SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pôr no mesmo espaço poltronas criadas por Lina Bo Bardi a partir de sua vivência brasileira e as esculturas de linhas precisas de Max Bill evidencia uma proximidade insuspeita entre os desenhos da arquiteta e os do designer gráfico suíço. As semelhanças formais nos trabalhos dos mestres podem ser vistas numa série de peças de um e de outro expostas agora na Casa Zalszupin, em São Paulo.

Lina via nas peças de Bill o que chamou de "matemática não fria", o que de certa maneira é um conceito materializado nas cadeiras desenhadas por ela mesma, afirma Francesco Perrotta-Bosch, biógrafo da arquiteta e organizador da exposição.

Bosch exemplifica citando uma série de esculturas semiesféricas em madeira e granito realizadas pelo suíço dispostas na mostra ao lado de um protótipo da "Bardi Bowl", poltrona de Lina no mesmo formato.

Outro exemplo desta aproximação, acrescenta Bosch, são as esculturas de Bill que tocam a base em três pontos -na mostra estão em diálogo com uma conhecida peça da arquiteta. "Só que a Lina não se apropria de materiais metálicos feitos com precisão suíça, como é o caso do Bill. A Lina usa galho encontrado em qualquer beira de estrada", diz o curador, em referência à "Cadeira Beira de Estrada".

No jardim da Casa Zalszupin, há um exemplar da cadeira que pode ser experimentado pelo público e também fotos históricas de Lina testando sua criação, como diz o título, na beira de uma estrada empoeirada.

A poltrona mostra o quanto Lina via "beleza e funcionalidade na cultura brasileira, no vernacular brasileiro", afirma Lissa Carmona, uma das responsáveis pelo espaço expositivo e pela reedição de alguns móveis da arquiteta.

Organizada em colaboração com o Instituto Bardi, a mostra reúne cadeiras desenhadas por Lina com seus respectivos estudos, além de 15 esculturas, cinco pinturas e uma peça de mobiliário de Max Bill provenientes de uma coleção suíça. Há ainda reproduções e originais de quase duas dezenas de cartas trocadas entre Bill e o casal Pietro Maria Bardi e Lina Bo, advindas do centro de pesquisa do Museu de Arte de São Paulo, o Masp.

Se revelar as semelhanças entre os trabalhos dos autores é o principal mote da exposição, o outro é enfatizar a relação do casal Bardi com um dos expoentes da Bauhaus, mostrando como Bill influenciaria o movimento concretista brasileiro.

Bill veio para o Brasil a convite de Pietro para expor suas peças no Masp, no que seria a primeira grande individual de sua carreira, em 1951. Foram mostradas mais de 50 obras, e uma destas, o trabalho em aço inoxidável "Unidade Tripartida", ganhou no mesmo ano o prêmio de escultura na primeira Bienal de São Paulo.

Dois anos mais tarde, depois de ter sido tema de uma mostra também no Rio de Janeiro, Bill voltou ao país para expor novamente na Bienal de São Paulo, ocasião em que deu uma série de conferências, fazendo florescer então o concretismo de formas geométricas de Waldemar Cordeiro e Luiz Sacilotto com o grupo Ruptura, em São Paulo, e de Ivan Serpa e Abraham Palatnik com o coletivo Frente, no Rio. Com as vindas de Bill, a circulação de suas ideias localmente e a exposição de suas obras em vários museus do país, o casal Bardi introduziu o meio cultural brasileiro em um diálogo internacional, afirma o curador.

Uma graça da exposição são os mancebos em forma de boneco de madeira em tamanho real. As peças foram desenvolvidas por Lina exclusivamente para comporem a cenografia da vitrine de uma loja de tecidos e reconstruídas pela Etel a partir de registros fotográficos da época. Para Carmona, "esta foto era uma síntese do trabalho da Lina, de sua preocupação com gente".


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