SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Tico Santa Cruz já criticou os políticos, as mulheres dos políticos (Michelle Bolsonaro), o kit gay, o preconceito contra as minorias, manifestou-se contra tudo aquilo com o qual ele não concorda. Seja em suas músicas ou em entrevistas, o vocalista do Detonautas nunca foi de deixar de explanar suas convicções ideológicas e sociológicas -agora isso mudou.
Ele está numa fase "Tiquinho Paz e Amor", e isso se reflete na música da banda de rock, que completou duas décadas no ano passado. Para dar início oficialmente às celebrações, o grupo divulga, na noite desta quinta-feira (27), o primeiro volume do projeto acústico, com quatro faixas - uma delas, a inédita "Aposta".
A canção, que emula o rock grudento e característico do grupo nos anos 2000, mostra um Detonautas preocupado em ser mais apaziguador, com frases como "Eu tô na contramão do mundo, tô apostando no amor" e "se querem ódio, eu só dou amor".
No fim, a faixa parece um aviso do próprio vocalista sobre sua nova fase. E de fato é. Em entrevista por vídeo à reportagem, Tico conta que "Aposta" é uma grande "revisão interna", sobre postura e questões sobre o mundo. "É uma busca de encontrar um espaço interno que eu possa me sentir bem e me afastar".
Tico reforça que tem buscado evitar qualquer tipo de debate -nas redes sociais, outrora recheada de protestos, as publicações agora são apenas sobre a banda, agenda de shows e projetos. Para ele, o Twitter é um lugar de "muita poluição e disputa por holofote".
É isso o que o novo Tico não quer mais para si. "Estou justamente no caminho contrário, saindo do holofote e o colocando na arte, na música."
Ele conta que essa decisão partiu depois de muita terapia. Na avaliação do músico, a psicanálise o tem ajudado a entender o por que de ele ter se envolvido em tantos conflitos. A resposta? Ainda em construção. "Mas tenho certeza que isso vai se refletir nas minhas letras."
Em "Aposta", engana-se, no entanto, que os Detonautas tenham abandona completamente o discurso político. Em outro trecho, Tico solta a frase "eu tenho afeto, democracia na sua ditadura". Segundo o vocalista, a letra surgiu ainda no período do governo Bolsonaro. Mesmo com a mudança de gestão, a frase seguiu em sua cabeça.
Por isso, antes de finalizar a faixa, o artista até se questionou se ela deveria seguir ali. Até que, então, veio a conclusão: "A gente sempre tem que estar atento a qualquer tipo de ditadura", afirma. "Seja ela de comportamentos, de política, de pensamento...". Por isso, decidiu mantê-la.
O passado das letras com discurso raivoso ficou para trás, garante. "Elas geraram um desgaste muito grande meu e do Detonautas", avalia. "Quero me afastar disso tudo, não da minha obra e do que escrevi, mas vou ficar atento a como as questões são conduzidas. E não se trata só de opinião política."
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