RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - Uma nova regra da FIFA fez com que fosse derrubado um tabu no futebol brasileiro. Pela primeira vez desde que a competição é disputada, o time do Brasil terá um jogador com o número 24 às costas.
Por preconceito, o 24 é evitado por clubes, jogadores, e pela própria seleção, por ser associado no jogo do bicho ao veado, animal usado de forma pejorativa para ofender homossexuais no país. Para se ter uma ideia da dimensão dessa aversão, no Campeonato Brasileiro deste ano, apenas 4 dos 20 times da Série A (Santos Corinthians, América-MG e Internacional) têm jogadores com a 24.
Os clubes brasileiros, no entanto, enfrentam dificuldades para driblar a escalação de um jogador com a 24 nas competições sul-americanas. Isso porque, por exigência da Conmebol, é necessário inscrever jogadores de 1 a 30, pela ordem. A saída, então, é tentar dar a menor visibilidade possível a quem usa este uniforme (o terceiro goleiro, por exemplo), ou escalar um estrangeiro.
É que a história do veado no jogo do bicho é coisa nossa, quem vem de fora não entende o motivo da rejeição a este número. Tanto que na Libertadores de 2019 o Flamengo deu a 24 para o zagueiro espanhol Pablo Marí, que no Campeonato Brasileiro usava a 4.
No caso da Copa do Mundo, incluir o número tabu foi uma regra, não uma opção: aos 23 jogadores costumeiramente convocados para as seleções de anos anteriores foram acrescidos mais três -logo, os uniformes serão numerados do 1 ao 26, em sequência. Isso descarta a possibilidade de "pular" o 24, como aconteceu na Copa América de 2021.
Na competição do ano passado, a seleção brasileira foi a única a não inscrever um atleta com esse número -a contagem passava do 23 (Ederson) para o 25 (Douglas Luiz). O Grupo Arco-Íris de Cidadania LGBT percebeu o que se passava e entrou com um processo contra a CBF, exigindo que a confederação explicasse o motivo de a seleção não usar a camisa 24 em seu uniforme. Os ativistas também pediam que Douglas Luiz passasse a vesti-la.
Juridiquês à parte, a defesa da CBF se explicou, basicamente, assim: "Em razão de sua posição (meio campo), e por mera liberalidade, optou-se pelo número 25", numa referência a Douglas Luiz. Depois de um imbróglio judicial que durou quase toda a competição, o processo acabou extinto, e o Brasil encerrou sua participação sem o número 24 em seu plantel.
Isso foi na gestão passada da CBF. A entidade tem um novo presidente, Ednaldo Rodrigues, eleito em março de 2022, sob a promessa de moralizar a instituição e combater toda e qualquer forma de segregação. Ele diz ser "inadmissível" a retirada da camisa 24 da seleção sob sua gestão, em qualquer que seja a competição. "Isso jamais acontecerá novamente", promete.
Rodrigues explica que há prerrogativas "que são da comissão técnica" e com as quais ele não se envolve, como convocações e escalações. Mas em questões institucionais como essa [da numeração]... não tem nem papo. "Nenhum número será retirado de competição por quaisquer motivos, sejam eles políticos, sociais, de gênero ou qualquer outro", garante.
O escolhido pelo técnico Tite para vestir a inédita camisa 24 da seleção brasileira é o zagueiro Bremer, da Juventus (Itália), ao contrário do que foi divulgado anteriormente. Uma lista com outra numeração viralizou nas redes nesta terça-feira (8), e nela constava o atacante Gabriel Martinelli, do Arsenal (Inglaterra), como novo dono da 24. A CBF garante que não houve mudança e que essa primeira lista é falsa. A oficial é a publicada nas redes sociais da entidade, nesta quarta-feira (9). A reportagem tentou contato com Bremer mas ele não respondeu às mensagens enviadas.
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