SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Cerca de 20 barracas já estavam montadas próximas à bilheteria do Allianz Parque na manhã de terça-feira (13), horas após Taylor Swift confirmar mais um show em São Paulo e outro no Rio de Janeiro. Oito eram de fãs, enquanto 12 pertenciam a cambistas que não conseguiram comprar ingressos na segunda-feira (12).

O início da semana foi marcado pelo rápido esgotamento de ingressos online e presencialmente -motivo pelo qual o Procon notificou e pediu esclarecimentos à TF4, produtora responsável pelas apresentações da cantora americana no Brasil em novembro.

Uma mulher que se identificou como cambista conversava de forma tranquila com uma fã, que questionou quantos cambistas tinham em cada barraca. Segundo ela, cada uma estava ocupada por seis pessoas. Ela argumentou que, assim como a fã, teve dificuldades para comprar ingressos pelo site.

"Todo mundo só quer pegar seu ingressinho e ir embora", diz Naiara da Silva, de 33 anos, que se identificou como cambista e divide uma barraca com duas amigas. Sua mãe, diz, também era cambista. "É geracional. Meus pais trabalhavam com ingresso, e agora eu e minha irmã estamos no negócio. A polícia que vem aqui me conhece desde que eu estava na barriga da minha mãe."

Um homem que preferiu não se identificar conta que está acampado desde domingo (11). Ele também trabalha com ingressos de jogo de futebol. Seu cliente da vez, diz, é uma pessoa que quer ir ao show, mas não tem disponibilidade para a fila.

Segundo os cambistas ouvidos pela Folha, a atividade é ramificada. Enquanto alguns respondem a compradores diretos, inclusive fãs, outros respondem a outros cambistas que, mais tarde, irão revender todos os ingressos comprados pelos seus subordinados a preços mais altos.

Ambas as ações são ilegais e passíveis de enquadramentos pela polícia e pelo Ministério Público, de acordo com a assessoria jurídica do Procon. No caso de venda a preços inflacionados, a lei prevê punição de seis meses a dois anos de prisão e multa.

Naiara afirmou que recebe R$ 100 por dia para ficar na fila do ingresso, mais o valor de despesas com alimentação. Os repasses são feitos por uma fã, segundo ela. "Eu não tenho dinheiro para me bancar aqui até revender o ingresso. Tenho uma filha de 9 anos", diz. "A gente vende conforto para o cliente que não quer estar aqui."

Ela afirma que há brigas não só entre cambistas e fãs, mas entre cambistas também -às vezes, diz, alguns que estão na frente de outros querem que seus colegas furem a fila para se juntarem a eles. "Aqui é tiro, porrada e bomba. Mas ninguém pode passar na frente de ninguém. É uma leizinha nossa aqui para organizar."

Uma amiga de Naiara, que preferiu não se identificar, diz que ser cambista é um bico que faz junto com o trabalho de costureira há 15 anos para sustentar as duas filhas de 8 e 13 anos. As três moram em Guaianazes, na zona leste da cidade.

Segundo a mulher, os cambistas que revendem ingressos superfaturados na internet são aqueles que têm dinheiro para contratar subordinados ou usar robôs no site oficial de vendas. Contatado pela Folha por WhatsApp, um cambista afirmou que pretende revender os ingressos do show a R$ 2.000, mas, na internet, os valores ultrapassam R$ 6.000.

Também contratada por uma fã, a mulher afirma que irá ganhar R$ 300 se conseguisse o ingresso para o show de Taylor Swift. Mas reclama do cansaço e diz que, se conseguisse um emprego de carteira assinada, largaria o negócio. No final de semana, ela estava em Campos de Jordão, revendendo ingressos de baladas durante o feriado de Corpus Christi.

Ao serem questionadas sobre os relatos de agressão contra fãs, elas disseram querer paz, mas que sempre tem algum deles que cria encrenca. A quantidade de cambistas na fila em frente ao Estádio levou a deputada Erika Hilton, do PSOL, a pedir que o Ministério Público investigue a produtora T4F.

Taylor Swift se apresenta no Rio de Janeiro nos dias 18 e 19 de novembro. Depois, segue para São Paulo, onde os shows estão marcados para os dias 24, 25 e 26 do mesmo mês.


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