RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Apesar de muita gente apostar que Bruno Luperi irá seguir a ideia central do seu avô, Benedito Ruy Barbosa, e manter o desfecho de várias subtramas de "Pantanal", a verdade é que ele traz algumas cartas na manga. Uma delas é o fim de Zuleica, interpretada por Aline Borges.
Em conversa com a Folha de S.Paulo, ela conta que vem surpresa boa por aí, com uma reviravolta de sua personagem, uma enfermeira que largou a carreira e a cidade onde vivia com os três filhos para ir morar no Pantanal ao lado de Tenório (Murilo Benício). Ela manteve o relacionamento mesmo após saber que ele tinha outra família ?ou melhor, mesmo depois de descobrir que "a outra" era ela.
Zuleica deixou de ser a mulher independente do início da trama para se transformar numa cordata e pouco vaidosa dona de casa. Ganhou o apelido de "Bruaca 2", numa referência à personagem de Isabel Teixeira, sua "rival" na disputa amorosa. Aline garante que tudo vai mudar, mas não entra em detalhes para não dar spoiler.
"Só posso dizer que o autor foi muito generoso com a história dessa mulher, e pensou em valorizar e colocar essa mulher preta no lugar que ela realmente merece estar nesse país". Aos 47 anos de idade e 27 de carreira, Aline comemora o papel de destaque. "Nunca tive um volume de cena tão grande, estou contracenando com grandes atores e aprendendo o tempo todo", comemora.
PERGUNTA - O que aconteceu com aquela mulher independente da novela? Por que ela vem sendo chamada de Bruaca?
ALINE BORGES - Quando comecei a ler o roteiro, tive dificuldade de entender como ela iria "embruacar" no Pantanal. Fiquei meio revoltada e quis defendê-la! (risos) Mas, aos poucos, fui entendendo como era importante mostrar essa dualidade. Ninguém é uma coisa só. A Zuleica é uma mulher empática, generosa, inteligente, independente, mas tem as suas fragilidades. Foram essas fragilidades que a levaram às escolhas erradas no passado. Acho que ela está aprendendo na base do sofrimento.
P.- Um tema polêmico ligado à trajetória de Zuleica é a relação dela fora de um casamento tradicional.
AB- Além de vivermos num país racista, nós vivemos em país extremamente machista, e o lugar que a Zuleica ocupa nessa relação é muito malvisto pela sociedade: a outra. É difícil defendê-la (risos), mas o pior é que ter uma família paralela nunca foi novidade, né? O que eu vejo é a dificuldade de não julgar o outro. As pessoas julgam o tempo todo e não conseguem ter empatia para entender os motivos que a fizeram se colocar nesse lugar.
P.- Ela está sofrendo agora na fazenda...
AB- (Interrompendo) Infelizmente, ela vai continuar sofrendo. Vai sofrer pra caramba nos próximos capítulos até entender que tudo é reflexo de escolhas mal feitas no passado. Aquela história que cada um tem o que merece é verdade. Ela vai descobrir isso agora.
P.- Zuleica é o seu papel mais desafiador?
Ela é o grande personagem da minha vida. Participei de uma serie policial chamada "A Lei e o Crime", em 2009 na Record, e foi o grande divisor na minha carreira, mas a Zuleica está nesse lugar de desafio. Nunca tive um volume de cena tão grande. Estou contracenando com grandes atores e aprendo o tempo inteiro.
P.- Já gravou toda a sua participação?
AB- Ainda não gravei tudo. Estamos na reta final e o coração já está apertado.
P.- Há chances de alguma reviravolta de sua personagem?
AB- Sim, vai ter. Graças as Deusas! (risos). Não posso dar spoiler, mas o que eu posso dizer é que o autor foi muito generoso com a história dessa mulher e ele pensou em valorizar e colocar essa mulher preta no lugar que ela realmente merece estar nesse país. Vai ser incrível.
P.- A pouco mais de um mês das eleições presidenciais, como você vê o momento político pelo qual o Brasil está passando?
AB- A gente vive em um momento muito difícil e as pessoas estão com os nervos à flor da pele. Todo mundo anda muito esgotado e sugado por uma energia de ódio. Acho péssimo. E, mais do que nunca, eu procuro buscar o meu eixo e me conectar com a energia de luz, da esperança e do amor. Qualquer opinião que você dê ou, então, caso discorde do outro, acontecem os ataques. Falta respeito. Tenho muita cautela.
P.- Cautela?
AB- Sim. Tenho cautela porque acredito que o artista tem um compromisso com a sua fala e com a sua voz dentro de uma sociedade. A minha voz vai ter um peso para as pessoas que me admiram e é preciso ter responsabilidade. Eu procuro ter sempre cautela e responsabilidade.
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