SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - O Palácio Tiradentes passará a ser um centro cultural voltado para a democracia brasileira após ter servido por mais de quatro décadas como sede do Legislativo fluminense.
A expectativa é que, em meados deste ano, o espaço seja reinaugurado com dois circuitos expositivos: um para contar a história do regime democrático e outro para tratar sobre a República. Além dessas atrações, haverá salas temáticas dedicadas às constituições do país, à Lei Áurea e ao processo de construção do imóvel.
Atualmente, o Tiradentes não recebe mais atividades legislativas, que foram transferidas em 2021 para o Edifício Lúcio Costa, também localizado no centro do Rio.
O prédio foi projetado pelo arquiteto Henrique Mindlin e inaugurado na década de 1960. Ele recebeu os deputados após três anos e meio de obras e um gasto de cerca de R$ 156 milhões.
A economia e a falta de conforto foram os principais argumentos usados para justificar a mudança. Isso porque os gabinetes dos parlamentares aumentaram com o tempo, de modo que o imóvel já não comportava adequadamente os servidores. Por essa razão, foi preciso alugar salas em prédios do centro para acomodar as equipes, o que gerava custos à máquina pública.
A história do palácio começou em 1631, quando foi construído um edifício para abrigar o Poder Legislativo do Brasil colonial. O prédio servia também como prisão, razão pela qual passou a ser conhecido como Cadeia Velha. No século 18, Tiradentes chegou a ficar preso no local antes de ser executado.
A cadeia, porém, foi demolida em 1922 para dar lugar ao palácio de estilo eclético que seria batizado como Tiradentes em homenagem ao mártir da Inconfidência Mineira. Desde então, o imóvel testemunhou momentos importantes da República, como a posse de Juscelino Kubitschek e a assinatura da Constituição de 1934.
"Essa dimensão histórica, cultural e política do palácio é uma referência que deve ser transmitida à população. Muitos dessas fontes não estão registradas dentro da memória histórica e são contadas sob o olhar dos vencedores, e não dos vencidos", diz Franklin Coelho, coordenador do projeto Casa da Democracia e professor da UFF, a Universidade Federal Fluminense.
De acordo com ele, a ideia é que o centro cultural sirva como um local para recuperar a história de grupos que foram invisibilizados pela historiografia oficial. Como exemplo, ele cita a participação de abolicionistas negros na luta contra a escravidão, como a do jurista Luís Gama.
Além da memória, a tecnologia será outro elemento que vai permear as salas e corredores do Tiradentes. De acordo com o pesquisador, serão usados recursos como hologramas, realidade aumentada e projeções mapeadas para contar a história do Brasil.
Ele salienta que, mesmo com esses recursos, o imóvel continuará tendo lugar de destaque no projeto. "A gente não pode trabalhar a tecnologia de um modo que esconda o palácio. Queremos trabalhar a história de forma lúdica, mas isso tem que ser construído mostrando a beleza dele. Esse foi o nosso primeiro desafio."
Outra missão foi restaurar o palácio, estrutura que conta com 24 esculturas e 706 peças de mobiliário. O trabalho precisou ser meticuloso e foi feito por servidores da Oficina Escola de Conservação e Restauro.
"Nós vivemos um momento em que ficou clara a falta de uma cultura histórica e democrática no país. Transformar o palácio na Casa da Democracia é resgatar essa memória cultural e política e fazer disso uma referência para o Brasil", diz Coelho.
A falta de espaço é uma realidade no Palácio Pedro Ernesto, que ainda abriga a Câmara de Vereadores do Rio. No entanto, ela será transferida para o Edifício Serrador, prédio de estilo art decó que era sede do grupo EBX, comandado por Eike Batista.
A exemplo do que acontecerá com o Palácio Tiradentes, o Pedro Ernesto também se transformará em centro cultural.
"A intenção da Mesa Diretora é abrir o palácio para a população com atividades culturais e a ampliação da visitação que já existe, além de receber exposições e funcionar como sede da Escola do Legislativo Carioca", disse em nota a Câmara, acrescentando que o plenário do imóvel continuará sendo usado para sessões solenes.
Ex-secretário de Planejamento Urbano do Rio, Washington Fajardo vê com bons olhos as mudanças de endereço. "Havia uma necessidade real de criar espaços funcionais melhores para o Legislativo. É importante oferecer boas condições de trabalho ao setor público", diz o arquiteto e urbanista.
No entanto, ele pondera que abandonar plenários históricos pode comprometer aspectos simbólicos ligados à política. "Nesses locais, sentaram-se grandes políticos. A continuidade dessa memória é importante para jovens deputados e vereadores. Esse simbolismo do plenário é relevante para manter tradições vivas", diz ele.
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