O interesse pela Ciência, a percepção sensível a respeito da neurodiversidade e a dificuldade de acessar as oportunidades levaram a jovem juiz-forana Millena Xavier a se tornar a mais jovem a entrar para a para a lista da Forbes em 2023, na Categoria Ciência e Educação, aos 17 anos.

Millena conta que sempre se interessou por neurologia, porque, desde criança, convive com pessoas com o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tanto na família, quanto nos outros meios sociais nos quais está inserida. “Minha mãe é professora. Sempre teve alunos que eram autistas nas escolas em que ela trabalhava, e eu às vezes ia assistir a algumas aulas nessas escolas, bem novinha. Sempre observei esses traços das pessoas que tinham autismo, só que nem sempre eram os mesmos traços comportamentais”.
A curiosidade, despertada a partir dessas visitas às turmas em que a mãe lecionava, seguiu com ela.

Quando foi estudar no Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Viçosa (Coluni/UFV), Millena tinha um amigo de turma que recebia um tratamento diferenciado dos outros alunos.

“Ele era sempre estereotipado e a psicóloga da escola falou com ele que, talvez, ele poderia ter autismo. Eu pensei: ‘tem gente que só tem acesso à questão de diagnóstico de autismo muito depois, que não tem um acesso a esse direito durante a infância.’ Sendo que a pessoa que tem acesso ao diagnóstico de autismo durante a infância, ela tem muito mais chance de se dar bem na vida porque ela tem mais acesso a tratamento social, assim, para ela conseguir interagir melhor com as pessoas, tem mais oportunidade de trabalho depois, caso a pessoa tenha esse acesso, né, esse diagnóstico antes”, reflete a estudante.


Como na Ciência, as soluções partem das dúvidas, Millena ficou com uma pergunta em mente: “Como nem todo mundo tem esse acesso, o que eu posso fazer para melhorar?”


Foi a partir de todas essas vivências e do ímpeto de buscar uma resolução, que ela desenvolveu um projeto que trabalha no desenvolvimento de um diagnóstico acessível do TEA, por meio da aplicação de perguntas para adultos, adolescentes, crianças e pais das crianças. Elas respondem para descobrir a probabilidade de o indivíduo realmente ter o transtorno.


A jovem uniu esses conhecimentos às experiências que obteve ao participar das Olimpíadas Brasileiras de Informática (OBI) e de Tecnologia (OBT), respectivamente, e decidiu trabalhar com a inteligência artificial, para solucionar o problema. O projeto foi escolhido para representar o Brasil na Conferência Internacional de Jovens Cientistas (ICWS), que correrá este ano na Turquia. O evento reúne estudantes do Ensino Médio que propõem soluções para diversas áreas do conhecimento.

Busca por acesso e oportunidades para todos


A rápida associação do conhecimento e dos esforços de Millena, com o reconhecimento obtido por ela, deixa de evidenciar os percalços pelos quais a jovem passou e contra os quais ela empresta sua trajetória, para que outros estudantes também enxerguem as oportunidades e possam ter acesso a elas.


Millena Xavier afirma que o interesse dela pela Ciência surgiu do problema que ela enfrentou para conseguir ter acesso aos estudos. “Eu fui na cerimônia de premiação de uma Olimpíada Brasileira de Astronomia na escola em que minha mãe trabalhava e eu me interessei muito por essa questão de ciências e de Olimpíadas científicas porque eu vi que tinha uma grande oportunidade ali. Eu tive a oportunidade de conversar com um aluno cientista nessa cerimônia e ele me falou que tinha conseguido entrar numa escola privada com bolsa de 100% por causa dessa medalha.”


Ela buscou por outras informações a respeito até ver que havia meios de ingressar por meio das Olimpíadas de conhecimento vestibulares de instituições como USP, Unicamp, já que existe uma modalidade de ingresso chamada Vagas Olímpicas.


“Então, eu vi todas essas oportunidades, pesquisei. Com as Olimpíadas científicas você consegue estudar e também consegue bolsa de iniciação científica. Isso me fez ficar interessada e querer fazer. Então, eu fui na minha escola, pedi para a professora, para a coordenadora, para a supervisora me inscreverem em Olimpíadas científicas. Porém, elas acreditavam que isso ia tirar o foco da escola em vestibular e então elas negaram. Isso eu estava no oitavo ano. Só que com a pandemia, eu tive a oportunidade de fazer todas as Olimpíadas que eu queria, porque as Olimpíadas flexibilizaram as regras. Então, estudantes sem vínculo escolar poderiam se inscrever.”


Identificando a falta de apoio da escola, na falta de informação a respeito desse tipo de possibilidade e oportunidade. Falta de incentivo para inscrição e participação, de materiais de estudos adequados, ela tentou solucionar o problema de outra forma.


“Decidi começar uma divulgação de várias Olimpíadas e dar aulas para outras Olimpíadas também. E a questão é que o movimento ficou tão grande que a gente se tornou um ecossistema completo, que agora a gente não só prepara para as Olimpíadas principais, como a gente também divulga, faz palestras de Olimpíada, nós vamos até a escola que não tem cultura olímpica para falar de Olimpíadas, e também temos eventos e criamos, assim, concretizamos plataforma e a inteligência artificial.”

Millena está viajando o mundo divulgando os livros que ela participa: "Lumos" e "The Future is STEM" e o livro que ela escreveu:“Eles fazem o Futuro”.

 

Reprodução Arquivo Pessoal Millena Xavier - Estudante desenvolveu uma ferramenta de detecção acessível de TEA


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