SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Pela primeira vez, as livrarias virtuais foram responsáveis por uma fatia maior do faturamento das editoras brasileiras com a venda de livros do que as lojas físicas.

É o que mostra a pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial divulgada nesta quinta, realizada pela consultoria Nielsen em parceria com o Sindicato Nacional dos Editores de Livros e a Câmara Brasileira do Livro.

É o levantamento mais abrangente da indústria, um retrato que alcança todas as vendas realizadas pelo mercado olhando pelo lado da produção das editoras, não pelo consumo no varejo -já esmiuçado em pesquisa divulgada em janeiro.

As lojas virtuais responderam por 35,2% do faturamento de livros no ano, um salto significativo em relação aos 30% de 2021. As livrarias físicas caíram de 30% para 26,6%.

"Os anos de 2021 e 2022 foram uma acomodação do período da pandemia, quando as pessoas se viram obrigadas a comprar de maneira virtual", afirma Sevani Matos, presidente da Câmara Brasileira do Livro. "E é um reflexo também da falta de livrarias em muitos municípios brasileiros."

Quando se fala de obras gerais, categoria que abrange por exemplo os livros de ficção, a participação das plataformas exclusivamente digitais como Amazon e Submarino é ainda mais estrondosa -chega à metade de toda a receita.

Uma situação parecida acontece para obras da categoria CTP, ou seja, de livros técnicos e profissionais. São livros didáticos e religiosos que ainda seguram a venda das lojas físicas.

Se isso é motivo de preocupação ou euforia, depende do profissional para quem você pergunta, diz Dante Cid, presidente do sindicato das editoras. "A concentração em um único canal nunca é saudável, ninguém gosta de dependência. A vitrine da livraria física é muito importante, queremos mais e mais livrarias. O mais saudável é que haja distribuição entre diversos canais e ainda mais vitrines para lançamentos."

O mercado como um todo teve uma queda real de 2,6% no faturamento do ano, quando corrigido pela inflação. Dois terços do faturamento de 5,5 bilhões foi para o mercado e um terço em vendas para o governo.

A redução do faturamento foi puxado pelo governo, que ainda na gestão de Jair Bolsonaro comprou 37% menos exemplares de livros didáticos em relação a 2021.

Era uma redução esperada, segundo a consultora Mariana Bueno, responsável pela pesquisa. "Estamos olhando para o que o governo efetivamente pagou para as editoras. O governo divide o pagamento ao longo do ano, e pagou muito pouquinho do PNLD 2023, contratado em 2022. Por isso a redução do montante."

A produção do setor como um todo foi reduzida, com 17% menos exemplares produzidos. As vendas ao mercado tiveram um crescimento nominal de 3%, algo mais consequência do aumento de preços do que do número exemplares vendidos.

Feiras de livros e bienais pela primeira vez aparecem entre os cinco principais canais de venda para editoras voltadas ao público geral -algo que os envolvidos na pesquisa atribuíram ao desempenho excepcional da Bienal do Livro de São Paulo, em julho do ano passado.

A venda de conteúdo digital teve um salto de 28%, impulsionada pela inserção inédita dos livros didáticos, que passaram a ser incluídos na pesquisa desta área após entrarem de vez no mercado. Representam, contudo, apenas 6% do faturamento total do mercado.

A grande maioria do faturamento desse tipo de conteúdo é por ebooks, mas audiolivros têm participação relevante, em especial no mercado de não ficção.


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