RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - No tapete vermelho já dava perceber que o clima iria esquentar na 21ª cerimônia de entrega do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, na Cidade das Artes, no Rio de Janeiro. A menos de dois meses das eleições presidenciais, era esperado que a discussão política estivesse presente na premiação, uma das principais da indústria cinematográfica nacional. Mas talvez o que tenha surpreendido foi a veemência e a frequência dos discursos anti-Bolsonaro no palco e fora dele.
Historicamente ligada à esquerda, a classe artística estava lá em peso -e disposta a se fazer ouvir.
"O que eu acho dos artistas que defendem o Bolsonaro? Simplesmente não entendo. Não tem como", resumiu Claudia Abreu, uma das indicadas ao prêmio de atriz coadjuvante. "Fazer cinema no Brasil hoje em dia é um desafio muito grande, a gente sofre uma sabotagem muito grande, mas estamos resistindo", afirmou ela, antes do início da premiação.
Acompanhado da mulher, Giovanna Ewbank (uma das muitas ali a optar pelo vermelho na hora de se vestir), Bruno Gagliasso foi mais, errr, bem... ele foi mais enfático em seu discurso. "Esses merdas passam e a cultura fica", disse o ator, ao ser perguntado sobre "o que acha" do atual cenário cultural do país. "Esses merdas vão embora agora", completou Gagliasso, que evita citar nominalmente o presidente: "Não podemos dar nome ao abominável".
Bárbara Paz também conseguiu passar sua mensagem sem dar nome aos bois. "Esse governo não dá nem para comentar. Alguém acredita que ele realmente não é contra a cultura?", quis saber a atriz e diretora, mostrando que acompanhou o Flow Podcast (ou a repercussão dele) no qual Bolsonaro foi entrevistado, nesta terça-feira (9). No papo, ele disse não ser inimigo da cultura e voltou a criticar a Lei Rouanet.
O clima era esse antes de começar a cerimônia: um mix de lamentações com o "pouco carinho" que recebem do governo e da alegria pela retomada dos eventos presenciais e do retorno da premiação ao calendário cultural da cidade (e do país). "Estamos de volta! Ainda temos cultura e ainda somos resistência. Podemos e temos que fazer muito mais. Agora temos que ir para as ruas", conclamou Cacá Diegues, no apagar das luzes de uma cerimônia que começou com Silvero Pereira, apresentador da noite ao lado de Camila Pitanga, cantando três músicas.
Ao final de "Sujeito de Sorte", de Belchior, ele "striked a pose" e lançou um 'L ' de Lula no único canhão de luz, focado nele. Pronto. Foi a deixa para Camila -e a plateia- se soltarem. "A gente quer o Lula de novo", cantarolou a atriz, no mesmo ritmo do verso "ano passado eu morri, mas este ano eu não morro", o mais conhecido do hit de Belchior. O pessoal que lotou a Cidade das Artes começou então a entoar o "grito de guerra" pró-Lula. "De pé, né, gente. De pé! Mostra a plateia!", animou-se Pitanga.
Dois berros de "Fora Bolsonaro!" foram ouvidos em seguida, e Camila fez graça: "Eu nem falo mais o nome dele.. vamos lá, que o voto é secreto", ironizou, de olho no relógio -ainda faltavam quase duas horas de uma premiação cujo clima de fervor político se mostrou presente desde o seu primeiro minuto.
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