SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A terceira temporada de "Bar Aberto", reality show transmitido pelo Youtube, começou em 15 de setembro, e segue firme em sua proposta: revelar bartenders amadores que ajudem a desmistificar o mundo dos drinques, extremamente masculino e heteronormativo. Um novo episódio vai ao ar nesta quinta-feira (13).
A ideia para esta edição era contar com um elenco mais plural e o público realmente pôde conferir quatro personalidades que não apenas representam a diversidade, como são ativistas das causas da comunidade LGTBQIA+. Com relação à questão racial, dos dez participantes, cinco são negros e cinco brancos. E já houve polêmica sobre o tema.
Seis pessoas continuam na disputa pelo título de "melhor bartender amador do Brasil", como promete o programa. O vencedor ganhará uma viagem para a Europa para conhecer as fábricas de cinco marcas famosas, além de um bar personalizado.
Os apresentadores são a influenciadora digital Foquinha e o premiado bartender Márcio Silva. A cada episódio há um convidado diferente. Já passaram nesta temporada Chico Barney, Mítico e Igão do Podpah, Spartakus e Sergio Malheiros.
Os participantes seguem a dinâmica de preparar drinques sugeridos pelos fãs do programa no Twitter. Após a avaliação dos jurados, o vencedor consegue uma vantagem que saberá apenas no próximo episódio. Assim, as duas bebidas que menos agradarem os jurados ou que tiverem algum ingrediente a menos vão para a saideira, uma nova disputa eliminatória. Só o mais bem avaliado permanece no game.
Nesta temporada, o primeiro a ser eliminado foi o publicitário Petherson Rogger, Peth, homem cis gay, que, apesar de ter trabalhado em restaurante por dez anos como garçom e sommelier, não teve muito tempo para se mostrar na competição. Três representantes da comunidade LGBTQIA+, no entanto, estão ganhando destaque e avançando na competição: Jade Odara, Rochelly Rangel e Eduarda Konazion.
A garçonete Rochelly Rangel foi aluna da primeira turma do Transgarçonne, curso criado na faculdade de Gastronomia, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) para preparar pessoas trans para o mercado de trabalho. Atualmente, é sua embaixadora.
Para ela é importante que uma mulher preta participe de um reality como esse para ressignificar a ocupação do espaço que lhe é de direito como qualquer outra área, além de encorajar outras pessoas a buscarem seus sonhos.
"A coquetelaria era um ambiente extremamente machista, na maioria ocupado por homens brancos e nenhuma mulher trans preta. Num programa que pode ser assistido mundialmente, estou representando não só mulheres trans, mas mulheres em geral. Fico muito feliz por isso", diz Rochelly. Ela conta que passou 16 anos buscando uma vaga no mercado formal e foi na gastronomia que as portas se abriram para seu primeiro emprego com carteira assinada.
"Poderia ter escolhido ser a pior pessoa do mundo, pois era tratada com desrespeito e com ódio, mas preferi ocupar meu espaço com dignidade, amor e respeito. Desejo que as pessoas não deixem de ser quem elas são por causa dos seus corpos e de suas peles, que esse preconceito e esse racismo saia dos nossos corações. Somos todos iguais."
A drag queen e ativista Jade Odara afirma que muitas vezes a comunidade LGBTQIA + busca suporte profissional nos bares, em shows, na noite, e estar no elenco de Bar Aberto é mostrar que o bar e a coquetelaria são para todos os corpos. "Nós, drags, somos muito mais do que plumas e paetês, temos muita potência."
A travesti e bailarina Maria Eduarda Konazion afirma que a coquetelaria mudou sua vida e que no Distrito Federal ministrava aulas de bartender para outras pessoas trans.
Ela diz que não é a primeira a ocupar esse espaço e junto com Rochelly continuará ocupando para ser referência para outras travestis. "Meu objetivo é ganhar e com o prêmio transformar em mais possibilidades para pessoas trans e travestis. Pretendo com o bar conseguir estruturar treinos e aulas para profissionalizar mais pessoas trans no mercado da coquetelaria."
POLÊMICA
Rochelly ganhou o primeiro episódio. Com a vantagem que conseguiu, decidiu retirar a coqueteleira de todos os colegas no episódio seguinte, mas sua estratégia se virou contra ela, que acabou indo parar na saideira por não ter conseguido entregar os drinques a tempo. Porém, conseguiu voltar.
No terceiro programa, a criadora de conteúdo Gabriela Graal tinha a vantagem por ter feito o melhor drinque anteriormente e poderia retirar minutos de quatro colegas. Ela escolheu os quatro participantes negros que permaneciam na competição, o que gerou polêmica dentro e fora do jogo, inclusive uma manifestação no episódio seguinte, no qual a maioria dos participantes usou roupas pretas.
Nesse dia, Gabi já havia sido eliminada, mas ela ponderou que cometeu um erro e que sua intenção não era de discriminação racial, mas que escolhera tais pessoas porque as demais haviam a ajudado durante a competição.
No terceiro episódio, a chef especializada em cozinha ancestral africana Aline Chermoula, apontada pelos apresentadores como uma das favoritas no início do game, pede para que a chamem de Chermoula e não pelo primeiro nome, sugerindo que seu rendimento não estivesse tão bom por causa disso. O pedido foi atendido, mas a participante foi eliminada no episódio seguinte após concorrer na saideira com Rochelly.
Para Chermoula, pessoas negras participarem do programa é ter representatividade, mostrar ao público que estão presentes em todas as profissões e podem estar onde quiserem. "Há muitos bartenders negros e negras, porém pouco se ouve falar sobre eles, as mídias apresentam muito mais profissionais não negros e assim reforça a imagem de que não há profissionais negros ocupando estes espaços, em vez de valorizá-los."
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