O Transporte Coletivo Urbano (TCU) de Juiz de Fora passou por um longo processo de reformulação entre os anos de 2021 e 2022, como o rompimento do contrato com o Consórcio Manchester em setembro do ano passado as linhas foram remanejadas para o Consórcio Via JF, que atualmente é o responsável pelo transporte público no município. Em uma pesquisa realizada pelo ACESSA no Portal da Transparência e também em entrevista com usuários, foi possível verificar a falta de remodelação do sistema, principalmente pós-pandemia.

Segundo a moradora do Bairro Nossa Senhora Aparecida, Ana Paula Rezende, a linha 403, tinha 3 carros antes da pandemia de Covid-19, porém, atualmente só existe um veículo. Nossa reportagem confirmou no Portal da Transparência que em janeiro de 2020, antes da pandemia, a linha realizou 2.823 viagens, já em janeiro deste ano, foram apenas 1024, menos da metade, o que justifica as reclamações recebidas pelo Portal em relação a superlotação e atrasos. Veja no gráfico abaixo.

 

FOTO: - - Gráfico ilustrativo

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Juiz de Fora, porém não houve resposta para os questionamentos. 

Atrasos, superlotação e falta de linhas

Atualmente o Via JF opera toda a frota do TCU no município. Nossa reportagem conversou com usuários sobre os problemas enfrentados no dia a dia, a falta de reestruturação pós-pandemia causa falta de linhas e consequentemente atrasos, segundo a população.

FOTO: - - Linha 620 com superlotação

Dentre vários relatos, a falta de linhas e os atrasos foram os problemas mais relatados. A moradora do Bairro Fontesville, Cláudia Candiá, informou que a superlotação da linha 620 é comum. "Nosso problema é o mesmo há muito tempo, só temos um ônibus rodando, nos horários de pico é impossível conseguir entrar, principalmente quando saio para o trabalho e retorno para a casa. Os veículos também estão cada dia mais velhos e com problemas e tem dias que o carro não consegue nem subir no Fontesville 2", afirma. 

Em relação a essas demandas a Prefeitura também não quis se manifestar.

O ACESSA abriu uma caixa de diálogos com os leitores e recebeu mais de 10 reclamações de linhas em Juiz de Fora, dentre elas, destacamos algumas. Segundo a leitora Mariana Rabelo a linha que atende ao Bairro Recanto da Mata não cumpre os horários determinados. Marize Moreno salientou que os ônibus que atendem a Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) não batem com os horários das aulas. Marina Costa e Wantuil Carcereri informaram que as linhas 239 e 299, não cumprem horários noturnos. 

Mais uma vez o Executivo não quis se manifestar sobre as demandas dos leitores.

O presidente do Bairro São Judas Tadeu, Zona Norte da cidade, informou em entrevista ao Portal que os problemas mais frequentes e que tem nos trazido muitos transtornos tem sido o não cumprimento de horário principalmente no horário de pico isso acontece com todas linhas do bairro, e segundo, ele muitas das vezes chegam a andar em comboio deixando os moradores desassistidos ou no bairro ou no centro.

"Hoje o bairro está com todas as linhas, são elas 725, 723, 747 e 749 de antes do período pandêmico. Outro ponto de grande desconforto são os dias que além de atrasados os carros não passam, deixando os usuários na mão (matam a viagem) e muitas vezes esses fatos acontecem nos primeiros horários ou por conta de defeito ou por conta de falta de funcionários isso é o que muitas vezes ouvimos dos próprios funcionários", completou.  

Ainda segundo Renato, com relação aos horários, ainda não estão como antes da pandemia nos dias de semana. Ele reclama também da falta de limpeza e conservação dos veículos. 

Encaminhamos as demandas para a Prefeitura e não houve resposta.

Acidentes e falhas mecânicas

FOTO: Reprodução internet - Ônibus sofre acidente na Zona Norte

O ACESSA realizou uma análise quantitativa dos acidentes e falhas mecânicas no último ano. Só de março de 2022 a março de 2023, mais de 10 acidentes e falhas mecânicas foram registrados. A reportagem questionou o Executivo sobre a cobrança do cumprimento dos contratos com a Via JF em relação à prevenção de acidentes, mas não houve resposta por parte do Executivo. Veja abaixo relatório de acidentes:

  • 10/03/2022 Passageiros do ônibus 532, linha Caiçaras, precisaram descer após o coletivo não conseguir subir um morro. 
  • 23/03/2022 Dois ônibus quebraram na Avenida Engenheiro Gentil Forn, em Juiz de Fora.
  • 04/04/2022 Um ônibus do bateu no muro de uma casa na Rua Euclides Pezarini, Bairro São Pedro.
  • 04/05/2022 Um ônibus da Linha 519 que atende o Distrito de Torreões, bateu em um muro de uma casa na Rua Nossa Senhora da Penha Torres.
  • 30/05/2022 Ônibus perdeu o freio e atingiu carros na Rua Sady Monteiro Boechat, no Bairro São Pedro.
  • 04/06/2022 Motorista Francisco Venâncio, de 62 anos, morre durante a madrugada em um acidente na garagem da Tusmil.
  • 08/07/2023 Um ônibus caiu em um buraco entre os bairros Fábrica e Esplanada.
  • 30/08/2022 Um ônibus se envolveu em um acidente no Bairro Dom Bosco
  • 27/04 2023 Ônibus fica pendurado após descer morro do Bairro Ponte Preta. 

