SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A pouco mais de uma semana das eleições, a 22º edição do festival Mada, que aconteceu em Natal, no Rio Grande do Norte, nos dias 23 e 24 de setembro, foi marcado por shows de grandes nomes da música pop nacional, pela valorização dos artistas locais e por gritos de apoio a Luiz Inácio Lula da Silva, candidato a presidente pelo Partido dos Trabalhadores.
Baiana System, Mayra Andrade, Djonga, Don L, Emicida, Marina Sena, Gloria Groove e Linn da Quebrada foram apenas alguns dos nomes que comandaram os dois palcos durante as noites quentes na Arena das Dunas, lugar escolhido para os shows. A curadoria ainda reservou espaços para artist as locais como a cantora drag Potyguara Bardo, o rapper Cazasuja, o projeto Retrovisor misturando rock e MPB e o grupo Luísa e os Alquimistas.
Os dois dias de evento foram de gramado cheio e público sedento por música. Vale lembrar que a edição deste ano do Mada era para ter acontecido em 2020, mas que por conta da pandemia de Covid-19 teve que ser foi adiada. "Este festival é o mais aguardado pelo povo potiguar por ser sempre acessível em termos de grana e o line-up nunca decepcionar", é o que afirma Djamila Maria, que viajou de Parnamirim, a 20 quilômetros de Natal, para acompanhar o evento.
Mas uma coisa que ninguém conta para um sudestino, é que assistir a um show de uma banda de origem nordestina em terras da região nordeste tem um clima diferente. Baiana System, por exemplo, uma das apresentações mais aguardadas da segunda noite, fez o ambiente do estádio ficar mais quente que o dia.
Durante o show de pouco mais de uma hora, os fãs gritaram palavras de ordem que iam além dos temas das eleições, envolvendo indígenas, lutas de movimentos sociais e agrários. Diferente de outros grandes festivais como Rock in Rio e Lollapalooza, onde protestos são mais ligados à política partidária.
As músicas também fazem mais sentido. Na canção "Lucro (Descomprimido)", do álbum "Duascidades", do Baiana Sytem, por exemplo, em um dos versos mais conhecidos da banda diz: "Tire as construções da minha praia, não consigo respirar", e continua, "especulação imobiliária, e o petróleo em alto mar. Subiu o prédio eu ouço vaia", se refere, em partes, na verticalização da orla de Natal, que, além de bloquear o sol, estudos do Departamento de Arquitetura da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (Darq/UFRN) afirmam que "a construção de prédios maiores na orla pode prejudicar a ventilação em áreas da cidade".
Don L foi outro artista que causou identificação imediata ao subir no palco. Até porque o rapper nascido em Fortaleza, em seus dois últimos discos ?"Roteiro Pra Aïnouz, Vol. 3", e "Vol. 2", lançados de forma decrescente? falou do preconceito da indústria musical sudestina e os dilemas de sair do nordeste e ir morar em São Paulo.
Durante o show no Mada, seus fãs levantaram bandeiras vermelhas de organizações populares e cantaram cada verso das canções como se fossem louvores religiosos: com entusiasmo e emoção. No término do show, após falar da importância de cobrar os governantes por mais políticas sociais e menos violência contra os povos minoritários, o rapper disse: "Vamos cobrar o Lula para que ele faça uma verdadeira política de esquerda nas ruas, certo?", em relação a violência policial.
Os natalenses da banda Luísa e os Alquimistas, inauguraram o primeiro show do novo álbum "Elixir" durante o evento. Luísa comentou que sua obra reflete o momento atual que os artistas nordestinos passam no "pós-pandemia", como as dificuldades de fazer viagens e ganhar dinheiro. "Desde que Bolsonaro entrou na presidência enfatizamos as dificuldades desse governo e durante os shows afirmamos a nossa posição política. Por isso que durante a música "I Love Lulu", nós cantamos: "I Love Lulinha você é o presidente que faltava na minha vida", conta a cantora.
Seguindo na seara das manifestações políticas, foi durante os shows dos rappers Djonga e Emicida que o público fez mais coro a favor do Lula. Importante ressaltar que Jair Bolsonaro, candidato à reeleição presidencial pelo Partido Liberal, poucas vezes foi mencionado durante os shows, seja em tom a favor ou crítico. Por outro lado, em todas as apresentações, era comum ver o público levantar as mãos e fazendo um "L" ?referência ao candidato petista?, e puxando coros pró-Lula.
Saindo do campo eleitoreiro, outra coisa única vivenciada em festivais feitos no norte e nordeste do país, é a atenção que o público dá a cada atração. Independente do gênero ou da importância no line-up, todos os artistas são recebidos com entusiasmo pelo público.
O mesmo não acontece com frequência em festivais no sudeste. No Coala, em São Paulo, evento que aconteceu uma semana antes que o Mada, por exemplo, muito por causa do perfil do público, amante de brasilidades, os shows de rap receberam menos atenção que os de MPB. BK foi menos celebrado que Liniker, e o "Brime!" atraiu menos gente que a banda Bala e Desejo.
Já no Mada, de modo geral, o público curtiu todos os shows. A resposta para a receptividade pode ser pela ausência do nordeste no circuito de shows dos cantores mais pops. Artistas famosos nos streamings de música ainda circulam pela primeira vez no estado, é o caso da Marina Sena, que estreou sua apresentação em Natal durante o festival.
Outro ponto alto da curadoria foram os encerramentos do evento. Durante o "After" ?momento quando as principais atrações terminavam? artistas da música eletrônica local ocuparam o palco e o clima do evento continuou fervilhando. Os responsáveis foram o Baile do DK e os DJs Pajux, Elisa Bacche, Janvita e Iguia T, todos representantes da cultura clubber que ainda agitam Natal.
Com cerca de 25000 pessoas, o saldo do Mada foi positivo e a tendência é que, em 2023, segundo os organizadores, o festival seja ainda maior e com mais atrações, já que será comemorado o 25º ano do evento. Resta saber se outros festivais pelo Brasil seguirá a mesma receita.
O repórter viajou a convite do festival Mada.
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