SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Entre as décadas de 1940 e 1960, o teatro brasileiro viveu o que se convencionou chamar de sua principal fase de modernização graças ao trabalho das companhias de teatro encabeçadas por nomes como Procópio Ferreira, Dulcina de Moraes e Odilon Azevedo, Henriette Morineau e Bibi Ferreira.

Os grupos encenavam em sequência clássicos da dramaturgia universal em uma produção constante que formavam repertórios capazes de viajar por diversas praças em todo o Brasil.

Em paralelo, o trabalho da crítica especializada também começava a ganhar ares de modernização graças a duas figuras essenciais que irmanaram a análise teatral ao mito da imparcialidade jornalística. Desses dois nomes, Décio de Almeida Prado se tornou o mais célebre à luz da história.

Já o segundo nome, o jornalista Athos Abramo, foi relegado pelo tempo ao esquecimento, mas deve ganhar uma nova chance perante à história moderna. Ao menos é o que espera o jornalista Jefferson Del Rios, um dos organizadores da coletânea "Athos Abramo - O Crítico Reencontrado", livro que chega às prateleiras graças a uma parceria entre o selo literário Lúcias, da Associação dos Artistas Amigos da Praça, o Itaú Cultural e a editora Giostri.

Também organizado pela filha do jornalista, a historiadora Alcione Abramo, "O Crítico Reencontrado" recupera uma seleção de textos publicados entre 1945 e 1968 com críticas de obras estreladas por nomes como Célia Helena, Cacilda Becker, Tônia Carrero, Maria Della Costa, Paulo Autran, Raul Cortez. Há também montagens de obras de autores como Gianfrancesco Guarnieri, Oduvaldo Vianna Filho e Nelson Rodrigues.

O projeto, surgido a partir de uma provocação de Del Rios, usa o acervo da família Abramo como ponto de partida não só para listar as críticas do jornalista, mas para historiografar sua passagem pelo teatro como diretor, responsável por assinar encenações do grupo de teatro amador I Gutti, em meados da década de 1950.

"É importante recuperar essa figura que, culturalmente, tem uma dimensão histórico-sociológica na medida em que arte se conjuga com mudanças urbanas, imigração, movimento negro, política", diz Del Rios, que vê com naturalidade o fato de o nome de Abramo não ser tão lembrado quanto o de seu colega, Almeida Prado.

"Acontece sempre com algum artista de relevo", afirma. Ele lembra o escritor sergipano Ranulpho Prata, autor do clássico "Navios Iluminados", de 1935, os pintores Otávio Araújo e Glauco Pinto de Moraes e o sambista Vassourinha.

"Ele tinha a mesma estirpe de Adoniran Barbosa. Isso acontece, são figuras muito importantes, mas a história não dá conta deles, por isso sempre tem de haver quem os resgate."

Embora dedicado ao trabalho de um crítico e diretor de teatro, "O Crítico Reencontrado" é, na visão de Del Rios, um livro capaz de acender a curiosidade de todo tipo de público, corroborando o texto do também diretor Ivam Cabral na orelha da publicação. Ele acredita ser capaz de despertar nostalgia mesmo naqueles que não tenham ligação com a história do teatro moderno brasileiro.

ATHOS ABRAMO - O CRÍTICO REENCONTRADO

Preço R$ 30,00

Autor Jefferson Del Rios e Alcione Abramo

Editora Selo Lúcias e Giostri Editora


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