O filme independente, estrelado por Jim Caviezel (que interpretou Jesus, no filme polêmico de Mel Gibson) conta uma história real sobre um ex agente que se arriscou para salvar a vida de centenas de crianças raptadas pelo tráfico sexual de menores e, com essa premissa, é evidente que a trama não será nada leve.
E para além disso, o filme que começou a ser produzido em 2015, somente agora conseguiu chegar às telas de cinema. E essa demora, se deve ao fato do baixo patrocínio, além de grandes polêmicas envolvendo toda a produção do longa, dentre elas, as incitações da extrema direita sobre acusações de que a pedofilia é financiada pelos partidos políticos de esquerda.
As infundadas afirmações acabaram por prejudicar essa obra, que inicialmente é preciso fomentar que, independentemente de quem a financiou, é importante dada as estatísticas sobre a escravidão sexual infantil existente na América Central. E o filme narra esse quadro, mesmo com poucos dados científicos, deixando claro que é preciso estar atento e disposto a debater sobre o assunto tão pesado e delicado.
Deixando as especulações externas de lado, vale ressaltar que o filme possui uma boa direção, e atuações convincentes, principalmente quando se trata das personagens infantis, que com apenas alguns minutos em cena, conseguem despertar toda angústia, compaixão e empatia no espectador. O filme comove ao tentar simular a realidade dessas crianças sendo abusadas física e psicologicamente em seus respectivos cativeiros.
E, ao contrário do que se pode imaginar, não há chamada apelativa quando a trama aborda a história sobre essa perspectiva do olhar assustado e traumatizado das vítimas. O equívoco narrativo se constrói no personagem protagonista da trama, que passa a ser retratado como redentor. E é necessário enfatizar que a culpa não é do ator, que vale ressaltar, está ótimo em seu papel, visto o carisma que Jim possui diante das câmeras.
Aqui, o problema está na construção do personagem, que se mostra indiferente à situação das vítimas e, num estalo provocado por um colega de trabalho, se torna um salvador disposto a dar sua vida por todas as crianças que vivem aquela realidade cruel, mesmo que isso resulte em deixar sua família órfã. E tudo se torna ainda mais inverossímil, quando em poucos minutos, ele obtém o apoio de toda sua família, corroborando para uma vertente martírica pautada num discurso religioso.
Por se tratar de uma história real, fica evidente que a indiferença inicial configura uma tentativa de criar um ato heroico do personagem, sendo que isso seria perceptível diante da sua sequência narrativa. Ainda, o roteiro peca ao deixar de transmitir o seu recado na sua construção narrativa, para abordar o tema em um discurso preparado e que é jogado ao espectador somente durante os créditos
Mas tais deslizes não diminuem a qualidade e importância dessa obra, que ultrapassa os limites da biografia, trazendo uma mensagem importante sobre um assunto delicado, mas que é necessário para refletir e debater.
O Som da Liberdade é um filme emocionante de uma história de resgate, e uma obra que traz a importância de pautar como debate político e de segurança pública, o combate à pedofilia.
Nota: 7.2
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