SÃO PAULO, SP, E BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - Com a guinada à esquerda prevista para a pasta da Cultura no governo Lula, as atenções agora se voltam para a Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, estado que deve se tornar o bastião do bolsonarismo no país.
Quem comandar este gabinete terá sob sua batuta mais de 60 equipamentos culturais, entre os quais alguns de tarimba internacional, como a Pinacoteca e a Orquestra Sinfônica do Estado, e um orçamento polpudo. Não à toa a fila de pretendes é extensa.
Os nomes que vão compor os quadros da administração de Tarcísio de Freitas, ex-ministro de Jair Bolsonaro eleito governador de São Paulo, serão divulgados a partir da segunda quinzena de novembro, afirma sua assessoria, que por ora também não deu informações mais concretas do que esperar para a área da cultura no estado.
Sabe-se, contudo, que o orçamento da pasta será robusto. Em 2022, a Cultura contou com cerca de R$ 1,1 bilhão, além de mais R$ 100 milhões do ProAC ICMS, programa de incentivo fiscal. A última cifra da Cultura no governo federal, a título de comparação, foi de R$ 1,67 bilhão.
O valor para o próximo ano ainda não foi definido e está agora em votação pela Assembleia Legislativa de São Paulo.
Neste cenário, uma série de nomes circula entre políticos, de um lado, e diretores e programadores de centros culturais, de outro. Diversos informantes citaram para a reportagem o nome de Hélio Ferraz, o secretário especial da Cultura do governo Bolsonaro, que substituiu Mario Frias quando ele saiu para concorrer a deputado.
Haveria até uma combinação prévia para que Ferraz assumisse o cargo hoje ocupado por Sérgio Sá Leitão, diz um informante, fazendo uma ressalva de que a gestão Tarcísio compraria uma briga desnecessária com o setor cultural caso Ferraz seja de fato o escolhido.
Isto porque ele é um aliado ferrenho de Bolsonaro e próximo a Frias, e o novo governador tem mostrado uma postura mais moderada e conciliatória, que parece não casar com a eventual escolha de um perfil radical para a Cultura.
Felipe Carmona, ex-secretário da área de direitos autorais do governo federal que não conseguiu vaga para o Legislativo, é outro a tentar se aproximar da administração paulista. Pessoas próximas à campanha de Tarcísio, no entanto, disseram que os nomes egressos da gestão de Bolsonaro não são ventilados.
Outro bolsonarista mais à direita cotado para o cargo é Camilo Calandreli. De perfil conservador e próximo da deputada Carla Zambelli, que volta e meia aparece em seu Instagram, Calandreli chefiou a Lei Rouanet por poucos meses durante a gestão de Roberto Alvim na Secretaria Especial da Cultura -Alvim é o secretário que foi demitido por apologia ao nazismo, no início de 2020.
O episódio em que a parlamentar sacou uma arma após uma discussão em São Paulo logo antes do segundo turno, no entanto, dificultou que uma indicação sua seja levada adiante.
Se um destes três for escolhido, o governo do estado vai mostrar um alinhamento à pauta bolsonarista, acostumada a maldizer artistas. Mas talvez isso não aconteça e o novo secretário paulista seja um nome de uma direita mais democrática, numa tentativa de "desbolsonarizar" a gestão de Tarcísio.
Aqui há apostas com perfis diferentes. Uma possibilidade é a do ex-executivo do Itaú Sérgio Silva de Freitas, com ligação histórica com o PSDB -ele é o atual presidente da organização social Catavento, responsável pelo museu de mesmo nome e pelas fábricas de cultura. Outra é a de Antonio Lessa, superintendente da Fundação Bienal de São Paulo com passagem pela pasta da Cultura no estado, que está se articulando para um lugar na gestão Tarcísio ou no governo Lula, segundo informantes.
Por fim, o atual presidente do Ibram, o Instituto Brasileiro de Museus, Pedro Mastrobuono, também aparece como alternativa conciliatória entre um governo apoiado por Bolsonaro e a classe artística. De perfil mais técnico e muito discreto, Mastrobuono vem cuidando da infraestrutura dos museus nos bastidores, ajudando as dezenas de instituições ligadas ao governo federal a adotarem medidas contra incêndio e a melhorarem a acessibilidade.
Independente do indicado, a perspectiva é de que a classe artística paulista volte a conseguir verba com mais agilidade com o governo federal -o oposto do que acontece hoje-, o que garante certa independência do setor em relação ao estado.
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