SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A próxima Bienal de Veneza será uma celebração de artistas estrangeiros, outsiders, queer e indígenas, afirmou nesta quinta-feira (22) Adriano Pedrosa, o curador da próxima edição da mostra de arte mais tradicional do mundo.
O tema da 60ª edição da exposição, que acontece entre 20 de abril e 24 de novembro de 2024, foi apresentado em entrevista para a imprensa em Veneza. Esta bienal é intitulada "Foreigners Everywhere", ou estrangeiros em todos os lugares.
O título veio de uma série de trabalhos iniciados em 2004 pelo coletivo parisiense Claire Fontaine, atualmente baseado em Palermo, na Itália. Trata-se de um conjunto de esculturas em neon em diferentes cores com o termo "foreigners everywhere" escrito em várias línguas, uma ideia derivada do nome de um coletivo anarquista de Turim chamado "stranieri ovunque", ou estrangeiros em todos os lugares em italiano.
Tal coletivo lutava contra a xenofobia e o racismo na Itália no início do século 21, contou Pedrosa, acrescentando que o pano de fundo desta obra de arte é um mundo com múltiplas crises em torno do movimento e da existência de pessoas entre países, territórios e fronteiras.
Neste contexto, Pedrosa destacou que a expressão estrangeiros em todos os lugares tem um duplo sentido, que deverá ser expresso nas obras da bienal. Primeiro, o de que onde se vá ou se esteja, se encontrará estrangeiros. Segundo, o de que independente de onde você esteja, você sempre será um estrangeiro você mesmo.
"A Bienal 2024 terá como foco artistas que são eles próprios estrangeiros, imigrantes, expatriados, diaspóricos, emigrados, exilados e refugiados ?especialmente aqueles que se deslocaram entre o Sul Global e o Norte Global", disse Pedrosa.
"A exposição se concentra na produção de assuntos afins: o artista queer, que transitou por diferentes sexualidades e gêneros, muitas vezes sendo perseguido ou banido; o artista outsider, que se situa à margem do mundo da arte, assim como o autodidata e o chamado artista popular; e o artista indígena, frequentemente tratado como estrangeiro em sua própria terra", acrescentou.
Pedrosa, diretor artístico do Masp, o Museu de Arte de São Paulo, é o primeiro curador da América Latina a encabeçar a Bienal de Veneza nos mais de 120 anos da mostra. Com uma pesquisa baseada em artistas latinos, ele afirmou que haverá muitos artistas da América do Sul na sua seleção, que deve contar com pouco mais de 200 nomes ao todo. Entre 60% e 70% dos artistas já foram escolhidos, mas a lista só será divulgada em fevereiro do ano que vem.
Os artistas serão divididos em um núcleo contemporâneo e em um núcleo histórico, cada um deles com mais ou menos cem nomes. A seção histórica terá uma parte dedicada a artistas italianos da diáspora no século 20, que desenvolveram suas carreiras na África, Ásia, América Latina e em países da Europa.
Ao responder à uma pergunta de um jornalista, Pedrosa afirmou que a bienal terá uma conotação política, mas reforçou que questões formais nas obras de arte não serão deixadas de lado. Ele disse ainda que procura fazer uma seleção que equilibre trabalhos em diversas mídias.
Na direção do Masp desde 2014, Pedrosa foi responsável por remontar a coleção permanente do museu usando versões atualizadas dos cavaletes de vidro concebidos pela arquiteta Lina Bo Bardi. Ele realizou mostras individuais dedicadas ao trabalho de Tarsila do Amaral, Anna Bella Geiger, Ione Saldanha, Maria Auxiliadora, Gertrudes Altschul, Beatriz Milhazes, Wanda Pimentel e Hélio Oiticica.
Pedrosa foi curador adjunto da 24ª Bienal de São Paulo (1998), curador responsável pelas exposições e coleções do Museu de Arte da Pampulha de Belo Horizonte (2000 - 2003), cocurador da 27ª Bienal de São Paulo (2006), curador do InSite_05 (San Diego Museum of Art e Centro Cultural Tijuana, 2005), curador do 31º Panorama da Arte Brasileira (Museu de Arte Moderna, São Paulo, 2009), cocurador da 12ª Bienal de Istambul e curador do pavilhão de São Paulo na 9ª Bienal de Xangai (2012).
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