SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Quem olha para o História Cabeluda, canal de Gustavo Gaiofato no YouTube, percebe logo de cara que a intenção ali é clara: falar sobre tudo o que acontece no mundo, mas com um viés político. Recentemente, Gaiofato, 29, atingiu os Trending Topics do Twitter ao comentar uma publicação de Whindersson Nunes, em meio às discussões da web sobre o preço da maquiagem de Virgínia Fonseca.

Ouvindo assim, parece tudo uma futilidade só, mas é aí que vem o diferencial do canal, que já tem 250 mil seguidores -e contando. De forma ponderada e educada, o historiador, formado pela USP em 2017, falou sobre o quanto experiência "não é o suficiente para definir um sistema e todas as suas variáveis e complexidades". Foi então chamado de burro pelo ex-marido de Luísa Sonza.

"Ele foi supergrosseiro e mal-educado. Tem um consenso no Twitter que, se você fala de forma educada, meio que já fica pronto para receber xingamento, mas aí cabe o desenvolvimento e a capacidade de reflexão de cada um. A conversa morreu e por mim está de boa", relativiza ele, em entrevista ao F5.

A repercussão sobre a troca de mensagens com Whindersson virou matéria na Folha. "Que pesadelo, o que fiz para merecer isso? (risos) Eu estava sentado vendo último episódio da segunda temporada de 'Alice in Borderland', e recebo mensagem do pessoal me mandando link. Acabou, é isso! Acabou minha paz", brinca.

No início do História Cabeluda, em abril de 2020, Gaiofato procurava disponibilizar vídeos que complementassem a rotina de suas aulas em escolas de ensino médio, com muito senso crítico. Com o auge da pandemia, em junho, houve uma virada de chave, já que o negacionismo em relação à Covid-19 ganhou força. "Passei a fazer conteúdos voltados ao comunismo, de uma forma estudada, embasada, mas ainda pouco politicamente madura. Ao longo dos anos, fomos aprimorando".

De lá para cá, plataformas como Twitch e participações em podcasts potencializaram o alcance do canal, que também tem presença no Instagram, onde atinge mais de 220 mil seguidores. No conteúdo, os vídeos em que Gaiofato reage aos comentários diversos de personalidades, com indicações culturais e educacionais, com informações checadas, dão mais consistência aos conteúdos.

Somente na última semana, por exemplo, o youtuber comentou a opinião de Mano Brown sobre liberdade e um clipe de Natália Arcuri sobre trabalho. "O que me deixa 'P da vida' são discursos ideológicos perversos sobre o trabalhador dizendo que, para ele ficar rico, só depende dele. Isso é de um cinismo absurdo, porque sabemos que há exceções. Tem pessoas que partem de condições diferentes de outros."

Definindo-se como um comunista marxista-leninista, Gaiofato acredita que o processo de aprendizagem, de educação, deve ser o de "superar as máquinas que nos prendem". Por isso, diz priorizar a informação, o trabalho coletivo e o ensino --sem deixar de lado as redes sociais.

Sua rotina tenta mostrar isso: além de dar aulas em duas escolas, faz três lives por semana, estuda francês e russo, além de participar de rodas de palestras nos finais de semana. "Enquanto não vencermos, nossos inimigos vão continuar vencendo. Enquanto a gente não se mobilizar e se retirar do conformismo da imobilidade, nem os mortos vão estar em paz", acredita ele.


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