 O que diz os representantes do Legislativo?

O ACESSA abriu espaço para que o vereadores de oposição e do governo opinem sobre o transporte no município. Nossa reportagem solicitou um posicionamento do vereador João Vagner Antoniol (PSC) e da vereadora Cida Oliveira (PT). 

Em nota a vereadora Cida Oliveira informou que tem percebido que a questão do transporte público no Brasil é um problema crônico e, tem recebido no gabinete pedidos para retorno de linhas, ampliação e correção de horários. "Em relação a isso, constatamos que o número de solicitações teve uma queda este ano. Não temos dúvida que a gestão da Prefeita Margarida Salomão precisa fazer mudanças substanciais, que foram negligenciadas pelas administrações que passaram. Quero dizer, o problema existe, mas não é novo", completa.

A vereadora destacou ainda que chegou a colocar em debate a possibilidade do Executivo assumir as linhas da empresa provisoriamente, em uma espécie de teste, para fazer sua própria gestão - do início ao fim, porém, neste momento a vereadora aguarda o novo modelo que será apresentado pela Prefeitura, mas ainda sem uma data. 

O vereador João Wagner Antoniol destacou que, desde a primeira semana de mandato em 2021 ele enquanto vereador vInha pautando sobre o transporte em Juiz de Fora. "Na época estava ainda na pandemia, resolvendo o que abriria e o que fecharia, nós sempre estávamos falando sobre o transporte público. Hoje estou à frente da Comissão de Urbanismo e Transporte, nós fizemos uma audiência pública e uma reunião na Câmara com os autores do transporte público, com Executivo, empresários e usuários. O transporte na cidade hoje tá longe de ser o ideal, é preciso fazer uma reformulação, esse modelo atual foi criado na década de 70, ou seja, muita coisa já mudou.

Ainda de acordo com o vereador, várias reclamações chegam no gabinete dele, como de falta de horário e superlotação. João Wagner salienta ainda que não sabe até quando a empresa atual sobrevive. "Tivemos duas empresas que quebraram em Juiz de Fora, a Gil e a Tusmil, então não sabemos até quando a Ansal vai aguentar segurar o transporte público, o que tem auxiliado é o subsídio recebido, mas não sabemos até quando isso será suficiente e até quando os cofres públicos irão aguentar subsidiar".

Subsídio 

A lei 14.209 de 2021 que reequilibra o contrato de concessão do serviço de transporte coletivo urbano de passageiros em Juiz de Fora, já repassou R$ 62,5 milhões em subsídio entre julho de 2021 e janeiro de 2023.

Segundo a lei, o subsídio é para reequilibrar o Consórcio afetado principalmente pelos efeitos da pandemia da COVID-19, como também afetado pelo desequilíbrio dos sistemas de transportes financiados única e exclusivamente pelas tarifas pagas pelo usuário e cria o Fundo Municipal do Transporte Público.

Ainda de acordo com a lei, o Executivo está autorizado a conceder subvenção econômica ao usuário do sistema sempre que o montante decorrente da arrecadação da tarifa pública praticada for insuficiente para fazer frente ao custeio e aos investimentos em cobertura e melhorias, conforme definido pelo Comitê Gestor, após regular auditoria e mediante aprovação legislativa na Lei de Diretrizes Orçamentárias anual.

Nossa reportagem questionou o Executivo quais os critérios são utilizados, mas não houve retorno.

Relembre a CPI 

Com sete assinaturas favoráveis, foi decidida na Câmara de Juiz de Fora a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre o transporte público em Juiz de Fora, em novembro de 2018.

O relatório final destacou alguns pontos, como:

  • Que as reposições dos veículos da frota sejam feitas com veículos zero quilômetro.
  • A retirada da incumbência da fiscalização mecânica das empresas, passando para o Poder Público com incorporação à Settra. 
  • Contratação e formação de pessoal para fiscalização de trânsito e transporte.
  • Adequar e tornar mais clara a metodologia de cálculo da idade média dos veículos do transporte coletivo. 
  •  Estabelecer um amplo programa de incentivo ao uso do transporte coletivo, visando o crescimento sustentável da cidade.
  • A realização de uma política de inclusão social no transporte público coletivo do município em favor das pessoas com deficiência e/ou com mobilidade reduzida (idosos, obesos e grávidas).
  • A adequação dos 3.941 abrigos cadastrados na Settra nos termos do projeto básico do edital de licitação.
  • A retomada da sistemática de identificação das cores dos veículos de transporte coletivo em função da região/bairros.

 O relatório final foi apresentado no dia 19 de julho de na Câmara Municipal.


 

 

 

 

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Coletivo | Transporte

Petterson Marciano - ônibus urbano em Juiz de Fora

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