SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 - Os integrantes do Teatro Oficina já estão prontos para continuar a briga que o dramaturgo Zé Celso, morto nesta quinta-feira (6) aos 86 anos, manteve com o apresentador Silvio Santos por mais de 40 anos.

O ator Marcelo Drummond, que viveu com Zé Celso durante 37 anos e com ele se casou um mês atrás, vai assumir a presidência da associação que dirige o Oficina. Um novo nome vai ser escolhido para ocupar a vice-presidência da companhia.

Drummond ainda não se pronunciou sobre a disputa com o dono do SBT, mas outros integrantes do grupo teatral indicaram o caminho a ser tomado. "Silvio Santos tinha um inimigo. Agora, ele tem vários inimigos", diz Ricardo Bittencourt, ator do Oficina, que morava com o casal e também foi internado após o incêndio que consumiu o imóvel na madrugada de terça-feira (4).

A disputa entre Silvio Santos e o Oficina envolve o terreno localizado entre as ruas Jaceguai, Abolição, Japurá e Santo Amaro, no Bexiga, na região central de São Paulo. Ele pertence há quatro décadas ao apresentador, que pretendia construir ali três torres residenciais de até cem metros cada.

Sucessivos tombamentos do teatro, contudo, impedem o empresário de seguir em frente. O primeiro, na esfera estadual, data de 1982. Depois, veio o órgão municipal e, neste século, o federal.

Zé Celso sempre desejou ver no local o que ele chamava de Parque Teatro do Rio Bexiga. O ator Pascoal da Conceição ainda acredita que Silvio poderá mudar de comportamento. "Silvio Santos vai se comover e vai entregar o terreno para a cidade. Zé dizia que Silvio foi um adversário, não um inimigo, que o provocava para que melhorasse seu próprio raciocínio", afirma.

O SBT divulgou uma nota de pesar pela morte de Zé Celso, qualificado pela emissora como um dos nomes mais importantes da dramaturgia brasileira. No texto, não há menção à disputa pelo terreno, e o Grupo Silvio Santos não quis se pronunciar sobre o imbróglio. Quem conhece Silvio não aposta em uma mudança de atitude.

No momento, há ao menos duas ações que concentram, neste momento, a atenção de Camila Mota, diretora-executiva do Oficina. Uma delas dispõe sobre a intimação que Zé Celso recebeu no dia da cerimônia de casamento, ocorrida na sede do teatro em junho.

O artista havia recebido um ipê de presente das atrizes Fernanda Montenegro e Fernanda Torres e disse que o plantaria naquele espaço. Temendo a descaracterização do local, o Grupo Silvio Santos entrou com uma liminar para impedir a ação.

"A briga judicial entra num outro momento. Não é interessante essa coisa de Zé Celso versus Silvio Santos. É uma disputa entre o público e o privado", diz Mota. Dias depois do casamento, os integrantes do Oficina se reuniram em uma assembleia. Discutiram, na ocasião, o futuro da companhia. Mota deixou de ser a vice-presidente, dando lugar a Drummond, num gesto tido como uma passagem de bastão.

Sob o aspecto artístico, Mota afirma que o Oficina encontrará o desafio de manter a linguagem estabelecida pelos seus fundadores. A tendência, ela conta, será estabelecer uma convivência entre vários diretores formados por Zé Celso.

A falta de financiamento, contudo, permanece. "Se o orçamento piorar, será uma calamidade. Desejo ao menos que essa morte do Zé sirva de um chacoalhão nas pessoas, não só para o Oficina, mas para que o teatro possa continuar existindo", diz


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