Essa é uma questão que surge ao se analisar casos como o da namorada de MC Ryan, vista em um vídeo sendo agredida e logo depois dizendo que irritou intencionalmente o agressor com seu comportamento.
Para quem está fora, essa situação pode parecer incompreensível. No entanto, ela reflete um padrão psicológico comum em muitos relacionamentos abusivos, onde a vítima muitas vezes minimiza ou justifica a agressão sofrida.

Essa dinâmica é parte do que se conhece como ciclo de violência, um processo no qual o relacionamento atravessa fases de tensão, explosão (agressão) e reconciliação. Após o episódio violento, o agressor costuma mostrar arrependimento, prometer mudanças e dar projeções de afeto, fazendo com que a vítima acredite que esse comportamento não se repetirá.

Esse ciclo constante de agressão e afeto gera uma confusão emocional que mantém a pessoa presa no relacionamento, fazendo-a questionar a gravidade da situação.

Além disso, é comum que uma vítima internalize a culpa, como se tivesse provocado uma agressão. No caso da namorada do MC Ryan, ela mesma alegou ter irritado o parceiro. Infelizmente, esse tipo de pensamento é frequente: acreditar que mudar o próprio comportamento ou agir de maneira diferente pode evitar agressões futuras.

Esse ciclo de autoculpabilização prejudica a autoestima e leva a pessoa a acreditar que merece sofrer violência. Outro aspecto a ser levado em conta é a dependência emocional e psicológica desenvolvida ao longo do relacionamento.

Frequentemente, o agressor cria uma narrativa de que a vítima não conseguirá sobreviver sem ele, seja no âmbito emocional, financeiro ou social. Isso fortalece um sentimento de aprisionamento, fazendo com que uma pessoa se sinta incapaz de deixar o relacionamento abusivo mesmo diante da evidente violência física e emocional existente.

A pressão social também exerce um papel significativo, principalmente em situações que envolvem figuras públicas ou relacionamentos altamente expostos. Muitas vítimas, como a namorada de MC Ryan, podem se sentir obrigadas a assumir papéis de defesa ou agressão para manter uma boa imagem pública do relacionamento ou evitar críticas e julgamentos.

Esse tipo de pressão pode aumentar a necessidade de proteger o parceiro, mesmo que isso implique encobrir ou minimizar casos de violência.

É nesse contexto, que a terapia desponta como uma ferramenta fundamental para auxiliar as vítimas a considerar o abuso e, aos poucos, quebrar o ciclo de violência.

O processo terapêutico tem o poder de reconstruir a autoestima, fornecer clareza emocional e ensinar à vítima como identificar sinais de abuso que frequentemente são disfarçados por episódios afetivos e promessas de mudança.

A terapia também proporciona um ambiente seguro onde uma pessoa pode construir uma rede de apoio e aprender a procurar ajuda, seja por meio de amigos, familiares ou serviços especializados. Frequentemente, quem sofre se sente isolado ou incapaz de expressar o que está passando.

Nesse contexto, a psicoterapia pode ser o primeiro passo para romper esse isolamento. Portanto, em vez de julgar, é essencial que haja acolhimento e empatia às vítimas de violência.

A terapia, com sua ênfase no acompanhamento emocional e fortalecimento da autonomia, pode ser uma ferramenta crucial para ajudar uma pessoa a romper esse ciclo destrutivo e retomar o controle sobre sua vida.

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Reprodução - Imagem ulustrativa de violência contra a mulher.

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Telma Elisa

Saúde Mental

Psicóloga e também jornalista, formada pela UFJF, Telma Elisa é especialista em comunicação assertiva e não-violenta, também pós-graduanda em Terapia Cognitiva Comportamental (TCC) pela PUC. Tem competência para te ajudar a lidar com ansiedade, relacionamentos, transtornos, e a desenvolver habilidades sociais para que seja possível levar uma vida mais plena.

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