Oficinas, rodas de conversa e leitura, workshops, apresentações musicas e uma marcha pelas ruas do Centro da cidade estão distribuídas pela programação da segunda edição do "Julho das Pretas". A iniciativa tem atividades a partir da sexta-feira (30), entretanto, a abertura oficial do evento ocorre no domingo (2), das 13h às 20h, no Teatro Paschoal Carlos Magno. O evento tem entrada gratuita e contará com presentação de musical de Sil Andrade, contação de histórias com o grupo Nzinga, apresentação do Projeto Entre Passos e Toques- Olhos do Sagrado Feminino, palestra com Thainá Briggs, com o título "Afinal, e eu? Não sou uma mulher" e performance "Geledés". A abertura conta também com feira de livros e a entrega de diplomas que levam o nome da escritora Conceição Evaristo às mulheres pretas que são representação de quilombos em suas comunidades.

O Julho das Pretas é uma construção conjunta do Fórum de Coletivos e Mulheres Feministas de Juiz de Fora (Fórum 8M-JF) que visa a estabelecer uma agenda propositiva, com protagonismo das mulheres pretas de Juiz de Fora, com o intuito de celebrar e marcar o Mês Internacional da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha. A programação foi pensada coletivamente ao longo dos meses de março, abril e maio.

O fio-condutor da programação é a frase da escritora Conceição Evaristo: “Na voz da minha filha se fará ouvir a ressonância, o eco da vida-liberdade”. Com isso, a programação contempla a superação de desafios e problemas no presente, para que mulheres negras e seus filhos possam ter acesso a um futuro sem as marcas do preconceito e da discriminação tão presentes na sociedade.

Nesse sentido, a  empreendedora do crochê, Simone Dwlyene Gonçalves Duarte,  participante da construção destaca o impacto que o movimento deseja ter sobre a vida das mulheres negras. "Essa luta é de grande importância. Eu começo agradecendo aos meus ancestrais pela luta e resistência deles, pois, se não fossem eles, não estaria aqui. Então, eu agradeço imensamente a todos os meus ancestrais. Acredito que estamos plantando sementes para as próximas gerações, que não irão passar pelo racismo estrutural, o machismo, ou seja lá qual for o desafio que uma mulher preta enfrenta e passa hoje.”

Simone é mãe de duas meninas pretas e para ela, é possível alcançar a igualdade sonhada pelos ancestrais. " Sei que as minhas filhas e as gerações delas irão colher essas sementes, pois elas já são empoderadas, com a liberdade de usar o seu cabelo como querem e etc. Eu, como mãe e empreendedora, sei bem os desafios, pois sou mãe solo de duas meninas pretas. Eu acredito que o Julho das Pretas irá se tornar um movimento nacional e até mundial. Então são esses os frutos deste trabalho incrível que está nascendo”.

A edição 2023 do “Julho das Pretas” conta com o apoio do “Edital Quilombagens” do Programa Cultural Murilo Mendes, mantido pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e gerido pela Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa).

A integrante Fórum 8M-JF e do “Coletivo Pretxs em Movimento”, doutoranda em Serviço Social na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), Lucimara Reis, ressalta que a ação só tem sentido na coletividade "O Aquilombamento que esse projeto propõe é germinal, portanto, sua construção se dá na escuta/fala/ação. Nas nossas reuniões abertas, percebemos a riqueza dessa coletividade. Somos várias mulheres, algumas diretamente ligadas à militância política, à militância na economia solidária, na academia, nas suas comunidades, ou mesmo tomando parte dessa construção pela primeira vez." Para ela, é esse aspecto que une todo o calendário do mês, composto por  propostas variadas, distintas e complementares sob diversos aspectos da mulher negra na sociedade brasileira.

Lucimara acrescenta que a construção coletiva é ampliada, para além do calendário de atividades.  "Seguirá nas propostas de atividades, nos debates possibilitados que, pretendemos, nos ajudam a nortear nossas ações cotidianas na busca por uma sociedade com equidade. Quando nos sentamos no mesmo lugar dispostas a pensar nosso estar no mundo, no país e em nossa cidade, percebemos imediatamente que as nossas demandas são específicas, no sentido de reivindicadas por nós, e só serão reivindicadas por nossa ação, porém sua consequência, se materializada, abrange a sociedade toda. São valores novos, civilizatórios, de alcance para toda a classe trabalhadora, oprimida e explorada”.

O Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha é o referencial, criado em 1992, no primeiro encontro, realizado na República Dominicana, que reuniu  Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas, com a composição de uma agenda para dar  visibilidade às lutas que as mulheres negras travam diariamente contra a opressão de raça e gênero.

