Após perder a mãe em um incêndio, Mahito se muda para uma casa no campo com seu pai, que agora tem outra esposa, a qual o jovem reluta em aceitar como madrasta. Após o desaparecimento da madrasta, e encontrar uma garça falante, que conta para Mahito que sua mãe está viva, o menino se envolve numa aventura cheia de mistérios e fantasias.

O novo filme de Hayao Miyazaki, responsável por grandes sucessos como Meu Amigo Totoro, A Viagem de Chihiro e o aclamadíssimo Túmulo dos Vagalumes, é uma Ode a si mesmo, sem carregar a presunção de quem se reconhece na sua magnitude. Isso porque, a narrativa autobiográfica e cheia de referências, foge da premissa autoindulgente, revelando uma trama repleta de fragilidades e reflexões sobre temas sensíveis, vivenciados pelo famoso Diretor.

O desenvolvimento da história, que costumeiramente é carregada de elementos fantásticos, como só Miyazaki sabe construir, nos leva ao seu mundo particular e suas memórias de modo convidativo e tocante, ao passo que aquele universo explorado pelo protagonista, se estabelece muito além da metáfora imagética, revelando a prolixidade de fatos históricos, políticos e pessoais que compõem o passado do ilustre diretor.

Para além disso, quem acompanha suas obras, percebe claramente várias referências inseridas nesse novo longa, inicialmente como uma singela homenagem aos seus trabalhos importantes, mas que ultrapassa esse limite, ao desencadear uma conexão direta com a trama aqui abordada, e sua mensagem a ser transmitida, criando uma sensação de nostalgia, autocrítica e auto compreensão, resultando em uma experiência comovente para quem se propõe vivenciar.

Considerado pelo diretor como seu último trabalho, O Menino e a Garça carrega a responsabilidade afetiva de contar um pouco mais do passado de Hayao, elevando em seu desenvolvimento as emoções experimentadas pelo diretor em boa parte de sua vida, considerando sua humanidade revelada em questionamentos introspectivos como arrependimentos, aceitação, resiliência e de como nenhuma verdade pode ser absoluta, onde é possível se permitir reconsiderar uma opinião, um pensamento, uma decisão.

Além disso, a construção dos personagens lúdicos da trama, denotam essas reflexões, e de como a vida, embora efêmera, pode carregar uma infinidade de novas possibilidades e recomeços, e que apenas uma pessoa é capaz de impedir esse fluxo evolutivo (ainda que o fluxo da vida seja inevitável or quem quer que seja), ou seja, cada pessoa em si mesma.

Não obstante, importante destacar que o longa, vencedor do Globo de Ouro e do BAFTA, é grande concorrente ao Oscar e é um trabalho com uma qualidade técnica impecável, sendo um trabalho resistente ante aos moldes de construção de animação (visto que é desenvolvido na tecnologia 2D e feito inteiramente à mão), sem deixar escapar a magnitude de sua exuberância visual, como só o diretor japonês é capaz de criar.

O Menino e a Garça pode não ser a melhor obra de Miyazaki, mas não deixa de transmitir uma mensagem poderosa e repleta de referências importantes e memoráveis, que toca e comove seu público, faz refletir e sair dos cinemas encantados e com uma satisfação pela entrega do Diretor e pela qualidade e importância de toda sua obra.

Nota: 8.1 (Em exibição nos cinemas)

Divulgação - O Menino e a Garça

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