RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) - A jornalista Glória Maria, morta nesta quinta-feira (2) vítima de um câncer, lutou contra o racismo na vida pessoal e profissional. Considerada a primeira jornalista negra a ganhar destaque na TV brasileira, ela foi alvo de frequentes ataques racistas. Um deles foi desferido até por um presidente da República.

Em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, ela lembrou de um episódio de racismo em que o general João Figueiredo, último presidente da ditadura, afirmou não a querer perto dele "a neguinha da Globo", em referência à jornalista.

"Eu tive uma experiência horrível com o Figueiredo, mas eu não tinha uma preocupação de que ele pudesse me prender. Eu tinha talvez uma ingenuidade. Sempre carreguei essa visão de que tudo podia dentro do trabalho que eu fazia. Por isso, eu ia em frente", afirmou ela.

Ainda no Roda Viva, ela disse que nada protege o negro contra o racismo, nem mesmo a fama. "Se você é mulher preta é pior ainda, porque nós somos mais abandonadas e discriminadas. É preciso aprender a se blindar da dor. Se você for esperar uma blindagem universal, você está perdida", disse ela. "Hoje, nada me faz sofrer porque aprendi a me blindar e ensino isso às minhas filhas."

No programa, ela contou que as filhas já sofreram racismo na escola de elite onde estudam no Rio. "A Laura teve uma vez que chegou em casa dizendo que um colega falou que a cor dela era feia", disse a jornalista, acrescentando que Maria, sua outra filha, já foi chamada de "macaca".

Em razão dos ataques racistas, Glória disse que foi a primeira pessoa a fazer uso da Lei Afonso Arinos, promulgada em 1951 contra a discriminação racial. Ela acionou a Justiça depois de ter sido barrada em um hotel por ser negra.


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