Barbie vive em um mundo perfeito onde todas as pessoas são felizes, parafraseando Renato
Russo, até começar a ter pensamentos estranhos sobre a morte, resultando em uma crise de
identidade que a levará à necessidade de encarar o mundo real para tentar se descobrir.
Quando anunciado um ‘live-action’, da boneca mais famosa do mundo, todas as atenções se
voltaram para essa produção, desde a escolha do elenco, até ao enredo em que se construiria a
narrativa. Agora, com seu lançamento oficial nos cinemas, é necessária uma indagação: Será que
Barbie alcança todas as expectativas criadas pelo público, ou é apenas um filme purpurinado
que se vende como produto indispensável?
A princípio, é preciso esclarecer que não restam dúvidas de que o cinema acaba de ganhar mais
um marco temporal (Antes de Barbie/Depois de Barbie). E ‘AB/DB” se estabelece logo no início
do longa, ao reinventar a cena antológica de um clássico do cinema, o filme 2001: Odisseia no
espaço.
Como elemento estratégico, o longa se utilizou da divulgação fragmentada e aleatória,
ocultando o cerne de seu enredo para revela-lo somente àqueles que se dispuserem a estar
numa sala de cinema. E essa tática de marketing foi, além de inteligente, perspicaz, uma vez que
a trama abordada no filme, é necessária, importante e reflexiva que, se tivesse sido apresentada
ao público, fatalmente tornaria a experiência de assisti-lo menos surpreendente.
Com uma mensagem necessária sobre patriarcado, Barbie estabelece uma narrativa lúdica, para
abordar assuntos sérios de forma abrangente e clara, sob um aspecto imaginativo.
Metaforizando vários elementos, o desenvolvimento da história procura fazer alusão da
realidade sob uma perspectiva de mundos distintos, onde a ideia de sociedade perfeita se aplica
a um universo fictício, em completa dissonância com a realidade.
E a partir do conflito existencial da boneca, a trama cria uma alegoria para refletir a desigualdade
de gênero, enveredando em um terreno sensível, mas que precisa ser visitado para que haja
debates e se chegue a um consenso de resolução.
Contudo, ao tentar abordar os temas jocosamente, o roteiro é tomado por excessos de piadas
que criam uma atmosfera parcialmente desajustada, uma vez que a tentativa de encaixar a
fantasia como referência, nem sempre funciona. Antes, em muitas situações, a mensagem se
torna repetitiva, ainda que com apresentadas sob óticas diversas, confusa em alguns arquétipos
e inconsistentes no desenvolvimento de alguns personagens.
Não só isso, a narrativa acaba criando um arcabouço que se divide, fazendo parecer que estamos
acompanhando duas histórias distintas quando se fala na trajetória dos personagens, onde uma
delas, ganha um tom que ameaça o enredo precípuo, causando menos impacto do que deveria
e merecia em seu desfecho.
Ainda assim, os acertos de sua construção conseguem retomar a trajetória da trama, permitindo
que sua mensagem não se perca ou seja esquecida, além de nos deliciar com momentos
engraçados e tocantes, resultando em um filme divertido, desconstruído, emocionante e
memorável.
Barbie, é um filme extremamente hilário, sagaz, poético, lúdico, que, mesmo pecando pelo
excesso, é necessário, importante e com uma mensagem clara e poderosa, que atravessa um
caminho inovador entre grandes obras do gênero no cinema.
Nota: 8,4
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Barbie
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