A jornalista, mestranda em Comunicação na UFJF e integrante do Fórum 8M-JF, Leiliane Germano, pontua que a data tem como destaque no Brasil a líder quilombola que se tornou rainha, Tereza de Benguela,resistindo à escravidão por duas décadas. “Tereza liderou o Quilombo do Piolho que também é chamado de Quilombo do Quariterê que foi o maior da região do Mato Grosso. Em Juiz de Fora, também celebramos o Dia Municipal da Mulher Negra Cirene Candanda. Ela, que foi militante pela causa antirracista em nossa cidade, atuou diretamente na Juventude Operária Católica, Pastoral do Negro Kaiode, Fórum da Mulher Negra e no Conselho Municipal de Valorização da População Negra.”

Leiliane reforça que a luta passa pelo enfrentamento das desigualdades que marcam o país. "O dia 25 de julho é dia de colocarmos em evidência a luta por moradia, emprego, igualdade racial, acesso às universidades, salários iguais, fim da violência contra mulher e tantas outras pautas relacionadas à vida das mulheres negras." A agenda internacional do Julho das Pretas traz o debate  para a realidade da Juiz de Fora,  destacando como é a vida da mulher negra em Juiz de Fora e os campos em que é preciso avançar nas políticas públicas. 

 "Refletir sobre os territórios e o cotidiano em que as mulheres negras juizforanas estão imersas é também jogar luz sobre questões que precisam ser debatidas no que tange às ações de políticas de reparação histórica e antirracismo", conclui a jornalista.

Confira a programação completa:

30 de junho

18h- Mutirão das Abayomis 

Na sede do Maracatu Estrela na Mata (Praça da Estação)

 

1º de julho

16h- Roda de conversa: Maternidades possíveis a partir do livro Mães Pretas - maternidade solo e dororidade, com lançamento de livros com a escritora Thainá Briggs

Livraria Ca D'ori  (Rua Antônio Passarela, 309 Casa 2)

2 de julho

Teatro Paschoal Carlos Magno -Centro

-13h-15h: Feira de livros e apresentação musical com Sil Andrade

-15h-15h30: Contação de histórias com o Grupo Nzinga

-15h30-16h: Apresentação do Projeto Entre Passos e Toques

-16h-16h30: Solenidade de Abertura

-16h30-17h: Entrega dos diplomas em homenagem à mulheres  representação de quilombos em suas comunidades

-17h30- 18h45: Palestra: Afinal, e eu? Não sou uma mulher? com Thainá Briggs
-19h-19h15: Apresentação Ciça Liberdade

-19h15- 20h: Feira de Livros

8 de julho

-15h Oficina de Samba de Roda com Makamba na Livraria Ca D’Ori 

11 de julho

-19h-21h: Roda de leitura - textos de Conceição Evaristo com Daniela Olímpio no Anfiteatro João Carriço

13 de julho

-18h: Oficina e Imersão: TrançArte  com Aline dos Santos  na Sede da ABAN(Dom Bosco)

15 de julho

Festa Sou Charme - Rua João Beghelli (Bairro Dom Bosco)

-14h-15h Discotecagem DJ FaustoZ

-15h-15h40 Show de Laura Conceição

-15h40-16h20 Show Dellon

- 16h20-18h20 Workshop + Show Charmosas do Tamborim

-18h20-19h20 Apresentação MAKAMBA

-19h30-21h Show MUVUKA

19 de julho

Seminário “A Cor do Tributo” (18h - 22h) no Teatro Paschoal Carlos Magno

-Palestras:

“Tributação e Decolonialidade” com a Dra. Daniela Olímpio de Oliveira (Pós-Doutoranda USP)

“Tributação Justa, Reparação Histórica” com a Dra. Eliane Barbosa da Conceição (Profa. UNILAB SP – coordenadora de Políticas Públicas do Ministério de Igualdade Racial)

“Reforma Tributária e Redistribuição: agenda ministerial” Dra. Fernanda Santiago (Procuradora da Fazenda Nacional, secretária executiva do Ministério da Fazenda)

22 de julho

-9h: Caminhada Juiz de Fora Negra com Pâmella Stéfanie e LuísRoberto
 

 -14h30 às 17h:  Palestra: Estratégias de sucesso e preparação para feiras e eventos com Maria Nilda Viana no Sebrae

25 de julho

-17h30: MARCHA - Mulheres negras: pelas nossas vidas e pelas nossas histórias.

Praça da Estação (com caminhada até Praça João Pessoa)


29 de julho

-9h: Encerramento: Feira Julho das Pretas

 

 

 

 

 


Divulgação Julho das Pretas - Lucimara, Simone e Leiliane fazem parte da construção coletiva do Julho das Pretas

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