Quando sobreviver é a única alternativa diante do abandono, tudo é válido. Em um estado de total solidão e escassez, não há lei que resista, ética que meça ações ou doutrina religiosa que se sobreponha a uma necessidade imprescindível de se manter vivo.

E todas essas discussões sobre o que seria ou não correto para manter-se vivo são delicadamente tratadas no novo filme de J. A. Bayona, diretor de filmes que compõem o gênero de docudramas baseados em histórias reais, como O Impossível e Nebraska. 

Estamos falando de A Sociedade da Neve, novo filme da Netflix, grande concorrente ao Oscar de melhor filme internacional, que conta a história de um grupo de sobreviventes à queda de um avião em meio da Cordilheira dos Andes, na década de 70.

Importante frisar que não há spoiler aqui, visto que a história pé mundialmente conhecida, além de já ter sido contada no cinema com o filme Vivos (1993) e também por uma série documental. E o novo filme de Bayona não é uma espécie de remake, visto que sua forma de narrar a saga desses "heróis” é bem peculiar, visto que aborda muito kais as questões empíricas dos sobreviventes, sem deixar de retratar a tragédia do acidente e sua repercussão, e as sequências de eventos naturais que tornaram essa jornada ainda mais tensa e angustiante para aquele grupo de sobreviventes.

 Desse modo, o espectador é convidado a adentrar no campo íntimo daqueles jovens que se veem abandonados pelas equipes de busca, dada a circunstância climática que impossibilitam o resgate, tendo que enfrentar o frio extremo, sem medicamentos para tratar os ferimentos causados pelo  acidente, além da falta de comida e muitas vezes de água (e sim, a neve pode ser gelo, mas se torna difícil seu consumo em uma temperatura extrema, ressecando os lábios e causando feridas profundas). 

Tudo isso é cautelosamente explorado pelo Diretor, que sabe como abordar o drama de forma comovente, mas não apelativo, ao passo que desenvolve os personagens de forma dinâmica, permitindo que o espectador crie a empatia por eles e acompanhe com esperança de que aquela história termine bem.

E não se deixe enganar. Embora saibamos como a história termina (pelos dados históricos), o filme consegue entregar um final emocionante por ultrapassar o enredo do resgate, mas na intersecção que sobrepõe o trivial, criando uma reflexão profunda sobre aquele evento, depois de todos os acontecimentos experimentados pelo grupo, que vale ressaltar, consegue ser palpável para o público.

Por essas e outras grandes e ótimas razões, como o roteiro, a narrativa, o desenvolvimento e as atuações, que A Sociedade da Neve é um filme lindo, sob o aspecto construtivo, perfeito sob a ótica técnica, emocionante sob o contexto histórico e importante sob sua relevância social e reflexiva, que vale muito a pena ser assistido.

Nota: 9.2

 

 

 

Reprodução - A Sociedade de Neve

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Clayton Inacio da Silva

Séries e Filmes

É advogado empresarial e crítico de cinema. No campo jurídico, atua na esfera administrativa, cível e consumerista, além de elaboração e análise de contratos públicos e privados. Como crítico, analisa e comenta filmes de todos os gêneros, que são lançados no cinema e em plataforma de streaming, além de análises de séries, minisséries, animações e documentários, dando ao público uma pequena dimensão sobre a relevância de cada obra com foco em despertar o interesse pela arte e incentivando à cultura.

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