SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Danny Boyle, 65, era bem fã do The Clash na juventude, mas admite que é outra a banda que mais teve influência sobre tudo o que viria depois, inclusive sobre ele. "Eu não estaria aqui sem os Sex Pistols, tenho absoluta noção disso", afirma o diretor em bate-papo com a imprensa.

Vencedor do Oscar por "Quem Quer Ser um Milionário?" (2008), o britânico dirige os seis episódios da minissérie "Pistol", que chega ao Brasil nesta quarta-feira (31) pelo serviço de streaming Star+. A produção é baseada nas memórias de Steve Jones, guitarrista da banda.

"Venho de um histórico muito ordinário, da classe trabalhadora", lembra Boyle. "Querendo ou não, [antes dos Pistols] você iria se transformar no seu pai, você ia seguir os passos dele. Minhas irmãs seguiriam os passos da nossa mãe. Não tenho dúvidas de que essa revolução que eles criaram mudou o destino de muitas pessoas."

O diretor compara o espólio da banda ao deixado por Elvis Presley entre os adolescentes americanos. "Foi algo que liberou as pessoas dessa idade para se expressarem", diz. "Era como se você não precisasse mais colocar os sapatos e seguir o seu pai na fábrica, você podia fazer o que quisesse. Isso é a própria contracultura, foi um ponto de ignição."

"Eles literalmente derrubaram os portões do poder", admira-se. "Lembro muito claramente, havia um senso de: 'Uau, ok, isso está mesmo mudando, somos livres, somos mais livres do que antes'. Então, sim, foi algo que significou muito para mim."

A série mostra a gênese da banda, que acabaria sendo a precursora do movimento punk, cujos ecos foram ouvidos muito além da cena musical. Também houve impactos na moda e no comportamento a partir da metade da década de 1970.

Os primeiros episódios mostram como se chegou à formação inicial, com Steve Jones assumindo o posto guitarrista (mesmo sem dominar ainda o instrumento), além de Paul Cook como baterista e Glen Matlock como baixista. Posteriormente, Jon Lydon, o Johnny Rotten, chegaria para ser o vocalista principal e, em 1977, Matlock seria substituído por Sid Vicius.

Criador e roterista da série, Craig Pearce (da recente cinebiografia "Elvis") conta o que, para ele, fazia dos Sex Pistols revolucionários. "A sociedade britânica tinha a monarquia e um sistema de classes que garotos como os da banda cresceram aprendendo que deveriam reverenciar", avalia. "O lugar deles no sistema estava muito bem estabelecido: lá embaixo, na base."

"O que os Sex Pistols fizeram foi dizer: 'Nós não ligamos para isso, não vamos ser bonzinhos, não vamos tentar agradar vocês, vamos nos expressar'", continua. "Eles inspiraram toda uma geração, que percebeu que não importa se você não tem formação, se não tem dinheiro, vantagens ou um histórico familiar, se você tem algo a dizer, dá para achar um jeito de dizer."

Intérprete de Steve Jones, o ator Toby Wallace, 27, contou que o elenco passou cerca de dois meses praticamente imerso na criação de seus personagens. Ele também conversou com o próprio músico e ainda teve a ajuda de Karl Hyde e Rick Smith, da banda Underworld, para aprender como se comportar como um astro do rock.

"Nos éramos uma banda, nós éramos uma banda completa", afirma. "Os shows que aparecem na série são bem loucos, porque nós tocávamos em lugares de verdade, com uns 100 figurantes. E o Danny dava uns discursos antes de começar para animá-los. Eram bem poéticos e empoderadores, então todo mundo ficava louco. Eles amavam."

Louis Partridge, que faz o papel de Sid Vicius, conta que em alguns momentos eles começaram a se misturar com os retratados. "Chegou ao ponto de nós falarmos ao público como se fossemos os personagens", conta. "Foi muito surreal."

"Uma coisa que eu achei muito única sobre a série é que nada era pré-gravado ou feito em estúdio", acrescenta Christian Lees, que vive Glen Matlock na produção. "Era tudo muito cru. O que você ouve na série é o que a equipe e os figurantes ouviram. Acho que isso ajuda muito a série, porque é como os Sex Pistols eram: crus."

Para Anson Boon, que interpreta John Lydon, mergulhar nesse universo foi uma surpresa. "Eu não os conhecia tão bem quanto agora", admite. "Eles podiam não ter formação musical, mas faziam algo único e muito impressionante. Uma boa medida é que a primeira música deles, "Lazy Sod", só usava três cordas da guitarra, enquanto nas últimas tinham várias mudanças de chave. Só isso já mostra a jornada pela qual eles passaram. Como ator, isso foi maravilhoso de explorar."

Jacob Slater, o Paul Cook da série, diz que aprendeu com os roqueiros que é preciso se arriscar. "Mesmo que não dê certo, pelo menos você tentou", diz. "Espero que os jovens de hoje possam assistir e pensar que podem fazer as coisas de modo diferente dos demais, seguindo suas próprias ideias, porque é isso que os Sex Pistols representam para mim.

Além dos integrantes da banda, a série também dá foco a nomes dos bastidores, como o empresário Malcolm McLaren, vivido pelo ator Thomas Brodie-Sangster. "Nunca interpretei ninguém tão afrontoso", conta. "Ele era bem extrovertido e meio maluco, na verdade. Foi um desafio divertido tentar encontrá-lo e torná-lo real. Tivemos semanas e semanas de ensaio para experimentar, mas foi algo que continuou até o final das gravações."

As mulheres que foram importante na vida dos integrantes da banda, bem como do movimento punk, também estão lá. São nomes como o da cantora Chrissie Hynde, o da estilista Vivienne Westwood e o da modelo Pamela Rooke, além de Nancy Spungen, a namorada problemática de Sid Vicius. Elas são vividas por Sydney Chandler, Talulah Riley, Maisie Williams e Emma Appleton, respectivamente.

"Vivienne é um ícone por si só", lembra Riley. "Em termos de impacto e reconhecimento, dá para dizer que ela é tão grande, se não maior, que os Sex Pistols. Ela era incrível, porque enquanto o Malcom dizia: 'Caos é criatividade', quem botava a mão na massa era ela, para fazer a visão dele criar vida. Acho que ela foi a contraparte dessa filosofia, o que foi legal de interpretar.

Chandler lembra que Chrissie Hynde também é parte viva da história. "O foco na série é mostrar esses garotos antes de se tornarem as lendas que viraram", conta. "Ao procurar a personagem, o importante para mim foi tentar me identificar com essa jovem que não era conhecida por ninguém, mas que ajudou o barco a zarpar. Ela deixou uma marca muito importante. E eu aprendi muito vivendo alguém assim."

Já Appleton lembra que, apesar de ser uma série centrada em figuras masculinas, as personagens femininas foram igualmente bem desenvolvidas. "São figuras que não parecem criaturas mitológicas, mas com várias facetas e ancoradas nas emoções humanas", elogia. "Eram pessoas reais, com suas relações e dinâmicas, já no roteiro. Nós só precisamos agarrá-las e mergulhar fundo."

"PISTOL"

Quando: Estreia 31/8

Onde: No Star+

Elenco: Toby Wallace, Anson Boon, Jacob Slater, Christian Lees, Louis Partridge, Sydney Chandler, Emma Appleton, Maisie Williams, Talulah Riley e Thomas Brodie-Sangster

Direção: Danny Boyle


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