SAO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Se o projeto de Roberto Burle Marx para o parque Ibirapuera tivesse sido realizado, os visitantes andariam por um plataforma elevada instalada próxima ao pavilhão da Bienal para contemplar os jardins de cima.

Também na cidade de São Paulo, quem caminhasse pela avenida Paulista veria na calçada em frente ao parque Trianon, onde hoje é um ponto de ônibus, canteiros e um espelho d'água em formato ondulado ?caso o projeto do paisagista, parcialmente implantado, tivesse sido preservado, e não destruído.

Em outras palavras, São Paulo seria uma cidade mais verde, como mostram os desenhos de Burle Marx reunidos em uma exposição que joga luz sobre seus projetos não realizados ou executados só em parte na capital paulista.

"Paisagem Construída: São Paulo e Burle Marx", em cartaz até o início de fevereiro no Centro Cultural Fiesp, trata do pioneirismo de um dos principais paisagistas do século 20 em chamar a atenção para a composição dos espaços urbanos e para a questão das cidades verdes, afirma Helena Severo, uma das organizadoras da exposição.

Entre outras utopias não realizadas de Burle Marx, estão também expostas plantas de seus projetos para a praça da Sé e para o vale do Anhangabaú, desenhos que evidenciam seus ideais para uma cidade mais humana. Como eles não saíram do papel mesmo tendo sido encomendados, são provas também de como o poder público paulistano lida com o espaço urbano.

"Isso revela o fato de que São Paulo é uma cidade que quase não fez projeto urbano. Uma cidade em que os projetos em geral para espaço público não são levados adiante. Não é uma perseguição em especial com o Burle Marx. É um sintoma de uma cidade em que as ações que deram certo foram quase sempre privadas", afirma Guilherme Wisnik, outro dos organizadores.

Se para conhecer a natureza modernista de Burle Marx na capital paulista é preciso ter acesso a espaços privados como a sede do banco Safra, onde ele implantou um jardim no terraço do oitavo andar, ou ao próprio edifício da Fiesp, que conta com um mural interno e outro externo assinados pelo paisagista, a história é outra no Rio de Janeiro.

Estão nas paredes da exposição, produzida sobretudo a partir de itens do acervo do Instituto Burle Marx, fotos de época do Aterro do Flamengo, imagens do largo da Carioca e um vídeo aéreo do calçadão da praia de Copacabana, todos projetos de Burle Marx. O conjunto atesta sua profunda marca na geografia da capital fluminense -e no cotidiano dos milhares de pessoas que vivem nesses lugares.

No Aterro do Flamengo, por exemplo, o artista contou ao site Vitruvius ter experimentado "com plantas resistentes à salinidade e ao vento". Parte da vegetação dos sete quilômetros de extensão do parque foi trazida do sítio de Burle Marx, no Rio de Janeiro, um local onde ele guardava e plantava mudas e sementes coletadas em suas expedições por ambientes naturais do interior do Brasil e de outros países.

Pelo fato de Burle Marx ser um grande colecionador de espécies, sem basear suas criações só no que estava disponível no mercado, seus jardins eram "muito mais ricos do que um paisagista que sabe que só tem para comprar azaleia e hortênsia", afirma Wisnik.

Ele também experimentava misturando plantas de ecossistemas diferentes, como fez nos jardins para o complexo da Pampulha, em Belo Horizonte, conta Isabela Ono, do Instituto Burle Marx.

A paixão de Burle Marx pelo verde, que começou quando ele, criança, colhia plantas do mato perto de sua casa e levava para sua mãe, fica evidente em seus projetos -o paisagista desenha com tinta guache composições multicoloridas para representar flores e vegetação aquática. Metódico, chega a listar 92 plantas no croqui do edifício São Luiz, na capital paulista.

Cobrindo cerca de sete décadas da produção do paisagista, a mostra toca também em sua faceta de ativista. Durante a ditadura, ele comprou brigas públicas na imprensa com os militares, chamando a atenção do público para a destruição da Mata Atlântica e da Amazônia, à época --e até hoje, em certa medida-- encarada como necessária para o progresso econômico.

"Ele foi um pioneiro na defesa das florestas. Não só desmatamento de florestas, mas também contra a monocultura, você desmatar e plantar eucalipto", afirma Wisnik. "É muita coisa que ele pautou e que hoje é o discurso em voga."

PAISAGEM CONSTRUÍDA: SÃO PAULO E BURLE MARX

Quando Até 5 de fevereiro; de quarta a domingo, das 10h às 20h

Onde Centro Cultural Fiesp - av. Paulista, 1313, São Paulo

Preço Grátis


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