SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - "Uma drag queen com banda." Foi assim que Pabllo Vittar comunicou aos seus mais de 12 milhões de seguidores no Instagram que estava se preparando para o show que fará no último dia do The Town. Quem está acostumado com as apresentações da artista pode se surpreender com o formato criado para o festival.
A notícia de que a cantora subirá ao palco acompanhada de uma banda completa, com direito a percussão e metais, foi recebida com entusiasmo. O repertório atravessa as diferentes fases de sua carreira, incluindo os maiores sucessos, mas também destaca a discografia das convidadas Jup do Bairro e Liniker. Além disso, Vittar deve estrear figurinos, coreografias e projeções inéditas.
Os ensaios para o show começaram em julho, antes de Vittar fazer uma turnê na Europa entre o final de agosto e o início de setembro. Depois do festival paulistano, ela deve fazer uma residência de quase um mês na América do Norte, onde dividirá o palco com a canadense Alice Glass, ex-Crystal Castles, e a sueca Cobrah.
No exterior, a cantora dialoga principalmente com a cena queer eletrônica, muito menos pop do que a realidade brasileira. Já no Brasil, Vittar foi alçada ao estrelato no meio da década passada justamente pelo som chiclete, com uma mistura de referências. Em seu quinto disco, "Noitada", lançado em fevereiro, ela demonstra maturidade ao cantar sobre os prazeres do hedonismo de forma explícita.
A mudança surgiu depois que a artista se conectou com a noite paulistana. Influenciada pela liberdade das madrugadas nas pistas de dança, ela apresenta uma faceta diferente. "Estou chegando aos 30 anos, e meu público também amadureceu. Não canto nada diferente do que as pessoas já escutam", diz.
O disco de remixes "After", lançado em julho, foi costurado na noite de lançamento do antecessor. Após beber alguns drinques a mais, Jup do Bairro conta que tomou coragem para pedir uma colaboração com Vittar. A parceria foi concretizada em "Descontrolada", que na primeira versão foi gravada com MC Carol.
"Sempre faço uma seleção de convidados visando a galera da comunidade LGBTQIA+, pessoas que não têm tanta visibilidade. Eu queria alguém que tivesse a potência da Carol para estar no remix, então Jup traz essa força", diz a cantora.
O álbum de remixes tem ainda colaborações com DJs e artistas de nicho, como a drag queen Frimes, as funkeiras MC Naninha e Irmãs de Pau, além dos DJs Cyberkillz, RHR e Delcu.
Com um disco lançado, "Corpo Sem Juízo", de 2020, a paulistana Jup do Bairro representa uma ponte com a cena underground eletrônica. Travesti e periférica, ela conta que teve total autonomia na composição. "Falei para terem cuidado com a liberdade que me dão. Eu queria usar os palavrões e a sexualização do meu corpo para falar sobre vontades e desejos, algo que ainda é um tabu", diz ela.
Por meio de uma visão mais solar, Liniker também aborda afetos e relacionamentos a partir da vivência de uma artista travesti. Seu primeiro disco solo, "Indigo Borboleta Anil", de 2021, venceu o Grammy Latino de melhor álbum de música popular brasileira.
O encontro no The Town une três talentos que transformaram a cena da música pop na virada de década. "Cantar com Pabllo e Jup é uma alegria imensa. Será um dia histórico", diz Liniker, que conheceu Pabllo quando tocava acompanhada dos Caramelows.
Liniker desembarcou em Uberlândia, cidade onde Vittar passou a adolescência, e no camarim da casa de show foi apresentada à drag queen, que tinha viralizado com "Open Bar" naquele ano de 2015.
Já Jup do Bairro surgiu na trajetória de Liniker durante as gravações do disco "Pajubá", de 2017. No meio tempo, a amizade se intensificou, mas elas nunca conseguiram tirar o plano da parceria do papel até o convite do The Town, algo que elas acreditam que seria impensável poucos anos atrás.
Isso porque a indústria da música insistia em incluir artistas com identidades musicais distintas no mesmo guarda-chuva da "música LGBTQIA+".
A apresentação representa um marco mesmo na carreira de Vittar, que tem, entre as três, a maior expressividade nas plataformas de streaming. Hoje, ela soma cerca de três milhões de ouvintes mensais no Spotify.
É que nas últimas edições do Rock in Rio, festival dos mesmos organizadores do The Town, Vittar surpreendeu o público ao aparecer nos shows da cantora americana Fergie e da britânica Rita Ora. Sem ter, no entanto, um show para chamar de seu.
Agora, Vittar diz que chegou a sua hora de brilhar. Mas não sozinha. Para ela, a apresentação vai refletir a potência da arte criada pelas comunidades que fogem à normatividade.
PABLLO VITTAR CONVIDA LINIKER E JUP DO BAIRRO NO THE TOWN
- Quando Dom. (10), às 17h10
- Onde Palco The One
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