SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Enfim no Brasil, o cantor português Salvador Sobral, de 33 anos, admira a promessa de uma felicidade possível na terra que lhe deu a música.
Com shows no Rio de Janeiro, Ilhabela e São Paulo, Sobral, que há seis anos venceu o festival Eurovision com votação recorde, diz estar numa alegre histeria, agradecido por estar aqui, se sentindo responsável em converter o público brasileiro à sua música e até com uma síndrome de impostor, de quem não seria digno de tanto carinho do povo mesmo antes dos shows.
Estar no Brasil, ele conta, é também um renascimento, a confirmação de uma nova vida. "Dependi de outra pessoa para sobreviver, o que significou a morte dessa pessoa para que eu sobrevivesse. Isso não é fácil de assimilar", diz ele, por telefone, pouco antes da passagem de som para o show no Rio de Janeiro, na quinta-feira (9).
Em 2018, o cantor foi submetido a um transplante de coração para curar uma insuficiência cardíaca grave. Um ano antes, se tornou o artista lusófono mais conhecido no mundo, sendo o primeiro português a vencer o Eurovision.
Ele interpretava a canção "Amar pelos Dois", composta por sua irmã, Luísa Sobral, e tema da novela da Globo "Tempo de Amar". Agora, casado com a atriz belga Jenna Thiam, viu nascer sua primeira filha, Aïda, anda em turnê pelo mundo todo e, em setembro, lança um novo disco.
"Minha vida daria um documentário na Netflix", ele conta, rindo. "Demorou muito para eu vir para cá, porque os médicos me proibiram de cruzar o oceano. Antes, o novo órgão teve que se adaptar ao corpo, e o corpo ao novo órgão, num processo lento."
Para os shows, Sobral fará uma seleção das canções dos seus cinco discos, acompanhado por André Santos, na guitarra, e Max Agnas, no piano.
Segundo Caetano Veloso, ídolo com quem já dividiu palco, Sobral é um dos maiores cantores que existem e conhece a grandeza da arte, conforme escreveu nas redes sociais.
Em primeiro lugar, o artista se considera um intérprete, sua principal vocação. E gosta de dizer que faz jazz. "Não é tanto pelo gênero, mas pela filosofia de liberdade e risco, criando um canal de comunicação com os músicos e a plateia", ele afirma. "Não há nada mais honesto do que assumir a possibilidade do erro."
Desde o primeiro disco, "Excuse-me", de 2016, que ganharia registro ao vivo um ano depois, Sobral canta em inglês, espanhol e francês. Reunia, então, canções tão díspares quanto "Nem Eu", de Dorival Caymmi, e "Autumn in New York", standard do jazz composto por Vernon Duke.
Ele conta sempre ter tido o desejo de ter reconhecimento internacional, mas cantar em línguas diferentes não teria relação com sua ambição. "Gosto da música para me comunicar, inglês ou francês são só percursos da comunicação, a língua mesmo é a música", diz o cantor.
No álbum "Paris, Lisboa", de 2019, Sobral se inspira numa viagem sem partida ou chegada, com os pontos de união entre a capital francesa e portuguesa. Entre as faixas, está "Presságio", poema musicado de Fernando Pessoa.
"O amor quando se revela/ Não se sabe revelar", diz o início da canção. De fato, a temática lírico-amorosa é um pilar no repertório do artista, que inclui em seu repertório os amores antes desconhecidos, como o de pai e filha.
Nesse sentido, a influência da "chanson française" se tornou determinante para o artista criar uma própria poética. As diferentes gerações da música francesa, dos anos 1950 até a década de 1980, sobrepunham poesia à melodia como poderosa vertente da canção.
Por ser casado com Thiam, Sobral se aproximou do repertório francófono, se apaixonando pela obra monumental da cantora e compositora Barbara e de Jacques Brel, cuja obra lhe serviu de mote para uma turnê em 2020.
"Brel é tudo o que sempre quis fazer na música, a maneira como ele interpreta, as letras, os arranjos, a dramatização e a intensidade. Achava que ele cantava assim porque escrevia as próprias letras, mas estava enganado", afirma Sobral.
Ele conta não ter sentido nada de diferente ao entoar suas próprias letras do disco "bpm", de maior enlevo autobiográfico. "bpm" -assim, em minúsculas- significa batidas por minuto, em alusão ao seu coração. No mesmo disco, lançado em 2021, figuram as canções "medo de estimação" e "sangue do meu sangue", de temática similar.
No ano passado, por fim, Sobral produziu o EP "SAL", de voz e piano, em que inclui sua "Canção para Aïda". "Desde que fiquei saudável, não estou mais tão interessante para a mídia", diz ele. "Agora tenho um público que gosta verdadeiramente da minha música, não é mais todo mundo como em 2017, a plateia diminuiu, mas agora tenho um público fiel."
SALVADOR SOBRAL
Quando Sáb. 12/3; 18h
Onde Sesc Pinheiros - r. Paes Leme, 195, São Paulo
Preço R$ 15 a R$ 50
Classificação Livre
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