SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Para entender o que a Semana de Moda de Milão de 2023 trouxe de arrebatador às passarelas, são necessárias duas palavras-chave. São elas Diesel e Glenn Martens.
O estilista é a razão pela qual a marca foi elevada ao patamar do sucesso comercial com prestígio. Divertida e bem-humorada, a Diesel fez uma montanha de 200 mil camisinhas na passarela em parceria com a fabricante Durex, de forma a trazer a pauta do sexo seguro para o evento.
Ao som de gemidos e de um ritmo tecno, Martens apresentou uma coleção pop e tecnicamente precisa com jeans -um dos fundamentos da Diesel- de cintura baixa, um conjunto de top e saia rasgados em cor lima e, entre várias outras peças, o estilo "devoré denim", em que roupas feitas com denim fogem do tradicional ao serem cortadas como veludo e têm partes produzidas com organza, utilizado em calças, saias e vestidos.
Se a Diesel olha para frente a fim de construir um grande legado, a Gucci revisitou o dela para continuar em trajetória de movimento. A presença da marca italiana simboliza a tônica do evento, que apontou as tendências de outono-inverno deste e do próximo ano, de forma a evocar o passado para fazer experimentações com foco no futuro.
Enquanto o novo diretor criativo da marca, Sabato De Sarno, não estreia no posto em que sucede Alessandro Michele, a equipe da Gucci vestiu as modelos evocando peças de seu passado, em especial os que pertenceram aos anos 1990, 2000 e 2010.
Duas peças antológicas de Tom Ford apareceram -a calcinha fio-dental, com a letra "G" estampada em um brasão, podia ser vista debaixo de uma saia, e a bolsa Horsebit foi objeto de atenção. Amy Wesson, Liisa Winkler e Guinevere Van Seenus, algumas das divas vestidas pela Gucci nos anos 1990, deram o ar da graça ao longo da passarela
Um casaco de fios prateados -que poderia muito bem ser vestido por Elton John ou Harry Styles- e um imenso chapéu de penas foram os sintomas da passagem de Michele pela marca. A presença ilustre de celebridades na primeira fila, como a atriz Dakota Johnson e o artista e músico chinês Xiao Zhan, impulsionaram a presença da Gucci no evento durante este momento marcado por transição interna.
Maximilian Davis, por sua vez, relembrou a Hollywood clássica personificada por Sophia Loren e Marilyn Monroe na coleção feita para a Ferragamo. Jaquetas e casacos longos, cinematográficos e com um quê de discrição evocam a incerteza de uma recessão pairando sobre os Estados Unidos. Davis afirmou em comunicado à imprensa querer investigar por meio das peças a curiosidade dos anos 1950 a respeito do moderno.
A Bottega Veneta exibiu 81 looks assinados por Matthieu Blazy e fez sucesso por nenhum parecer repetir o visual do anterior. O designer da marca italiana investiu em construções atemporais, feitos para o dia a dia das cidades, impermeáveis às mudanças de tendências de Instagram e TikTok e da economia, com materiais leves.
Um dos destaques foi o sobretudo em preto e branco coberto de franjas. "Eu sempre noto como mulheres e homens têm camadas", ele disse à imprensa. "É muito sofisticado, mesmo quando não funciona, sabe? É tão pessoal."
O atemporal -e chique, é claro- também foi objeto de exploração da Armani. "A atemporalidade é um elemento essencial da minha abordagem estética e um valor central da minha marca. Isso não vai mudar tão já", afirmou o designer aos jornalistas.
Assim como a Ferragamo, a Gucci e a Dolce & Gabanna, revisitaram peças de temporadas passadas, como boleros de veludo, jaquetas de camurça e parcas de lã. A modelo que encerrou o desfile verificou a própria maquiagem no espelho que trazia à mão, em uma referência à recente e elogiada apresentação de Rihanna no último Super Bowl.
Miuccia Prada e Raf Simons, da Prada, também demonstraram apreciação pela utilidade das peças no cotidiano pois estão "muito atentos ao que acontece no mundo" e buscam criar peças com significado para o que eles chamam de "momento histórico complicado". Os casacos minimalistas e com golas angulosas refletiram isso.
Kim Jones, diretor artístico da Fendi, homenageou o legado das mulheres da família homônima ao mesmo tempo em que o subverteu exibindo camisas desabotoadas, casacos café com leite, vestidos justos feitos de malha de contornos amenos e saias com pregas onduladas, entre outros itens.
Em um evento como a Semana de Moda de Milão, as presenças são, naturalmente, algo a se notar. Mas este ano uma ausência também falou alto. Foi a da designer Stella Jean, que boicotou o evento e fez greve de fome.
A estilista, conhecida por já ter vestido Beyoncé e Rihanna e ser protegida de Giorgio Armani, assim protestou contra a Câmara Nacional da Moda Italiana. Ela a acusa de não apoiar iniciativas de suporte a designers que não são brancos para além de um período de dois anos e de não cumprir a promessa de criar um comitê para ampliar internamente a pluralidade racial
Jean, que é italiana e haitiana, é o único membro negro da Câmara. Ela faz parte de um coletivo de designers não brancos que defendem uma "reforma cultural" na cena fashion da Itália, que eles alegam ter ficado para trás no quesito diversidade.
A ironia é que foi justamente a presença expressiva de designers não brancos que marcou os trabalhos do quarto dia. Nomes como Maximilian Davis, da Ferragamo, Rhuigi Villasenor, da Bally, e Iniye Tokyo James, da marca homônima, são exemplos.
A Câmara acolheu estilistas por meio do projeto Blanc Spaces, que por sua vez inaugurou o Black Carpet Awards, ou prêmio do tapete preto, abrindo para esses artistas um dos espaços de maior projeção desta edição do evento.
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