BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) minimizaram, nesta quinta-feira (11), os atos de leitura de cartas em defesa da democracia e do Estado de Direito pelo país e buscaram atrelar o movimento à esquerda.
A estratégia do entorno do presidente para fazer frente às adesões aos textos pró-democracia é dobrar a aposta nos atos bolsonaristas previstos para o 7 de Setembro.
A expectativa é conseguir no Dia da Independência uma forte adesão de apoiadores nas ruas e, dessa forma, mostrar força por parte do mandatário. Bolsonaro e aliados intensificaram na última semana as convocações para as manifestações do feriado.
Um dos manifestos lido nesta quinta foi organizado em reação a ataques do presidente ao sistema eleitoral e já tem quase um milhão de signatários.
Dentre os que endossam o documento, estão os banqueiros Roberto Setubal e Pedro Moreira Salles, copresidentes do conselho de administração do Itaú Unibanco, entre outros empresários.
Enquanto atos ocorriam por universidades pelo país com a leitura da carta, auxiliares palacianos buscaram se contrapor à ideia de que Bolsonaro propaga discurso golpista e tentaram divulgar ações positivas do governo.
"A Carta da Democracia é a Constituição. Qualquer outra é redundante", disse o ministro Ciro Nogueira (Casa Civil) à Folha.
Nas redes sociais, Ciro também chamou Bolsonaro de "democrata" e afirmou que a democracia "não pertence a ninguém."
O ministro ainda compartilhou notícias a respeito da redução do preço do diesel pela Petrobras e afirmou que trata-se da "verdadeira carta" do povo brasileiro.
Na mesma linha, bolsonaristas nas redes sociais criaram a hashtag #ADemocraciaÉdeTodos para se contrapor aos atos do dia.
"A verdadeira carta pela democracia será assinada com a sua presença nas ruas, no dia 7 de Setembro. #ADemocraciaÉDeTodos", disse no Twitter o empresário Luciano Hang, apoiador de Bolsonaro.
Aliados do presidente sabem que o saldo do dia é negativo para o mandatário, mas a avaliação é a de que os eventos desta quinta não têm efeito eleitoral. Eles dizem que os atos dialogam em boa parte com um público que já não votaria em Bolsonaro e que deve apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Dão como exemplo a presença de movimentos sociais e entidades sindicais nas manifestações desta quinta.
Um dos principais argumentos para tachar a carta pró-democracia de movimento de esquerda é o fato de o próprio Lula ter assinado o documento.
Ele não foi o único presidenciável ou ex-presidente a assinar. A senadora Simone Tebet (MDB-MS) e Ciro Gomes (PDT) também endossaram o texto.
Além disso, a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e os ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) referendaram a carta.
Num primeiro momento, Lula não queria assinar o manifesto, sob o argumento de que ele poderia ser acusado de tentar instrumentalizar o movimento. Mas mudou de ideia após outros presidenciáveis e ex-mandatários decidirem assinar o documento.
Em encontro recente com a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), Bolsonaro chamou o manifesto de "cartinha" e disse aos presentes para que eles o julguem por suas "ações".
"Assinar cartinha, não vou assinar cartinha. Até porque a carta, mais do que política, é um objetivo sério de voltar o país nas mãos daqueles que fizeram malfeitos conosco", disse na ocasião.
Nesta quinta, o chefe do Executivo ignorou a leitura da carta na USP e em outros pontos do país. Pela manhã, recebeu candidatos a senador, vice-governador e governador do PP para um café da manhã no Palácio da Alvorada.
Segundo o senador e candidato a governador do Rio Grande do Sul Luiz Carlos Heinze, a reunião teve objetivo de demonstrar apoio deles ao presidente e vice-versa.
"Fomos levar apoio a ele", disse Heinze. "Ele disse que recebe nosso apoio e vai nos apoiar também, respeitando as diferentes posições nos estados". No Rio Grande do Sul, Bolsonaro tem duplo palanque, com dois candidatos ao governo. Além de Heinze, o ex-ministro do Trabalho Onyx Lorenzoni (PL) concorre ao mesmo ao posto.
O senador disse à Folha que, apesar de o encontro ter ocorrido na mesma manhã em que a carta foi lida na USP, o manifesto não foi mencionado na conversa com Bolsonaro. "Isso é uma pauta da esquerda", afirmou.
Depois do café da manhã com os candidatos, Bolsonaro seguiu para o Planalto, onde teve reunião às 10h30 com o ministro da Justiça, Anderson Torres.
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