SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Na manhã de sexta-feira (9), Antônio Bispo, uma das maiores lideranças quilombolas do Brasil, falou para uma tenda cheia sobre "A Terra Dá, a Terra Quer", seu novo livro lançado pela editora Ubu. O autor repetiu à exaustão o mote do título e se demorou em sua explicação, permeado pela ideia de que pessoas devem se relacionar com o ambiente e não apenas preservá-lo.

As falas do quilombola em nada pareciam com palestras universitárias -e ele mesmo fez questão de diferenciar seus saberes, que ele considera "orgânicos", daqueles chamados de científicos, para ele, "sintéticos".

Nem por isso eram menos complexas ou de fácil compreensão. Entre uma série de frases feitas, recebidas com muitos aplausos por uma plateia risonha e animada, ele disse que pessoas não cuidam do ambiente, mas o ambiente que cuida delas; que aqueles que querem consertar a floresta nem sequer consertaram a cidade; e que as pessoas leem Karl Marx, mas não conversam com suas avós.

A mesa traduziu para os saberes populares brasileiros uma série de discussões associadas à tradição intelectual decolonialista, rótulo em voga há alguns anos, mas recusado pelo autor.

Ele prefere pensar em termos contracoloniais -e acredita que indígenas e quilombolas se encaixam nessa categoria por jamais terem se deixado colonizar, de forma que seria impossível que se descolonizassem. A plateia foi à loucura.

Bispo não deixou barato. Ele chamou a ex-presidente Dilma Rousseff de colonialista por não conduzir uma comissão da verdade direcionada aos quilombolas e, embora diga que o contracolonialismo não implica a eliminação do colonizador, afirmou que não se importaria em fazer uma vaquinha para pagar as passagens para que fossem embora do país.

A tarde no auditório reservou uma toada bem mais sóbria, mas ainda centrada nos povos e saberes originários. Os antropólogos Aparecida Vilaça e Pedro Cesarino e a escritora Rita Carelli discutiram suas produções recentes de ficção permeada pela cosmologia indígena -um desafio que esbarra em questões como apropriação cultural e local de fala.

Embora o Brasil esteja em meio à votação do marco temporal no Supremo Tribunal Federal, Cesarino diz que a literatura não precisa ser convocada a responder a problemas civilizatórios. O autor diferencia a literatura da antropologia pelo rigor necessário à segunda.

Vilaça diz que existe uma cobrança por um tom de denúncia quando se fala em arte feita sobre indígenas, mas afirma tentar falar do assunto a partir da inventividade dos povos sobre os quais escreve em "Ficções Amazônicas".

Ela afirma que a arte tem o papel de sensibilizar o público para as questões sociais e políticas relativas aos indígenas, mas com uma linguagem e olhar diferentes da etnografia. Carelli, com o romance de formação "Terrapreta", diz ver na protagonista jovem, urbana e de classe média um avatar para que os leitores adentrem a Amazônia.

"A ficção tem um grande poder politico. Nossos trabalhos acadêmicos são restritos, a leitura é por um público muito pequeno", diz Vilaça. "Para defender [os povos indígenas] precisa conhecer, precisa gostar."

No Espaço Folhinha, foi a vez das ciências na tarde desta sexta. O colunista da Folha Salvador Nogueira, autor do blog Mensageiro Sideral, sanou algumas das grandes questões da humanidade para os pequenos -por que o céu é azul, se existe vida em outros planetas e para que servem as injeções foram algumas delas.

Sob fitas de cetim coloridas que decoram a tenda, os curiosos mirins levantaram os dedinhos na primeira oportunidade para questionar o cientista. Eles aprenderam tudo sobre o tamanho das ondas de luz, sobre por que algumas estrelas são mais brilhantes do que outras e, para o terror dos pais e mães, sobre como se tornar astronauta.

Aliás, a história da cachorra Laika, primeira enviada ao espaço sideral e morta em órbita, foi recebida com seriedade pelo jovem público.


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