SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O resultado das eleições está em aberto, mas se ele dependesse do apoio da classe artística, Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores, sairia vencedor no pleito. Isso não significa que haja unanimidade no pensamento político dos artistas, mas que aqueles favoráveis ao petista são muito mais explícitos em demonstrar seu apoio.

Enquanto campanhas para voto útil em Lula na reta final reúnem nomes de peso e são lideradas por Caetano Veloso e Paula Lavigne, e artistas do porte de Anitta declaram voto no petista nas redes, os que estão do lado de Jair Bolsonaro, do Partido Liberal, parecem ainda ensaiar uma tímida movimentação virtual.

É reflexo disso o evento promovido pela campanha do PT na última segunda, em São Paulo. Lula reuniu de Caetano e Gilberto Gil, que participaram de maneira remota, até Pabllo Vittar, que esteve presente no encontro e se emocionou fazendo um discurso de agradecimento às políticas sociais dos governos petistas.

É um apoio que vai além da música. Da atriz e modelo Bruna Marquezine ao escritor Itamar Vieira Junior, autor de "Torto Arado", a campanha de Lula tem recebido vídeos e discursos fervorosos a seu favor. É um contraste com o que acontece com Bolsonaro.

Apoiado por uma parte significativa dos cantores sertanejos, o atual presidente tem convivido com um certo silêncio da classe artística. Com exceção de alguns nomes mais barulhentos, como o cantor Latino e os vocalistas dos Raimundos, Digão, e do Ultraje a Rigor, Roger Moreira, são poucas as manifestações públicas de artistas conhecidos a favor do atual mandatário.

A lista de nomes que o apoiaram no passado, mas que já há algum tempo não se manifestam sobre o assunto, inclui Gusttavo Lima, Zezé Di Camargo e Sérgio Reis, para lembrar alguns.

O primeiro deles, depois de ser bastante criticado pelos altos cachês recebidos com dinheiro público, no que ficou conhecido como a "CPI do sertanejo", se afastou dos comentários de viés político.

Lima chorou numa live, dizendo que "é muito triste ser esculhambado, tratado como se fosse um criminoso, um bandido". "Aqui existe um ser humano, um pai de família, ninguém aqui é bandido", ele disse. Foi um sinal de que o cantor ficou incomodado com a visibilidade negativa que recebeu com a polêmica.

Depois de ter seu nome frequentando o noticiário, ele ainda deixou de ser sócio do Frigorífico Goiás, conhecido por ter criado a chamada Picanha Mito, com o quilo vendido a R$ 1.800, em homenagem ao presidente. Se continua apoiando Bolsonaro, o cantor não tem deixado isso claro a dias do primeiro turno.

Esse receio de retaliação a partir da manifestação política foi uma tônica identificada pela própria campanha de Bolsonaro. O caso de Lima ainda é parecido com o da dupla Zé Neto & Cristiano, que ecoou o discurso do presidente ao dizer que não usa a Lei Rouanet e criticar a tatuagem íntima de Anitta.

Mas, diferentemente de Lima, Zé Neto continua indicando seu apoio ao candidato do PL, ainda que de maneira discreta. Recentemente, ele gravou um vídeo no Instagram dizendo que estava respondendo, "pela 22ª vez", número de Bolsonaro na eleição, que seu voto é secreto.

Mas a maneira distinta com que os artistas estrelam a campanha de cada um dos dois líderes das pesquisas tem a ver com estratégias também bem diferentes de atuação nas redes. O apoio de alguém do porte da Anitta, apesar de ter sido um momento importante para a campanha de Lula, não é do interesse da movimentação de seu oponente.

Basta lembrar que, para tentar interagir com essa declaração de voto, bolsonaristas afirmaram que Anitta seria uma "mulher vulgar", com uma tatuagem no ânus, distante de uma figura feminina recatada.

E, enquanto Lula segue repostando uma série de apoios dos artistas em suas próprias redes sociais, as manifestações de apoio a Bolsonaro seguem mais restritas aos perfis dos que resolvem se posicionar.

Os sertanejos, de maneira geral, já têm o costume de tratar menos de política do que seus colegas de outros gêneros, seja em suas músicas ou em posicionamentos públicos. Nas eleições de 2022, essa tem sido a toada --por medo, cautela ou visão estratégia da própria carreira.

Se, por um lado, sertanejos bolsonaristas temem ter a imagem danificada para o mercado publicitário, a opinião pública e setores da mídia, por outro, aqueles que são contrários ao presidente também temem acabar tendo a carreira afetada ao se posicionar. É o caso de João Gomes, estrela do piseiro, o estilo eletrônico de forró, que apareceu num vídeo endossando coros contrários a Bolsonaro no Rock in Rio.

Seu show em Imperatriz, reduto de apoiadores de Bolsonaro no Maranhão, quase foi cancelado depois de o sindicato rural da cidade fazer um pronunciamento afirmando que não aceitaria a presença do cantor no Parque de Exposições, onde o evento aconteceria. A apresentação acabou sendo transferida para outro espaço, e Gomes foi ao Twitter. "Queria pedir desculpas por citar um nome que jamais poderia citar", ele escreveu.

Comprar brigar com esses sindicatos rurais não é interessante para artistas do sertanejo --e também do forró, caso de Gomes--, já que é comum que eles estejam por trás da organização de feiras agropecuárias, palcos importantes para o gênero. Essas entidades são, assim como o agronegócio, em sua maioria alinhadas a Bolsonaro.


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