Quando Martin Scorsese criticou os filmes da Marvel, alegando que as produções de superheróis não eram cinema, houve muita polêmica sobre sua fala. E de fato, há certo exagero em seu discurso, pois há muitos ótimos filmes derivados dos quadrinhos, para além de que o cinema, também pode e deve ser considerado uma forma de entretenimento. Mas é inegável também dizer que, quando ele levanta essa crítica, ele sabe muito bem como sustentar sua ideia. E isso, ele mostra na prática.
ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES (2023)
Após chegar a um vilarejo em Oklahoma, habitado por nativos chamados Osages em uma terra bastante produtiva de petróleo, Ernest é ludibriado por seu tio, Bill Hale a se casar com uma das herdeiras do maior solo produtivo, com intuito de se tornar o proprietário das terras Osage.
A premissa do filme, baseada no livro de mesmo título, conta a história do genocídio praticado pelos americanos contra os nativos Osages, um povo que sofreu uma verdadeira chacina encoberta pela política norte-americana, mas que teve como seu “redentor”, J. Edgar Hoover que foi o grande precursor da criação do FBI (e quem se lembra, em 2011, Leonardo DiCaprio interpretou o famoso diretor do Governo Federal).
Sobre o novo filme de Scorsese, é imprescindível dizer que definitivamente, é um filme para quem não tem pressa de sair da sala de cinema, dada sua duração de 3h26min. E também e necessário dizer que, apesar do tempo, o filme se estabelece tão genuinamente e fluido, que para quem gosta de uma narrativa bem desenvolvida, o tempo é o que menos importa aqui.
A construção da trama de forma simbiótica, permite o espectador ser envolvido com os elementos românticos abordados na história, sem que por eles sejam ludibriados, com a sensação de que algo está fora do contexto. E isso ocorre propositalmente, visto que ao encarar os fatos que se desencadeiam no decorrer da narrativa, o gosto amargo da violência ali tratada é o ponto crucial do que o filme propõe: a reflexão do genocídio de povos nativos, sem o menor escrúpulo e tão desdenhado pela sociedade aristocrática.
Para além disso, as nuances da violência praticada no filme, há o incrível desdobramento dos personagens que, se revelam minuciosamente causando uma sensação de desilusão e repulsa, ao passo que vemos aquele povo sendo exterminado de forma abusiva, cruel e impiedosa.
Com o perfeito equilíbrio entre planos abertos e intimistas, o espectador experimenta um deleite visual impressionante, em concomitância a uma sequência de enquadramentos fechados, que os coloca em uma mesma sala dos personagens, assumindo o papel de testemunhas dos diálogos e dos eventos que ocorrem, mostrando como Scorsese sabe exatamente o que fazer para cultivar a atenção do público, envolvê-lo e deixá-lo curioso para ver o que vai acontecer, mesmo que já se tenha uma ideia daquilo que a trama está propondo.
Com a mesma qualidade dos elementos técnicos, e preciso enaltecer as atuações impecáveis, magistrais e comoventes de Leonardo DiCaprio, que nos convence ser um homem xucro e ingênuo, mas que rapidamente se estabelece e se reconfigura numa figura de caráter dúbio. Robert De Niro com seu personagem está excelente, muito embora não apresente uma performance inovadora, dado seu talento já consolidada.
Mas o maior destaque aqui é de Lily Gladstone, que na trama interpreta Mollie Burkhart, nativa que se casa com Ernest (Leo DiCaprio). Com uma atuação impressionante e arrebatadora, é o ponto emocional de toda trama, onde o espectador consegue sentir sua angústia, medo, raiva, sentimento de impotência e desejo de justiça, resultando em uma das melhores atuações femininas do ano.
Nota: 9.7
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