RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Ao comentar o resultado das eleições no Rio -onde tentou, sem sucesso, uma vaga no legislativo-, o ator Mário Gomes, 69, declarou à Folha de S.Paulo acreditar em uma fake news atribuída ao presidente da Colômbia, Gustavo Petro, de que residências seriam divididas compulsoriamente com outras famílias.

"Eu e minha mulher estamos preocupados em perder a nossa casa", disse. A Justiça, no entanto, já decidiu a perda da mansão onde ele mora com a mulher e dois filhos. O imóvel foi leiloado para pagar uma dívida trabalhista com costureiras.

Apoiador do atual presidente Jair Bolsonaro (PL), Gomes fez a declaração, com tom alarmista, preocupado com uma possível vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. O que ele não revelou é que está envolvido em um imbróglio judicial iniciado em 2007.

Ao desfazer uma empresa de confecção, Gomes ficou devendo salários a 84 costureiras do Paraná, em dívida avaliada, na época, em R$ 923 mil. Para pagar o calote, a Justiça do Trabalho determinou em 2011 que o imóvel fosse leiloado. Ele foi arrematado por R$ 720 mil, equivalente a 48% do valor de avaliação, de R$ 1,5 milhão.

A arrematante é uma associação de servidores públicos que, apesar de ter seu nome inserido no documento de RGI (Registro Geral de Imóveis), não teve o seu título de posse em definitivo. Gomes e a esposa, Raquel Palma, alugam a casa para festas pelo Airbnb e em 2021, tiveram um lucro de R$ 35,8 mil com os aluguéis.

Mesmo morando no local, eles não pagam o IPTU: a dívida já está em R$ 94 mil. A conta vai para a associação, que também recebe cobranças de cotas do condomínio e taxas de incêndio.

UNIÃO ESTÁVEL ANULOU LEILÃO, 'DESANULADO' DEPOIS

Gomes comprou o terreno em 1986, no auge da fama como ator da Globo. Nos anos 2000, conheceu Raquel, com quem teve dois filhos. Ela, arquiteta, decidiu projetar a casa para a família morar.

Com o declínio da carreira do ator e a falência de sua empresa de confecção, as dívidas cresceram. Com a casa já leiloada, Raquel contestou a decisão afirmando que não havia sido intimada. Por ter relação estável com o ator, seria meeira do imóvel.

O TRT (Tribunal Regional do Trabalho), do Paraná, onde tramita a reclamação trabalhista reconheceu o argumento de Raquel e anulou todos os atos processuais posteriores à penhora. A associação, então, entrou com ação rescisória, contestando a decisão, e venceu.

Raquel contestou novamente a decisão, mas o TRT, em decisão no último dia 4 deste mês de outubro, apontou que ambos não haviam formalizado a união estável na época da arrematação. Procurado, o advogado de Raquel não respondeu ao contato para saber se ainda cabe recurso à decisão. A defesa da associação arrematante disse que não irá se manifestar.

Procurado novamente pela Folha de S.Paulo, Mário Gomes não respondeu às indagações da reportagem sobre o leilão da casa. Os advogados envolvidos no caso não se manifestaram.

Já em Entre Rios do Oeste, localizada a 508 km de Curitiba, onde estão as costureiras que esperam pelo pagamento dos salários, resta esperança. "Todos os dias alguém liga para o escritório, para saber quando vão receber o dinheiro", disse a advogada Márcia Tumelero.


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