Após um acidente que resulta na morte de Samuel e a perícia resultar em morte suspeita, Sandra se torna acusada em um processo judicial que pode condená-la por homicídio.

Apesar uma sinopse frugal, incialmente é importantíssimo destacar que o filme francês vencedor da Palma de Ouro, Globo de Ouro, entre outros prêmios importantes, e agora indicado ao Oscar de melhor filme, não se trata de uma história simples. Ao contrário, aqui, o espectador é convidado para uma das maiores buscas pela verdade já contada na história do cinema.

Isso porque, o roteiro, impecável e um dos mais (senão o mais) originais do ano, nos leva a um turbilhão de informações sobre o que aparentemente denota um infortúnio, mas que ao decorrer das investigações revela várias camadas que nos fazem duvidar da integridade dos acontecimentos. E esse trabalho árduo de tentar desvendar o mistério que nasce da tragédia, não só se consolida nas elucidações dos personagens, obrigando o espectador a pensar nos detalhes e nas peças que vão sendo expostas no diagrama da narrativa, levando quem assiste a trama a um estado natural de desconfiança e perturbação.

Esse é um trabalho muito difícil de desenvolver, mas Justine Triet, que é a diretora e roteirista do filme, consegue brilhantemente sair da zona confortável de um thriller e adentrar na psique humana de modo a converter as crenças sobre um determinado assunto, como é o caso do enredo que envolve a história desse longa.

Ao confabular entre um fato circunstancial, elementos concretos e suposições das possibilidades, a trama eleva a personagem central da trama, Sandra, à dualidade entre o protagonismo e antagonismo, ao passo que o seu passado e de seu marido começa a vir à tona. E aqui, Sandra Hüller (sim, a atriz possui o mesmo nome da personagem), entrega uma atuação fascinante e extremamente convincente, que nos faz duvidar realmente de suas ações.

Não obstante, ao ter sua inocência posta em ambiguidade, Sandra ainda tenta lidar com a inquietude de dúvidas de seu filho, Daniel, aqui interpretado de forma magistral por Milo Machado. O personagem, que na trama tem apenas 11 anos é o pilar que humaniza todas as sequências narrativas, automaticamente se conectando com o espectador, que se sente no lugar daquela criança, sem saber no que acreditar, à medida que informações antes desconhecidas, vêm à tona, causando ainda mais um misto de confusão sobre as possibilidades do veredicto.

E o que poderia parecer trivial, toma proporções ainda mais interessantes, quando somos empurrados para a percepção de realidade percepção de uma mãe, uma esposa, o filho de uma mãe acusada, e o filho que perdeu um pai, minuciosamente explicitado, tornando a história densa, especulativa, dramática e profunda, que não se propõe a discutir um desfecho, mas suas nuances e perspectivas de forma atraente, provocativa e magistral, sendo original, apoteótica e surpreendente.

Anatomia de uma Queda é um filme que só é simples na sua sinopse, mas complexo, completo, emocionante, empolgante, provocativo, reflexivo, surpreendente e arrebatador, com o melhor desenvolvimento narrativo dos últimos anos, que merece cada minuto de sua atenção, sendo elevado ao status de um dos melhores filmes de 2023, podendo desbancar o favoritíssimo Oppenheimer no Oscar.

Nota: 10 (em exibição nos cinemas)

Divulgação - ANATOMIA DE UMA QUEDA (França 2023/2024)

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