SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Com o congelamento da Lei Federal de Incentivo à Cultura, a Rouanet, em 2022, a Mostra de Teatro de São Paulo, a MITsp, não teve sua proposta aprovada a tempo de captar patrocínios e precisou ser suspensa neste ano.

Durante o último ano do governo Bolsonaro, o Ministério do Turismo, por meio da Secretaria Especial da Cultura, deixou de aprovar projetos inscritos para captação de verba via renúncia fiscal.

Embora conte com o apoio da Prefeitura de São Paulo por meio de verba direta e do Governo do Estado, via Sabesp, o grosso da arrecadação ainda é feita através da renúncia de empresas privadas.

Procurada, a Secretaria de Cultura do Estado, sob a gestão de Marília Marton, informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a Mostra chegou a iniciar sua inscrição no Programa de Ação Cultural, o Proac, mas que não submeteu o projeto para ser aprovado.

Até o momento, não há planos para que a Secretaria incorpore futuras edições da Mostra no calendário oficial de eventos da pasta. A Secretaria de Cultura do Município de São Paulo e o Ministério da Cultura não responderam aos pedidos de entrevista até a conclusão desta reportagem.

Desde que surgiu, em 2014, com uma proposta de uma curadoria capaz de estabelecer o intercâmbio entre a cena teatral internacional e as produções brasileiras, a MITsp se estabeleceu como uma das principais mostras de teatro de São Paulo pelo caráter acessível e plural de sua programação.

Afetada pela pandemia de Covid, a Mostra teve suas edições de 2020 e 2021 suspensas e retornou ao presencial apenas em 2022, com uma programação mais enxuta. Em 2023, entretanto, o evento precisou ser suspenso mais uma vez e, diferente do que houve no período de isolamento, nem mesmo espetáculos online farão parte da programação.

De acordo com Guilherme Marques, um dos organizadores da Mostra, a realização já seria um desafio mesmo com o projeto aprovado a tempo. Com as novas diretrizes aprovadas ainda durante a gestão de Mário Frias, houve uma redução substancial nos valores previstos para cachês e contratações.

"É uma equipe muito preparada, bilíngue. Com essa nova instrução normativa, teríamos que pagar menos da metade do cachê que pagávamos anteriormente, e isso já inviabilizaria a edição por si só. Seria um processo extenuante, física e mentalmente falando", diz.

Marques acredita que seria importante haver uma inversão, com o poder público investindo na Mostra, que movimenta o turismo da cidade e propõe uma internacionalização do teatro produzido no Brasil a partir do intercâmbio entre companhias, produtoras e curadores.

"Festivais ao redor do mundo, como o de Avignon, na França, e o de Edimburgo, na Escócia, por exemplo, têm investimento de empresas do setor privado, mas o que os mantém mesmo é o poder público, porque já faz parte da cultura local, então independente do governo que assuma, sempre vai haver o festival que propõe internacionalizar a cultura local."

Em 2024, quando celebrará 10 anos de existência, a MITsp pretende expandir o número de espetáculos convidados. A proposta é que sejam 15 obras de companhias nacionais e outras 15 de grupos estrangeiros, totalizando 30 espetáculos ao longo da Mostra.


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