SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Uau! Que tristeza, que loucura!", reagiu o diretor de teatro Gerald Thomas no início da tarde desta quarta-feira (9) ao ver a foto de Gal Costa com os seios à mostra na Folha. A imagem é do momento em que a cantora interpreta "Brasil", de Cazuza, no show "O Sorriso do Gato de Alice", dirigido por Gerald, em 1994.

Gal, uma das mais relevantes e influentes cantoras do Brasil, morreu na manhã desta quarta-feira (9), aos 77 anos.

Alguns leitores se queixaram do destaque dado para a foto: "Desrespeito e sensacionalismo barato da Folha!", comentou um. "Mau gosto do editor", disse outro. Outros aprovaram a escolha: "Dona das divinas tetas, derrama o leite bom na minha cara", escreveu um leitor, citando "Vaca Profana", composição de Caetano Veloso consagrada na voz de Gal.

"Essa é uma imagem muito importante da carreira da Gal", comentou Thomas em defesa da foto. "Lembro ter dito a ela: 'você vai fazer 50 anos, seus peitos são lindos, será ótimo".

Na estreia do show, em março de 1994 no Imperator, no Rio de Janeiro, parte do público vaiou a cantora. Segundo Thomas, os apupos começaram numa mesa da equipe do Jornal do Brasil, que não gostava do seu trabalho como encenador. Outras pessoas da plateia acompanharam as vaias.

"Eu fiquei impressionada com a quantidade, com o número de pessoas que se chocaram por ver um peito de uma mulher de fora, num palco. Eu acho que aquilo era colocado de uma maneira tão digna", disse Gal ao programa Roda Viva em 1995.

Ela usava um pijama largo, que pudesse ser desabotoado com facilidade. O figurino por si só, lembra Thomas, incomodava algumas pessoas, que "esperavam ver algo mais sexy".

Os seios à mostra não eram o único momento surpreendente de um dos mais controversos espetáculos da cantora baiana. O show começava com Gal como uma felina, engatinhando sobre um teto cenográfico, em meio a ruídos e guitarras distorcidas. Era um espanto, especialmente para aqueles que aguardavam uma entrada triunfal de uma das divas da música brasileira.

Instantes depois, ela se levantava e começava a cantar a versão em português de "Solitude", música eternizada por Billie Holiday. "Havia ali uma tristeza de uma cantora de blues", conta Thomas. "A voz de Gal se conectava com Deus."

Àquela altura, surgiram rumores de que o diretor impunha soluções cênicas contra a vontade da cantora, algo desmentido enfaticamente por ambos. "Não me arrependi em nenhum momento de ter feito o espetáculo com Gerald Thomas. Era o que eu queria", disse ela também ao Roda Viva.

O show teve uma recepção mais calorosa nas cidades seguintes, embora certas saias justas continuassem. "Em Portugal, o produtor pediu que os peitos da Gal fossem cobertos. Ele também se incomodou com o batom dela, que era forte", recorda-se o diretor. Segundo ele, não foram feitas concessões ao longo da turnê.


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