SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O escritor Ruy Castro, colunista desta Folha de S.Paulo, vai assumir a cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras nesta sexta-feira (3). A cerimônia de posse vai acontecer na Petit Trianon, na sede da Academia Brasileira de Letras, na região central do Rio de Janeiro. O evento vai ser exclusivo para convidados, mas será transmitido no site e no YouTube da ABL.

Ruy Castro assume a cadeira deixada por Sérgio Paulo Rouanet, diplomata, professor e ex-ministro da Cultura do Brasil que morreu no ano passado. O patrono do posto é Francisco Otaviano. Assim como Ruy Castro, Otaviano se exercitou em diferentes áreas, entre elas o jornalismo.

Ruy Castro diz estar ansioso para a cerimônia e promete ter caprichado no discurso.

"Vejo como um reconhecimento a uma vida de trabalho dedicado à palavra. Não à palavra por si, mas à palavra como instrumento de ação", diz. "Não há instrumento mais poderoso do que a palavra. Sérgio Paulo Rouanet usou-a para nos explicar o nosso tempo e terei de estar à altura da sua sucessão."

O escritor começou a ler por meio dos jornais. Quando era jovem, sua mãe lia para ele o Última Hora, onde o escritor conheceu também o escritor e dramaturgo Nelson Rodrigues, que publicava contos no vespertino -e que futuramente seria seu biografado.

Aos 19 anos, Ruy começou sua carreira no jornalismo no carioca Correio da Manhã, em 1967. Publicou lá sua primeira reportagem assinada, sobre os 30 anos da morte de Noel Rosa. Depois deixou o jornal e a casa dos pais para trabalhar na revista Manchete, onde entrevistou Tom Jobim.

Voltou para o Correio em 1968, ano em que a ditadura baixou o AI-5, e trabalhou com Paulo Francis.

Nos anos seguintes, colaborou com revistas que entraram para a história do jornalismo brasileiro. Escreveu para a Diner's, editada por Francis, até a prisão do editor.

Escreveu para O Pasquim, revista perseguida pela ditadura, e para a Playboy, quando a revista era reconhecida por suas entrevistas memoráveis. Trabalhou para a Folha de S.Paulo, da qual hoje é colunista, e para a revista Veja.

Fez alguns trabalhos para a Companhia das Letras em livros de outros autores, o que depois o ajudou a dar o pontapé inicial na próxima fase de sua carreira.

Em 1988, começou a se dedicar aos livros. Estreou na biografia com o que ele chama de livros de "reconstituição histórica", que contam a história de uma época a partir das pessoas que a vivenciaram.

"Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova" saiu no final de 1990 pela Companhia das Letras e representava um dos primeiros frutos das conversas de dois jornalistas cariocas que trocavam, na praça em frente à sede da revista Manchete, opiniões sobre a escrita biográfica e as obras que liam -João Máximo e o próprio Ruy Castro.

O segundo livro de Castro foi "O Anjo Pornográfico", que esmiuçou a vida do dramaturgo Nelson Rodrigues e o reapresentou ao Brasil como uma figura tão complexa, polêmica e dramática quanto suas obras.

Daí para frente escreveu sobre Garrincha, Carmen Miranda, o samba-canção, o Rio de Janeiro dos anos 1920, Ipanema e mais.

De obra em obra, Ruy se consolidou como um dos maiores biógrafos do Brasil, além de um nome essencial do jornalismo cultural e da própria cultura. Se aventurou na ficção com "Bilac Vê Estrelas", "Era no Tempo do Rei" e "Os Perigos do Imperador".

Ruy disse que o último romance, protagonizado por dom Pedro 2º e publicado em 2022 pela Companhia, é 80% baseado em informação. "Eu criei uma adolescência que ele poderia ter vivido. Não tenho imaginação para criar personagens."

O escritor chama a atenção para os que ocuparam antes a cadeira que herda, todos pessoas que uniram a palavra à ação.

"Francisco Otaviano foi um diplomata importante, decisivo no Tratado da Tríplice Aliança, e, o que poucos sabem, pioneiro da crônica no Brasil. O Visconde de Taunay, por sua vez, lutou na Guerra do Paraguai e extraiu dela um livro impressionante, 'A Retirada da Laguna'", lista.

"Augusto Meyer ocupou a presidência do Instituto Nacional do Livro por mais de 30 anos e nos deixou cerca de 12 mil bibliotecas -quantos milhões de leitores não terá formado? Francisco de Assis Barbosa, seu sucessor, não apenas ressuscitou Lima Barreto, sepultado desde 1922 sob a acusação de ser um 'escritor de bairro', como escreveu a primeira biografia moderna do Brasil, que foi a de Lima".

Uma lista mais extensa abrange os imortais antigos e mais recentes que Ruy Castro admira e a que agora se junta, como membro da Academia Brasileira de Letras.


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