RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A ameaça de abertura de um processo saiu do campo da teoria e virou realidade. Chamado recentemente por Jair Bolsonaro de "chefe do narcotráfico" do conjunto de favelas onde mora, o ativista, comunicador e fundador da ONG Voz das Comunidades Rene Silva constituiu uma equipe de advogados para processar o presidente pelos crimes de injúria e difamação.
As acusações ocorreram após a visita de Lula, candidato do PT à presidência, ao Complexo do Alemão, no dia 12 de outubro. Bolsonaro disse pouco depois que seu adversário esteve na comunidade para se "encontrar com traficantes". Ele afirmou ainda que "ninguém entrava lá sem a polícia".
O convite para a visita havia partido de Rene, uma liderança comunitária bem conhecida e respeitada no Rio -e também fora do país. Em 2015, Rene foi listado pela Forbes como um dos 30 mais influentes jovens brasileiros até 30 anos.
Cinco anos depois, ele conquistou o Prêmio Cariocas do Ano da revista Veja Rio por sua atuação na área de "Cidadania" e, no ano passado, foi eleito pela "GQ" Homem do Ano na categoria "Responsabilidade Social". Rene esteve entre os líderes de movimentos negros e sociais do Brasil no encontro com o piloto britânico de Fórmula 1 Lewis Hamilton, nesta segunda-feira (7). Na ocasião, deu ao heptacampeão mundial um boné com a inscrição "CPX".
O acessório, o mesmo com que presenteou Lula àquela ocasião, motivou uma série de fake news difundidas pelo presidente e seus seguidores, que associavam a sigla ao crime organizado. As três letras, no entanto, evocam a palavra Complexo.
"Ele não atingiu só a mim, que fui até nominalmente citado como o 'chefe', como aos outros líderes comunitários. Eles também estavam lá no encontro com Lula e foram atingidos. Bolsonaro foi preconceituoso com todas as pessoas que moram em favelas do Brasil e isso é inaceitável. Não vai ficar impune", diz. "Juntamos todas as papeladas para entrar com o processo, já está tudo encaminhado."
Rene contou ao F5 que depois do encontro no Complexo do Alemão se tornou ainda mais próximo de Lula e, especialmente, da mulher do presidente eleito, a socióloga Rosângela da Silva, a Janja. "Ela é uma pessoa incrível. Uma querida. Sempre disponível. Nós nos falamos diariamente, mas agora paramos um pouco porque eles estão de férias. Daqui a pouco, voltamos a conversar".
O líder comunitário deu alguns pitacos ao casal presidencial sobre o novo governo. Uma das ideias: a criação de um comitê das favelas do Brasil. "Poucas pessoas sabem, mas se as favelas fossem um estado, seríamos o quarto maior do país em termos de população e também de economia", afirma.
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