RECIFE, PE (FOLHAPRESS) - "Eu quero é casar contigo! Casar contigo", disse um rapaz a uma foliã, que o respondeu com um joinha e um sorriso amarelo.

Ela era uma das loiras anônimas, que, às 8h30 deste sábado, já sorvia espumante nacional de uma taça de plástico, apitava seu assoprador de fumaça colorido e fazia biquinhos para registrar nas redes sociais tudo o que se passava no camarote do Galo da Madrugada, tradicional bloco de Carnaval do Recife.

Pouco ao sul do Equador, o único pecado era mesmo a vaidade. Entre as mulheres, tudo era superlativo. Coxas torneadas, seios turbinados, corpos que poderiam explodir silicone a qualquer momento.

Nas primeiras horas do dia, todas estavam com a maquiagem para lá de carregada. Os homens, também vestidos de abadá vermelho, estavam com a barba bem alinhada e aquele sapatênis reservado para a ocasião especial. À parte, gays troncudinhos adornavam a paisagem matinal, com shortinhos e glitter nas bochechas.

Mas, com o passar das horas, o "pibinho" seria separado do "pibão", em "vipinho" e "vipão". Pouco a pouco, artistas chegaram a uma área reservada, de frente para o desfile dos trios elétricos e com um bar reservado. A cantora Luiza Possi, que bate ponto no camarote desde 2010, resolveu homenagear os gays e optou por um maiô com as cores do arco-íris e um cabelo com madeixas rosa-choque.

"É a cidade onde eu me sinto melhor, é um Carnaval cultural, com uma diversidade de ritmos impressionante", diz ela. "O baião é a base do reggaeton e para muitos gêneros da música pop."

No Recife, a principal tendência momesca é o tom político da festa. Na sexta-feira, as apresentadoras do palco do Marco Zero só se comunicavam em linguagem neutra, falando "todes" e "convidades", enquanto a multidão saudava a vitória do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, nas eleições do ano passado.

Agora, entre as "very important people", circularam abanadores com dizeres contra o machismo e o racismo. O próprio Galo, deste ano, foi decorado em preto, numa alusão à luta antirracista.

Gaby Amarantos, foi a primeira celebridade a parar o camarote. Conhecida como Beyoncé do Pará, Amarantos se vestiu como a estrela pop americana -vestido prateado, chapéu brilhante e uma bolsinha, também prateada, em forma de cavalo.

Nos últimos anos, a cantora tem tido grande exposição na TV, como atriz de novela, jurada dos programas The Voice e The Voice Kids, da Globo, além de ter participado do Saia Justa, que vai ao ar no GNT. Perguntada se os trabalhos na TV acabam deixando a música em segundo plano, Amarantos desconversou. "Vou continuar lançando meus discos, fazendo as minhas músicas sempre."

O camarote do Galo da Madrugada fica na praça Sérgio Loreto, perto da sede do bloco. Ao redor da praça, estandes de marcas de diversos segmentos oferecem gim, uísque, espumante, bebidas de toda sorte e, sobretudo, comida, da boa.

Quando o regabofe estava para começar, a ex-BBB e agora cantora Juliette chegou à festa, cercada por um batalhão de assessores. Ela vestia um body preto, com pontos brilhantes em cores de glitter, usava meia calça e um par de óculos esportivo.

Cercada pela imprensa, ela fez juras de amor a Pernambuco. "Eu fico até arrepiada, amo este Carnaval, eu também sou um pouco pernambucana", disse ela, antes de posar para fotos dando beijinhos no galo, a mascote do bloco. Em seguida, Juliette rumou para o "vipão", onde se encontrou com a cantora Pabllo Vittar, vestida de marinheira e com cabelinho estilo Coco Chanel, que faz o show mais aguardado da noite deste sábado.

A chegada do prefeito do Recife, João Campos, ao camarote, mobilizou a atenção do público. Com a namorada, a deputada federal Tabata Amaral, do PSB, o mesmo partido que o dele, ele forma uma dupla com aura de casal real, aos olhos do público. À vontade e com um jeito boa-praça, Campos não hesitou em novamente cair na folia.

Do alto do "vipinho", era possível admirar o populacho em pleno gáudio, exultante, entre o suor, a urina e a cerveja. A massa ficou ainda mais ensandecida quando Marcelo Falcão, do Rappa, puxou a canção "Pescador de Ilusões", do alto de um trio elétrico. A música casou bem com o repertório daquela manhã, uma mistura de frevo e maracatu, sintetizada pela lembrança luminosa de Chico Science e a Nação Zumbi.

Quando já passava do meio-dia, o "vipinho" já não tinha tanta diferença para o asfalto. Num ambiente lotado, homens e mulheres perdiam máscaras e maquiagens.


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