O empenho e a persistência de amigos e familiares na busca por informações a respeito dos passos de Brunna Letycia Vicente Alves de Souza Leonel após o desaparecimento da jovem na madrugada da quarta-feira (3), foram essenciais para o desfecho do caso, com a localização do corpo e a prisão dos dois autores nessa quinta-feira (4). A Polícia Civil detalhou nesta sexta-feira (5), a dinâmica do assassinato da jovem de 24 anos, que foi retirada do apartamento dos autores em uma mala envolvida em cobertores e levada para um barranco no Bairro Milho Branco, na Zona Norte, onde foi incendiada, lançada e, depois, coberta com galhos e folhas.

O homem de 31 anos e a mulher de 30 anos, responderão por homicídio qualificado por motivo fútil, em decorrência de discussões banais, medida desproporcional às circunstâncias que levaram ao evento. Qualificado pela asfixia- que aumenta o sofrimento da vítima - e feminicídio. “Apesar da relação fugaz, a mim parece que o autor, executou a vítima pela sua condição de mulher. Passional. São três qualificadores”, explica o titular da Especializada de Investigação de Homicídios, o delegado Samuel Neri. 

O casal não tem passagens anteriores, no entanto, a autora está envolvida em ocorrências de lesão corporal. Ela esfaqueou um ex-companheiro, que chegou a dar entrada no Hospital de Pronto Socorro Doutor Mozart Teixeira, mas desistiu da ação penal. Ela também esfaqueou o atual esposo, em uma discussão anterior, porém, ele também não fez registro. “Essa agressividade dela foi comunicada ao juiz.”

Em entrevista ao Portal Acessa.com, o amigo de Brunna, que terá a identidade preservada, conta que por volta das 3h da quarta-feira (4) recebeu ligações da amiga, assim como o ex-namorado da jovem, o irmão dela e outros amigos. Por conta do horário, retornou o contato no dia seguinte. Mas a mensagem não chegou à destinatária. À tarde, ele foi trabalhar e ao questionar um amigo em comum, ouviu que ele também recebeu ligação dela, mas não atendeu.

Às 18h, diante da falta de respostas, decidiu ir até o apartamento dela. Fez contato com familiares, conseguiu entrar no imóvel e percebeu que o carregador do celular permanecia no espaço, algo que chamou a atenção dele, visto que, como a amiga tinha mania de estar com o aparelho sempre ao alcance das mãos, se planejava estar fora de casa por mais tempo, levaria o objeto com ela.

O amigo solicitou ao vizinho acesso às imagens do apartamento da frente. Por meio delas, conseguiu ver a aproximação de uma motocicleta. Na sequência, um carro de aplicativo chegou. A jovem tinha solicitado uma corrida ao mototaxi, no entanto, como chovia, ela cancelou a viagem e solicitou um carro. Porém, ela pagou o valor do trajeto ao motociclista.

De posse dessas informações, a rede de contatos formada por amigos e familiares começou a postar informações e fotos em busca de indícios do paradeiro da jovem. O mototaxista viu uma das postagens pelas redes sociais e fez contato com o amigo de Brunna. Por meio dessa mensagem, a rede de contatos da jovem teve acesso ao endereço em que estavam os autores.

O amigo acionou outra pessoa e foi até o condomínio dos autores. Abordou o vigilante e pediu para verificar se o nome de Brunna constava no registro. Ele pediu para que o homem interfonasse para o apartamento. Eles negaram que a jovem estivesse lá. Nesse intervalo, o amigo já tinha acionado a Polícia Militar. O casal desceu, ele os abordou, todavia, eles desconversaram, alegaram que ela não esteve lá em um primeiro momento. Depois, disseram que beberam juntos, mas ela foi embora.

“O homem me disse que às 3h da manhã do dia 3 ele desceu com ela, e que ele a colocou dentro de um Uber e que ela ia para a casa de algum ‘boy’. Eles me disseram que eles tinham bebido muito e ela estava completamente bêbada. Perguntei, como é que eles colocam uma menina dentro de um Uber, bêbada? ‘vocês têm problema mental?’”, contou o amigo. Ele pediu para subir até o apartamento do casal, onde foi com o homem. Segundo ele, o imóvel estava completamente revirado, mas não havia nenhum sinal de Brunna no local. Eles desceram e o casal saiu em um Uber na sequência.

Investigação

O primeiro contato da rede de amigos e familiares Brunna Leonel com a Polícia Civil aconteceu na Delegacia de Plantão, no Bairro Santa Terezinha, na madrugada da quinta-feira (4), cerca de 24h depois da última vez em que a jovem foi vista com vida. Saindo da residência em que morava no Bairro Aeroporto e indo em um carro de aplicativo a residência dos autores do crime, no Bairro Previdenciários.
A partir do registro da ocorrência, na Delegacia de Plantão, o caso foi encaminhado para a 1º Delegacia Distrital, no Bairro São Mateus. Segundo o titular da divisão, o delegado Luciano Vidal, foi gerado um Termo Circunstanciado de Investigação e a equipe imediatamente foi até o local do crime e encontrou os suspeitos. Enquanto isso, a rede de contatos da jovem foi avisada sobre a descoberta de imagens do casal saindo do condomínio, por volta das 4h22, com uma mala embrulhada com um cobertor, provavelmente, contendo o corpo da jovem.

“Diante dessas informações, das câmeras que foram angariadas pela equipe de investigação, os autores foram conduzidos para a Delegacia Especializada de Investigação de Homicídios, porque ali já se tinha certeza da prática de homicídio e de ocultação de cadáver”, ressaltou Vidal.



