SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Foi só o jornalista Carlos Tramontina, 67, se desligar da Globo, em abril de 2022, para que a empresa onde trabalhou por mais de 40 anos começasse a demitir medalhões do jornalismo, esporte e dramaturgia. O apresentador saiu "em comum acordo" com a emissora e agora inicia uma nova fase à frente de dois podcasts, trazendo consigo uma certeza: ninguém pode se considerar eterno na TV.

"Noto que a emissora iria se rejuvenescer. É do jogo. Não podemos achar que seremos eternos. Depois do confinamento da Covid eu mesmo comecei a me perguntar até quando o canal iria me querer, se não estava na hora de eu experimentar outros caminhos", diz ele à reportagem.

No próximo dia 15, o jornalista estreia o Tramonta News, podcast dos Estúdios Flow onde poderá "conversar, e não mais ler textos". E engana-se quem pensa que ele se preocupa com um possível cancelamento pelas opiniões que possa dar ao vivo.

"Não sou ligado a partido político, nunca fui, não sou petista nem bolsonarista, eu sou realista, o que tiver que falar sobre política, comportamento e decisões de autoridades ou grupos, eu vou falar", afirma o jornalista, que comemora outra novidade em sua vida: a chance de tirar 15 dias de folga para fazer uma viagem em família, algo inimaginável ao longo de seus 43 anos na TV aberta. "Não conhecia o mundo fora da Globo até sair dela."

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PERGUNTA - Foi difícil tomar a decisão de sair da empresa onde você trabalhou por tanto tempo?

CARLOS TRAMONTINA - Quando eu procurei a direção, minha saída até o fim daquele ano era algo consolidado na minha mente. Eu os procurei no final de janeiro de 2022 e me foi dito que eu ficaria até abril. Acabei saindo dia 2 de maio oficialmente. Foi um movimento tranquilo e em alto nível.

P - Teve medo de ser demitido antes de sair por conta própria?

C. T. - Aqui cabe um esclarecimento: Quando me consolidou a ideia de que poderia sair, não tinha medo de ser demitido, mesmo porque minha saída veio numa fase em que não havia muitas demissões. Antes de mim saiu o Alberto Gaspar. O Chico Pinheiro saiu na mesma semana que eu, então não existia medo. TV aberta está buscando um novo público, uma nova forma de falar. Quem achar que vai ficar para sempre na tela esta completamente equivocado. Eu sempre recebi propostas para fazer outras demandas e nunca pude, pois tinha compromissos com a empresa. Agora [em podcast] eu converso, não leio mais textos, isso faz toda diferença, muda a dinâmica do encontro.

P - Como são seus podcasts?

C. T. - Estreei o Portas Abertas, um podcast onde entrevisto um convidado, que pode ser celebridade ou não, uma autoridade ou não, pessoa conhecida ou não, mas que tenha histórias, experiências, aventuras e emoções vividas. E no dia 15 de junho começo o Tramonta News: eu e um convidado comentamos notícias e acontecimentos, não necessariamente do dia, mas assuntos relevantes e de interesse. Tudo é possível num podcast. O primeiro vai ao ar às terças, às 16h, e o segundo às quintas, 16h [no canal do YouTube Flow News].

P - Podcasts geralmente têm audiência de um público mais jovem. Não teme ser encarado como um 'tiozão'?

C. T. - Num primeiro momento, sim (risos), o tiozão da galera, pois tenho 67 anos. E recentemente teve aquela história do meme '6 e ônibus' que foi adotado pelos jovens e hoje nas ruas as pessoas não me reconhecem como Tramontina da Globo, mas o Tramontina do '6 e ônibus'. Fui à CCXP e era parado para fazer foto por causa desse meme. Então, se por um lado tenho uma certa idade e estou muito à frente de quem está inserido nesse ramo de podcasts, por outro é uma descoberta.

P - E um possível cancelamento pela sua opinião, te aflige?

C. T. - Penso nisso, sim, não teria como não pensar, mas também não tenho medo. Não sou ligado a partido político, nunca fui, não sou petista nem bolsonarista, eu sou realista, o que tiver que falar sobre política, comportamento e decisões de autoridades ou grupos, eu vou falar. Só que sei que devo evitar ao máximo os adjetivos, pois eles muitas vezes distorcem e entortam o raciocínio. Falar o que penso tendo como base os fatos, não é o problema. Alguns vão achar bom, outros não, e isso é parte do jogo.

P - É um grande desafio profissional, não?

C.T. - Talvez o maior da minha carreira. Fiquei 43 anos na Globo e passei a dominar a técnica e a conhecer com profundidade as características do meu trabalho. Mas em podcast eu literalmente tiro uma roupa e visto outra. Tive até que comprar roupas esportivas, pois só tinha ternos. Cheguei a ter 11 deles em uso e não os repetia. Camisas sociais brancas eu tenho 10, centenas de gravatas. Mas isso virou passado. Agora é só camiseta, bermuda e sapatênis.

P - Não são raros os casos de pessoas que decidem traçar outros rumos na carreira e veem a vida mudar como um todo. Aconteceu com você?

C. T. - Sim. Voltei recentemente da Califórnia onde fui ver minha irmã, e daqui a dois meses vou com meus filhos, minha mulher e a netinha para outra viagem de 15 dias. Agora tenho liberdade, uma qualidade de vida muito melhor. E os ternos estão guardados para eventos oficiais. Me desfiz de alguns, dei uma renovada. Refiz meu guarda-roupa. Não conhecia o mundo fora da Globo até sair dela.


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