SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Uma das maiores críticas à indústria da moda é que seus pomposos desfiles quase sempre são protagonizados por pessoas brancas, magras e altas. Prova disso é que mesmo o Brasil sendo um país majoritariamente negro, sua principal modelo é -desde os anos 1990- Gisele Bündchen, que ostenta uma beleza semelhante à da boneca Barbie.

Nos últimos tempos, porém, com a crescente expansão de discussões sobre diversidade, as passarelas dão cada vez mais espaço àqueles que furam a bolha fashionista com outros fenótipos. É o caso, por exemplo, de Santti, parte da nova geração de modelos brasileiros que vem fazendo sucesso.

De pele preta rentita, Santti é um nome promissor do setor. Já desfilou nas duas últimas edições da SPFW, a São Paulo Fashion Week, duas vezes na Casa de Criadores, e estampou algumas das maiores revistas de moda do Brasil e de Portugal.

Em entrevista, o baiano conta que, ainda assim, continua a ser um dos poucos modelos pretos da geração Z -os nascidos entre 1995 e 2010- a receber algum destaque na indústria. "Às vezes, sou o único preto nos trabalhos", diz ele.

O jovem, de 20 anos, afirma que o setor está, sim, mais diverso, se comparado há décadas atrás, com "mais modelos gordos, transexuais e negros", mas segue limitado e, acima de tudo, pouco acessível. Para explicar a tese, ele destrincha a própria trajetória.

Até 2019, Santti levava a vida como auxiliar de pedreiro e ambulante, vendendo bolos de sua mãe. Ele diz que até queria ser modelo, mas tinha a sensação que esse era um universo distante de sua realidade.

"Não tinha tempo de pesquisar sobre moda", afirma, ressaltando também que o setor é muito regionalizado, com quase nenhuma presença no interior do país. "Nas cidadezinhas brasileiras, não tem esse tipo de evento."

O ingresso na moda veio quando ele decidiu arriscar a sorte e marcar uma avaliação de perfil numa agência de modelo de Salvador. E seus atributos, digamos, estéticos, renderam um contrato com a One Models Bahia.

De lá para cá, Santti passou a aprender a desfilar e a aplicar técnicas de pose. Entre um flash e outro, foi ganhando visibilidade e sendo convidado para novos trabalhos. Mas a virada da carreira veio mesmo em 2020, quando foi convidado para desfilar na SPFW, vestindo looks de Isaac Silva, um dos principais estilistas contemporâneos do país.

Naquele mesmo ano, a agência paulistana Way Model convidou o modelo para integrar o time de belezas da empresa -e foi esse convite que levaria Santti a viralizar nas redes, semanas depois, quando abriu uma vaquinha online.

Nela, o modelo pediu ajuda financeira para arcar com os custos da passagem e da mudança para São Paulo, cidade que ele vê como a melhor opção brasileira para quem quer esbanjar glamour em passarelas e posar para grandes estúdios. Enquanto isso, também rifou coleções de perfume.

Em algumas semanas, juntou uma grana e se mudou para a capital paulista, onde vive agora, com uma agenda apertada de ensaios e campanhas. "O que mais me deixa feliz é que agora, além de me sustentar, consigo também ajudar a minha mãe, em Salvador', diz Santti.

O modelo afirma que seu foco está na carreira internacional e celebra as mudanças em sua vida, ressaltando, porém, o fato de ser uma exceção. "O Brasil é um país cheio de belezas. Faltam só oportunidades."


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