SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Autor de "Che Guevara: Uma Biografia", o jornalista americano Jon Lee Anderson, que tem ampla experiência em reportagens sobre a América Latina e escreve para a revista New Yorker, conversou recentemente com o presidente Lula (PT).
Em entrevista à reportagem sobre uma história em quadrinhos baseada em sua obra, "Che: Uma Vida Revolucionária", o jornalista falou sobre seu contato com Lula, que ele acredita ser um bom homem com um grande desafio.
"Lula tem um grande trabalho à frente, porque este não é o mesmo Brasil de quando ele foi presidente. Nos anos em que ele esteve fora do governo, houve mudanças imensas no Brasil. A sociedade se tornou mais polarizada e mais violenta. Está pobre de novo. Nunca deixou de ser pobre, mas muitas pessoas que ele ajudou a sair da pobreza estão pobres de novo."
Anderson é crítico ao comportamento de Bolsonaro, condena suas falas armamentistas e diz não aceitar a ideia de que o ex-presidente estava "apenas brincando", como defendiam alguns de seus apoiadores.
"Ele era o líder do país. Infelizmente, em todos os países, a maioria das pessoas tomas seus líderes como exemplos. Isso tem um efeito, não importa se ele disse como uma piada. Você não diz essas coisas se é o líder."
Anderson também mencionou os desgastes à Amazônia durante o governo Bolsonaro. Para ele, Lula terá mais dificuldade para acabar com as queimas na região do que teve em seu primeiro mandato. O jornalista diz que parte da dificuldade é que há muito mais gente oportunista e bolsonarista na região.
O americano diz que, quando conversou com Lula, em janeiro, o presidente estava preocupado com os militares. "Ele podia saber de coisas que eu não sabia e não ter dito, mas eu sabia que ele estava preocupado com até que ponto eles haviam sido comprometidos por Bolsonaro. Está claro agora."
Ele afirma ainda duvidar que as mudanças que Lula realizou na atuação das forças militares tenham sido suficientes para garantir lealdade.
Para o jornalista, Lula está desesperado para se livrar do rótulo de corrupto, mas diz não ter certeza se um dia ele vai conseguir. Ele acredita que Lula seja uma pessoa boa e esteja rodeado de pessoas boas ?apesar de duvidar do PT, que acredita que precisa se modernizar para se parecer mais com um verdadeiro partido político.
"Lula é um bom homem. Acredito que seu coração é bom. Seu orgulho também está em jogo. Ele quer ser lembrado como um homem que ajudou seu país", disse o jornalista. "O país está ferido, e Lula também. Mas espero que dê certo."
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