BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) - "Afire", ou em chamas, a nova obra do alemão Christian Petzold, que estreou nesta quarta-feira (22) no Festival de Berlim, é uma mistura de gêneros que transita entre drama, comédia e tem até pinceladas de um filme de horror no início.

Mas seu espaço é mesmo entre os filmes do francês Éric Rohmer. "O Joelho de Claire", de 1970, "Pauline na Praia", de 1983, "Conto de Verão", de 1996 --as décadas passavam e Rohmer sempre filmava a mesmíssima coisa.

Era gente da cidade passando os dois melhores meses do verão na praia e descobrindo a vida. Não raro, as musas do francês eram garotas adolescentes que, nos filmes, conheciam seus primeiros amores. É o que na França se chama "éducation sentimentale", a educação sentimental, conforme lembrou o diretor na conversa com a imprensa.

Pois "Afire" parece ter sido escrito e dirigido por Rohmer, não tivesse o francês já morrido em 2010. A única diferença é o fato de ser falado em alemão.

Quatro jovens em uma casa de férias na costa do Báltico. Três estão se divertindo, mas um -um escritor- está lutando. A floresta queima, o céu fica vermelho. O mais recente sonho de vigília de Petzold é um drama de relacionamento tragicômico que brilha, mas também é pé no chão.

A atriz Paula Beer -musa mais recente de Petzold, após uma série de filmes protagonizados por Nina Hoss- é Nadja, a catalisadora do amor do jovem escritor. Enquanto isso, seu amigo se engraça com o salva-vidas da praia. Todo mundo se banha no mar, menos o furibundo Leon, que só quer saber de trabalhar, mas fica caindo no sono em todo canto.

"Sou especializado nesse tipo de personagem", brincou Petzold. "Gente que não tem problema nenhum, mas sofre de paranoia."

A leveza da história sofre um baque quando a floresta da região pega fogo -daí o título. A ameaça das chamas passa a pairar na casa dos quatro. Um filhote de javali morre queimado, numa cena tocante.

Leon é interpretado por Thomas Schubert. Ele já havia trabalhado com Paula Beer em "O Vale Sombrio", de 2014. Petzold disse que tinha uma foto dos dois juntos naquele filme durante as filmagens de seu "Afire".

E contou uma curiosidade. O livro que Leon está escrevendo, chamado "Club Sandwich", foi inspirado em seu segundo longa, "Cuba Libre", de 1996. "Tudo o que acontece com Leon no filme aconteceu comigo naquela época. Eu não podia nadar, cozinhar nem ajudar ninguém porque eu tinha que trabalhar. E o filme era terrível."

Bem-humorado e feliz com os elogios dos jornalistas ao fazerem perguntas, Petzold disse que nomeou "Club Sandwich" devido à sua semelhança com o nome "Cuba Libre". "Ademais, são duas coisas que você pode pedir no serviço de quarto do seu hotel."

Seja como for, neste caso, a arte imitou a vida. Mas só até certo ponto. "Afire", ao contrário do fictício "Club Sandwich" ou de "Cuba Libre", é uma obra memorável.


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