Imagine a possibilidade de realizar um teste em que é possível detectar a probabilidade de dar certo com alguém que você esteja interessado. Se o teste falhar, ou melhor, se a probabilidade for de zero por cento, não há chance de um relacionamento; se o resultado for cinquenta por cento, talvez um dos pares não esteja envolvido emocionalmente ou interessado e se der positivo, obviamente a compatibilidade de um amor verdadeiro.
Anna e Ryan estão juntos há três anos. Eles participaram do programa que testa as probabilidades de relacionamento, um experimento tecnológico que surgiu após os casos de divórcio aumentarem drasticamente. E com o projeto, as relações tem se tornado cada vez mais estável. Só que Anna, sente que a rotina da sua relação está pondo em dúvida a sua compatibilidade com Ryan, fazendo com que ela se inscreva em uma clínica para trabalhar no projeto e descobrir como tudo funciona, conhecendo Amir, um dos seus mentores que a faz duvidar dos seus sentimentos pelo marido.
O novo romance da Apple TV+ é uma obra fascinante quanto à sua premissa, porque eleva a discussão da efemeridade das relações modernas. Isso porque, ao tratar de um ponto inicial estatístico (o divórcio), o filme retrata a construção de uma relação em seu início. É aquele momento em que uma pessoa conhece alguém interessante, sente aquele frisson, o encanto, mas que com o tempo de convivência, percebe que não são “feitos um para o outro”, resultando em uma “perda de tempo”.
Daí, o teste possibilita a praticidade de não se envolver emocionalmente com alguém que não lhe é compatível evitando não só esse tempo que se perde, como uma desilusão amorosa e o sofrimento das separações. E essas questões são expostas durante o desenvolvimento da história, criando várias reflexões sobre o comportamento humano diante das possibilidades de se relacionar com o outro.
Não obstante, a trama ainda dissemina alguns questionamentos importantes como: o amor é um sentimento que surge naturalmente, ou é uma escolha diária (?), visto que o teste, cumpre ressaltar, é feito de forma bem exótica (onde cada par precisa doar uma unha, para a realização do procedimento
de compatibilidade), em que o cruzamento de DNA expressa um resultado prático das possibilidades.
O grande problema da narrativa está em propagar todas essas indagações, mas não explorá-las de forma mais abrangente e profunda, visto que o ensaio, embora se construa na mente do espectador, não pode ser completamente subjetivo. É como estar em uma sessão de terapia, em que, embora a percepção do confronto e do autoconhecimento venha do paciente, o psicólogo não deixa de oferecer ferramentas para que se possa chegar a uma solução daquilo que está sendo abordado.
E com isso, a sensação de que o filme, apesar de longo, é curto, pois cria uma atmosfera curiosa e atraente, mas não conclui de forma satisfatória o seu propósito. Como se precisasse de mais tempo, talvez funcionando melhor como uma minissérie de três ou quatro capítulos, permitindo que a temática seja melhor explorada.
Na ponta dos dedos é uma obra interessante e original, com temas bastante reflexivos sobre a construção dos relacionamentos e como ele pode ser imprevisível, ainda que sob a ótica lógica do seu surgimento, que permite a discussão sobre a existência do amor, se destacando como um romance delicioso e ao mesmo tempo incômodo que vale a atenção do público.
Nota: 7.6
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