Segundo o titular da Especializada em Homicídios, Samuel Neri, o casal de autores foi localizado, preso, separado e interrogado. “Eles confessaram o crime e passaram a informar a dinâmica dos acontecimentos. Encontramos o corpo semicarbonizado”, contou. A autora, uma mulher de 30 anos, conhecia a vítima de um contato anterior. Elas tinham começado a conversar por aplicativo de mensagem uma semana antes do ocorrido, conforme o delegado, e mantinham um relacionamento íntimo.

“A Brunna teria um encontro, mas não deu certo. A autora chamou a vítima para que elas pudessem beber juntas na casa dela. Mas avisou que o marido dela estaria em casa. A Brunna pegou o Uber e foi para a casa da autora. Chegando lá, a vítima não queria se identificar na portaria. Os porteiros não queriam deixar que ela entrasse sem a identificação. Tem imagens do autor descendo e indo buscar a Brunna na recepção”, relatou Neri.

O delegado disse ainda que, em dado momento da madrugada, a mulher ficou com ciúmes da interação entre o marido dela e Brunna e passou a cobrar o homem. Ele pressionou a jovem para que desfizesse o que, para ele, seria um mal-entendido causado por ela. Mas Brunna se recusou e começou a ligar para amigos e familiares em busca de alguém que pudesse busca-la.

Conforme o delegado, o homem percebendo a atenção que a moça dava ao celular e vendo que ela não argumentaria com a esposa dele, tomou o celular da mão dela. “Brunna sendo uma mulher pequena, de baixa estatura, magra. Ele forte, alto. Exigiu que ela falasse. Ela tentou pegar o telefone. Ele agarrou o pescoço dela. Apartamento muito pequeno. Joga no sofá e esgana a Brunna. Ela tentou se mexer um pouco, se debateu, mas letárgica por conta da bebida e, possivelmente, sobo efeito de outras substâncias, não conseguiu se defender. Ela faleceu asfixiada por esganadura. Ele a joga no chão. Ele passou a brigar com a autora. Culpando-a pela morte da jovem. Falando que eles teriam que tirar o corpo de Brunna do local.”

Na sequência, o casal pegou a mala de viagem, colocou o corpo de Brunna dentro do objeto. “Eles, tentaram pisar na mala para fechá-la, não conseguiram, ficou uma parte do corpo exposta. Perceberam que não poderiam sair com a mala semiaberta, mas não houve esquartejamento. Envolveram a mala com um cobertor. Pediram um Uber direcionado à casa de um parente, no Bairro Milho Branco. Chegando lá, tiraram o corpo do porta-malas”.

Neri afirma que não há informações sobre a ciência do motorista desse Uber sobre o possível conteúdo transportado, até porque ele não tocou na mala em momento algum. O autor que coloca a mala e tira do porta-malas. O casal foi junto até a mata, ateou fogo no corpo de Bruna dentro da mala e atirou o corpo da jovem em um barranco. “Quando o corpo dela foi incendiado, ela já estava morta. Não havia fuligens de queimadura no pulmão, ela não respirou. Morreu por conta da asfixia, não por conta da queimadura. Empurram a mala no barranco. Parte da mala foi recuperada.”

Outras diligências em curso

Além do mototaxi que se prontificou imediatamente em fornecer informações para familiares e amigos ao ver as postagens feitas pelas redes sociais e o motorista da Uber que também fez contato com os amigos da vítima, a Polícia Civil também deve ouvir os outros motoristas que fizeram o trajeto.
Segundo o amigo de Brunna, eles foram essenciais para que a localização dela fosse identificada. “O mesmo Uber que leva a Brunna até o condomínio do Previdenciários retorna para busca-la por volta das 3h. Ela pegou o contato com ele, perguntou se ele iria trabalhar durante a noite. Disse que estava receosa. E perguntou se ele voltaria para buscá-la. Ele falou que estava em outra corrida em um bairro distante, mas buscaria ela. Quando ele chegou ligou, mandou mensagem, mas ela já não atendia. Uber ficou esperando cinco minutos e foi embora.”

Apelo 

A mobilização em torno do desaparecimento de Brunna chamou a atenção pelo envolvimento e dedicação dos amigos e familiares da jovem. O que também envolveu riscos. "Eu entendo todo o risco e sei que foi necessário. Eu fiquei de frente com eles. Eu estava com muito medo e percebi que eles também estavam apavorados. Não posso dizer o que passou pela minha cabeça. Eu não chorei, eu não dormi. Acredito muito em Deus e espero que eles se arrependam", refletiu. 

O irmão de Brunna, Humberto Brendon, estava no Rio de Janeiro quando soube do desaparecimento da irmã. Em contato constante com os amigos, se preocupou em compartilhar informações nas redes que pudessem levar ao paradeiro dela. "Minha vida paralisou. Parece cena de filme, mas acontece, é de verdade e é muito doloroso. Mataram a minha irmã e eu quero Justiça. Quero que esse povo apodreça na cadeia", desabafou. 

No entanto, Humberto ressaltou a importância de compartilhar informações com pessoas próximas, sempre que sair sozinho. "Peço encarecidamente, avisem suas mães e pais, amigos, que compartilhem a localização, falem onde estão, para que o que aconteceu com a minha irmã não aconteça com mais ninguém". 

 

 

Imagens de segurança - Corpo é carregado dentro de mala

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