SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Alexandre de Moraes parecia pouco à vontade diante da câmera de Bob Wolfenson durante uma sessão de fotos em 15 de setembro, em Brasília.
Não se sabe a razão do ar circunspecto do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) naquele momento. Talvez sentisse o fardo dos ataques constantes vindos de Jair Bolsonaro (PL) e dos aliados do presidente da República.
Wolfenson tentou deixar o ambiente descontraído. "O senhor está muito sério", disse a Moraes, posicionado diante de uma das paredes de vidro do STF --ao fundo, via-se bem o Palácio do Planalto.
"Olhando para onde estou olhando, fica difícil sorrir", respondeu o ministro, que, enfim, soltou uma risada.
Esse foi um dos encontros de Retratos de uma Democracia, projeto visual publicado pela Folha no fim de semana do 1º turno das eleições. A iniciativa, preparada ao longo de um ano, resultou em painel com 78 fotos inéditas, com representantes de diversas vertentes ideológicas --da filósofa e ativista Sueli Carneiro ao empresário Luciano Hang.
Ao ler uma biografia de Richard Avedon (1923-2004), um dos maiores nomes da fotografia americana do século 20, Wolfenson teve a ideia de fazer no Brasil algo semelhante a "Democracy", o último projeto de Avedon.
Publicados na revista New Yorker em 2004, os retratos formaram um mosaico da vida política nos EUA, mesclando famosos e anônimos.
Em agosto de 2021, Wolfenson apresentou a ideia à Folha, que aceitou a parceria. Em nome do jornal, a editora de Arte, Thea Severino, e o repórter Naief Haddad ficaram responsáveis pela produção das fotos. Meses depois, o projeto ganhou força com a entrada de Renata Megale, produtora e assessora de imprensa. Soraya Chara também contribuiu para o trabalho.
As negociações com as equipes dos principais candidatos à Presidência, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro, foram as mais longas. Arrastaram-se por cerca de um ano.
Foram dezenas de contatos com amigos e assessores de Lula até que Ricardo Stuckert, fotógrafo oficial do ex-presidente, avisou que o retrato seria feito em 19 de agosto.
Wolfenson foi ao escritório da campanha de Lula no bairro do Pacaembu, em São Paulo, e levou fotos do político que havia feito nos anos 1970 e 1990. O candidato, porém, não se lembrava dele. "Ah, foi você quem fez essa?!", disse apontando para uma delas.
O encontro com Bolsonaro aconteceu três semanas depois. O presidente gravava entrevistas na sede do SBT, em Osasco, quando Fábio Wajngarten, chefe de comunicação da campanha, pediu ao fotógrafo que fosse o mais rápido possível à emissora.
Instantes antes do início da sessão, um das pessoas na sala lembrou que Wolfenson tinha sido fotógrafo da revista Playboy. "Vai me fotografar pelado? O imbrochável!", comentou Bolsonaro, rindo.
A maior parte das imagens foram feitas em São Paulo por Wolfenson, com apoio de seus assistentes --Flávia Faustino, Augusto Jordão e Felipe Campos participaram em diferentes momentos. Duas viagens a Brasília, uma ao Rio de Janeiro e outra a Belo Horizonte complementaram o trabalho.
"Retratos...", diz o fotógrafo, não pode ser visto como "um projeto com recorte sociológico, é um trabalho de oportunidades, com alguns limites".
Entre esses limites, a decisão tomada pela Folha e por ele de não convidar candidatos ao Legislativo. Seria inviável retratar todos; por outro lado, fotografar só alguns poderia suscitar questionamentos em relação aos critérios.
Como dizia Avedon, "o fotógrafo é um especialista em breves encontros". Dezenas desses encontros resultaram em um projeto que, ao que tudo indica, terá vida longa: os retratos podem ser vistos aqui e devem dar origem a uma exposição nos próximos meses.
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