas perspectivas: primeiro, diminuindo o impacto que esses transtornos mentais ocasionam na vida das pessoas e o segundo, ajudando também a construir essa identidade numa perspectiva mais positiva, uma perspectiva mais valorizada.”

Sobre as estratégias que podem ser usadas para o combate ao racismo, Carlos Eduardo salienta que um dos caminhos possíveis é a busca por movimentos de representatividade da cultura e dos valores negros. “Movimentos de afirmação de valores que escapam um pouco a esse eurocentrismo que a gente utilizou na construção de nossa cultura. Então, quando a gente busca esse reconhecimento, a gente busca essa questão da nossa história, do nosso pertencimento, isso diminui a percepção socialmente construída de que a cultura negra é menos valorosa, menos valiosa do que a cultura branca. Isso ajuda muito". Para o professor, esse processo de se informar, se reconhecer e buscar boas referências pode ser um bom primeiro passo, que deve ser seguido por muitos outros, para que o combate ao racismo siga avançando.

O Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial, conforme pontua o TSE, é marcado por um ato que ocorreu no dia 21 de março de 1960, na cidade de Joanesburgo, capital da África do Sul. Momento em que 20 mil pessoas protestavam contra a lei do passe, que obrigava a portar cartões de identificação especificando os locais por onde podiam circular. Os manifestantes foram recebidos por tropas do exército que mataram 69 pessoas negras e feriram outras 186, no Bairro Shaperville . Para lembrar a tragédia, a Organização das Nações Unidas (ONU), instituiu o dia 21 de março como o Dia Internacional de Combate à Discriminação Racial.

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Divulgação Centro Universitário Estácio de Sá - Professor Carlos Eduardo Ferreira aponta que buscar informação e a busca por reconhecer os valores positivos da cultura negra podem ser caminhos para o combate aos impactos psicológicos do racismo

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