Terça-feira, 5 de outubro de 2010, atualizada às 17h57

Autoridades orientam vereadores mirins quanto aos riscos da violência juvenil

Clecius Campos
Repórter

Os vereadores mirins da Câmara Municipal de Juiz de Fora assumiram papel de ouvintes e fizeram poucas intervenções na audiência pública realizada nesta terça-feira, 5 de outubro. O tema violência juvenil foi esmiuçado pelas autoridades convidadas, que orientaram os adolescentes e a plateia, também formada em sua maioria por jovens, quanto aos riscos de se envolver com atos criminosos. A formação de gangues também foi explorada.

A juíza da Vara da Infância e da Juventude, Maria Cecília Stephan, afirma que o grande perigo é a aproximação de crianças e adolescentes a grupos de adultos mal-intencionados, que acabam levando os menores a praticar atos infracionais. "Normalmente, os chefes das turmas de baderneiros são adultos e não adolescentes. O que os mais jovens não percebem é que são a parte mais frágil, quando as rixas ficam mais intensas." Ela alerta para o cumprimento de medidas socioeducativas que podem variar de regimes abertos a internações. "Dependendo da conduta do adolescente, sendo identificado por cometer infração mais grave, ele pode sofrer sanções como a falta da liberdade."

O diretor de segurança do Centro Socioeducativo de Juiz de Fora, Luiz Fernando Goulart Teixeira, endossa a influência dos mais velhos. Ele deu o exemplo dos dois adolescentes envolvidos na confusão ocorrida na ocasião da Parada Gay, em 14 de agosto, que resultou na morte de um terceiro jovem de 15 anos. "Os garotos cumprem medida socioeducativa e vivem no mesmo alojamento. Participam de todas as atividades juntos e não foi registrado nenhum conflito. Os adolescentes têm problemas entre si quando estão em grupos e aliciados por lideranças adultas."

Para a pesquisadora da criminalidade, Márcia Matias de Miranda, a forma como o adolescente é tratado após cometer um ato infracional é o que vai determinar se ele continuará praticando crimes. Para ela, é preciso que os jovens não sejam estigmatizados, para que não ganhem a imagem de criminosos ou de pessoas perigosas, que não têm recuperação. "O estigma está nas palavras usadas. Não dá, por exemplo, para chamar as galeras que são formadas por jovens e adolescentes de gangues. Gangues são grupos tipicamente norte-americanos, com liderança, regras e atividades criminosas mais intensas. Não existem gangues no Brasil. Este estigma dá status e nome aos grupos e isso atrai os jovens."

Razão da violência deve ser conhecida

Para o presidente do Conselho Municipal de Direito das Crianças e dos Adolescentes, Wesley Barbosa, a busca por razões pelas quais adolescentes se envolvem com atos violentos é o primeiro passo para o combate. "Há dois serviços disponíveis na cidade, um junto à Secretaria de Educação e outro junto à Secretaria de Assistência Social, que vão atrás dessas razões, trabalhando nas escolas e nas famílias. Eles têm como objetivo traçar técnicas de prevenção e intervenção em conflitos e tratar as dificuldades que levam à violência de forma psicológica."

A representante da Secretaria de Educação, Márcia Abreu, lembra de serviços do Departamento de Apoio ao Estudante, como o Projeto Técnicas de Prevenção e Intervenção em Conflitos (TPIC) e o Programa de Educação Afetivo Social (Peas). "Um engloba a formação continuada de professores e o outro o problema da violência velada, como o bullying e a violência doméstica." Ela defende o ambiente escolar como meio de diagnosticar os problemas. "A violência aparece na escola porque é um local de ajuntamento de pessoas e porque os professores têm a capacidade de identificar essa violência."

Oportunidade distancia jovens da violência

A coordenadora da Casa do Pequeno Artista, Raquel Vale de Melo Silveira, representou a Associação Municipal de Apoio Comunitário (Amac) e apresentou o trabalho da entidade que atende crianças e adolescentes dos 6 aos 17 anos. "Temos as atividades desenvolvidas nos Curumins, na Casa e em projetos com entidades parceiras. Por meio da oficina, adolescentes de bairros ditos rivais convivem amigavelmente. Isso ocorre porque quem tem oportunidade fica longe da violência e das drogas."

O presidente da Casa de Cultura Evailton Vilela, localizada no bairro Santa Efigênia, Negro Bússola, criticou o que chamou de pouca ação do governo estadual na geração de oportunidade para os adolescentes da periferia. "Foram inaugurados centros socioeducativos, mas não abriram centros culturais. A polícia é uma força de repressão e não de transformação, de mutação. Fizemos um concurso de redação sobre o crack entre os jovens e os adolescentes que participaram apontaram como solução a criação de quadras poliesportivas, de programas que incentivam a cultura, que dão oportunidade de fato. Os adolescentes querem uma atividade, com qualidade de vida e não medidas socioeducativas."

 

Os textos são revisados por Thaísa Hosken